sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

FIM

O ano chegou ao fim e também este blogue, uma vez cumprido o seu propósito.
Quando há um ano falei desta ideia à Emília e ao Miguel pensava que iria escrever menos, que surgiriam outros contributos, comentários, informações complementares. Mas a partir da lista de actividades que iniciei e que o Miguel foi completando até há poucos dias (teve sempre o dom de pegar nas minhas ideias e de me ajudar a objectivar, sistematizar e concretizar), a informação parecia não ter fim, e eu próprio me surpreendi com a quantidade de eventos sobre os quais comecei a escrever.
Ainda mostrei os primeiros textos antes de os publicar, mas depois o ritmo apertou e continuei num trabalho quase solitário, na maior parte das vezes feito noite dentro. Ao contrário do que previa, escrevi muitas vezes na 1ª pessoa do singular, assumindo que esta era, entre muitas outras possíveis, uma leitura sobre a história do coro e a minha forma de fazer memória.
Escrevi também sobre as pessoas que foram cruciais no desenvolvimento do coro, e até sobre pessoas, instituições e acontecimentos exteriores que constituíram forte referência para nós, e por isso humildemente acato que o post anterior tenha sido incluído, sem prévio aviso, pelas duas outras pessoas que têm acesso ao editor do blogue. Confesso que me assustei, mas agradeço-lhes do fundo do coração o seu gesto, como agradeço a todos aqueles cujo nome não aparece nestas páginas, e que contribuíram para que o coro fosse aquilo que foi, desde coralistas, a reforços, mecenas e amigos. Deixo a amizade no fim, porque, quando verdadeira, é o que permanece depois de tudo o resto, e se o fim do coro teve alguma vantagem foi a de perceber a quantidade e sobretudo a qualidade dos nossos amigos.
Pude confirmar, ao longo do ano, até pelos muitos ecos que me chegaram sem ser pelos comentários ao blogue, que o Coro de Santa Maria de Belém constituiu efectivamente uma experiência muito singular, a vários níveis (musical, litúrgico, humano…) e conseguiu uma convergência de pessoas e vontades impossível de repetir.
Com o fim do coro muitas pessoas me propuseram retomar a actividade noutra igreja e manter o grupo, ao que fui sempre respondendo que esta experiência em concreto era irrepetível, uma vez pensada e desenvolvida em função de um espaço concreto e numa tal convergência de condições. Mas o mínimo que se impunha era fazer memória e não arrumar para um canto esta história da mesma forma com que se quis arrumar para um canto este projecto.
Também se poderia esperar que este blogue fosse um ajuste de contas ou que pretendesse aqui fazer a moral da história. Mas está tudo escrito, a obra fala por si, e não há mais nada a reclamar a quem quer que seja.
O blogue tem uma leitura diacrónica (quase 20 anos de actividade) e uma escrita sincrónica (20 anos condensados num ano). Está feito e não haverá mais publicações.
Com tempo será feita a revisão dos textos, e elementos ilustrativos. A publicação em suporte de papel é uma hipótese a considerar mas o blogue é, por definição, para ser visto aqui, enquanto possível.
Espero que este contributo, como a própria história do Coro de Santa Maria de Belém, possa constituir uma oportunidade de interrogação sobre o papel da Música na vida cultual e cultural da Igreja e na sua missão evangelizadora neste tempo que é o nosso. Uma interrogação despida de preconceitos, moralismos e conveniências, que permita a cada um, ao nível das suas responsabilidades, perceber o que deixa para a história.

PS: As estatísticas disponíveis sobre este blogue dizem-nos, à data de hoje, que o nº total de visualizações de páginas de Maio a Dezembro foi de 6 086. No mesmo período, as mensagens mais vistas foram sobre 'Vestes corais' (351 visualizações), 'Ferreira dos Santos' (117) e 'O lugar do coro' (82). Considerando ainda as visualizações por país, temos: Portugal 4 862, Brasil 577, Estados Unidos 206, França 62, Espanha 45
Holanda 37, Canadá 31, Eslováquia 28, Alemanha 25 e Reino Unido 22.

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Fernando Pinto


Este blog, em que se foi narrando ao ritmo do calendário aquela que foi a actividade de quase 19 anos do Coro de Santa Maria de Belém, foi uma iniciativa de Fernando Pinto, director do coro durante toda a sua existência, iniciativa essa que partilhou com Emília Alves da Silva e Miguel Farinha.

Além da divulgação das muitas actividades (celebrações litúrgicas, concertos, digressões, cursos diversos e outros projectos), o blog serviu também para lembrar aqueles que tiveram particular destaque na vida do CSMB. Deste modo, chegados ao final do ano e depois de, ao longo dele, termos percorrido os momentos mais marcantes na vida do coro, achámos que este era o momento adequado para lembrar aquele que foi a alma e o motor da actividade do coro durante toda a sua vida – Fernando Pinto (e com isto, tornar este verdadeiramente o penúltimo post neste blog).

Dotado de uma enorme capacidade de trabalho e um espírito de iniciativa capaz de fazer inveja a muita gente, aliados a uma grande frontalidade (para muitos, mais partidários de “falinhas mansas” e “intrigas de corredor”, porventura incómoda), o Fernando dedicava já a quase totalidade dos seus tempos livres à causa da música da igreja nos Jerónimos (organista, condutor de assembleia, responsável pelo coro da missa vespertina das 19h e director do Serviço de Música Sacra) quando, em 1990, lançou mãos à obra na criação de um coro para a missa solene das 12h. Era então seu objectivo principal criar um coro com capacidade musical digna do espaço excepcional que é a Igreja dos Jerónimos.

O trabalho do Fernando com o CSMB sempre teve por base duas grandes convicções:

1) a de que, em Portugal, em Lisboa e no caso concreto dos Jerónimos, era possível fazer música de qualidade. A exemplo do que em todo o mundo ocidental se passa, nas igrejas maiores e nas catedrais, era possível ter um coro capaz de pôr efectivamente em prática as directivas dos documentos da Igreja em matéria de música – canto gregoriano, polifonia clássica, sem esquecer a música coral de qualidade composta em vernáculo (foi sempre essa a inspiração mesmo quando o coro era ainda muito modesto nos seus primórdios); nunca cedeu a facilitismos ou a músicas de gosto fácil e qualidade duvidosa para agradar a este ou àquele a tudo sobrepondo a qualidade da música e do texto...

2) a de que um trabalho de qualidade, cujo fim último é a “glória de Deus e santificação dos fiéis”, só pode ser feito com um espírito de compromisso (tão pouco habitual nos nossos dias). Daí a sua grande exigência em questões como a pontualidade e a assiduidade dos coralistas – ser voluntário não implica apenas que não há qualquer recompensa material mas tem que implicar entrega à causa (contrariamente ao espírito do voluntário que, por sê-lo, só está quando lhe causa pouco ou nenhum transtorno, com isso deixando para Deus, e neste caso para a música da igreja, apenas o que sobra...).


O trabalho com voluntários e amadores, muitos dos quais sem qualquer preparação musical, foi sempre um dos grandes desafios – uma das maiores limitações mas talvez uma das maiores vantagens (pela sua entrega). E o Fernando soube sempre ser o maior exemplo dessa entrega e dedicação e, com esse exemplo, conseguiu levar longe este projecto excepcional que foi o CSMB, nunca abdicando dos seus princípios...

Dessa forma, raramente lhe faltaram a força e a coragem para impulsionar de forma determinante o desenvolvimento musical do CSMB, elevando sempre o nível das suas intervenções musicais e da sua actividade em geral – repertório exigente para a liturgia, programas de concerto diversificados (muitas vezes apresentando obras esquecidas e de enorme qualidade – por exemplo o Membra Jesu Nostri de D.Buxtehude ou a Missa de S.Jerónimo de M.Haydn cujo efectivo instrumental era uma orquestra de oboés e fagotes...), oportunidades de formação (que começaram por ser sobretudo internas, como os dias de preparação vocal com o Paulo Antunes, mas que com o tempo passaram a ser abertas ao exterior, como nos workshops de polifonia com Owen Rees, de técnica vocal com Ghislaine Morgan ou de canto gregoriano com Mª Helena Pires de Matos), entre inúmeras actividades que idealizou e concretizou com o apoio e empenho de muitos...

Tudo o que estas palavras evocam é apenas uma pálida sombra daquilo que o Fernando deu efectivamente de si próprio no CSMB e fica aqui como um agradecimento que é antes de mais nosso, mas sem dúvida partilhado por muitos que tiveram a oportunidade de com ele trabalhar e assim conhecer o seu enorme entusiasmo e as suas qualidades humanas.

Emília Alves da Silva e Miguel Farinha

Pequenos Cantores de Belém


A Igreja celebra a 28 de Dezembro a Festa dos Santos Inocentes, as crianças do sexo masculino que foram assassinadas na cidade de Belém, cumprindo a ordem do Rei Herodes que não entendeu o sentido da profecia que dizia que o Rei dos Judeus iria nascer naquela cidade e seria o rei de todos os povos.
Esta festa é assinalada não só no contexto litúrgico, mas muito em volta dele, com manifestações populares em torno da inocência e que nalguns casos se assemelham ao dia das mentiras (1 de Abril).
Uma das tradições mais peculiares está ligada aos coros de pequenos cantores, nos países onde há tradição de coros de pequenos cantores, e consiste em permitir que as crianças destes coros se disfarcem de cónegos e de bispos e assumam por um dia a responsabilidade pelas catedrais. É uma brincadeira, bem entendido, e só é possível em sociedades onde o canto, a liturgia e o papel das crianças na vida cultual é levado muito a sério. Caso contrário, não passaria de uma tradição quase incompreensível.
Vem isto a propósito da experiência dos pequenos Cantores de Belém, que o Coro de Santa Maria de Belém promoveu, em parte, durante vários anos. Em parte, porque a experiência arrancou primeiro no âmbito do Serviço de Música Sacra da Paróquia de Santa Maria de Belém e só numa 2ª edição foi dinamizada pelo coro, enquanto associação.
Na base desta experiência esteve o contacto com coros de pequenos cantores no estrangeiro (nomeadamente em Londres e em Regensburg) e também em Portugal. Esteve também o aprofundamento daquilo que foi o movimento dos ‘pueri cantores’, no âmbito da reforma litúrgica do Séc. XX, e a realização do 1º Encontro Nacional de Pequenos Cantores, em Fátima (1992) e a criação da Federação Nacional dos Pueri Cantores, amplamente relatados na Voz Portucalense e no Boletim de Música Sacra do Serviço Diocesano de Música Litúrgica do Porto.
A formação musical das crianças é uma actividade milenar na Igreja. Do Séc. IV ao Séc X., pelo menos o canto das crianças na liturgia era frequente, havendo relatos impressionantes do Séc. IX onde coros de crianças se associavam aos dos monges para assegurar o canto ininterrupto do Ofício 24 horas por dia! Esta tradição manteve-se embora sujeita a adaptações quando surgiu a polifonia, enfraqueceu com o aparecimento da Ópera e sua influência na música da Igreja e sofreu um duro golpe com o desaparecimento das escolas das catedrais e das abadias no Séc. XIX. A reforma litúrgica, que procurou regressar ‘às fontes’, não podia pois deixar de considerar a reabilitação desta tradição.
S. Pio X teve uma importância fundamental neste movimento. Em 1907 alguns jovens estudantes, inspirados no seu Motu Proprio, prepararam-se cuidadosa e assiduamente para a execução do canto litúrgico, que cantaram de cidade em cidade, de igreja em igreja. Pio XI deu instruções mais claras: «Quanto às escolas de crianças, sejam fundadas não só nas igrejas maiores ou catedrais, mas também nas igrejas menores ou paroquiais: e as crianças sejam educadas no belo canto pelos mestres capela, a fim de que as suas vozes, segundo o antigo costume da Igreja, se juntem aos coros dos homens, especialmente na polifonia sagrada, sendo-lhes confiado, como sempre foi, a parte de soprano, ou de canto.»
Em Paris foi fundada a Manecanterie des Petits Chanteurs à la Croix de bois, que teve como grande animador Mons. Maillet (1930) o qual escolheu como divisa «Amanhã todas as crianças do mundo cantarão a Paz de Deus». Ainda hoje é possível encontrar fotografias destes coros, em que as crianças assumiam como sua insígnia, sobre a alva branca, a cruz de madeira. O movimento alastrou-se a toda a cidade de Paris, a toda a França e a uma boa parte da Europa, sob o patrocínio dos pontífices, que presidiram a várias missas de congressos internacionais de pequenos cantores, em Roma.
O Concílio Vaticano II, que teve a sua preparação remota desde o início do Séc XX, foi fortemente impulsionado pelos movimentos litúrgico e musical que tiveram uma grande vitalidade apesar das guerras, mas não veio trazer nada de novo, uma vez que apenas reforçou aquilo que os papas tinham recomendado nas referências explicitas às Scholae Cantorum na Constituição sobre a Sagrada Liturgia e na Instrução sobre Música Sacra.
O panorama é hoje francamente pior. Não há praticamente coros de pequenos cantores em Paris (ainda no Verão procurei em vão saber dos Petits Chateurs de Saint Germain des Près que recebera nos Jerónimos no início da década de 90 e já não existem). A Alemanha mantém alguns dos seus melhores coros de pequenos cantores como os Regensburger Domspazen (que também recebemos nos Jerónimos no ano 2000) e até aqui ao lado em Espanha se mantêm experiências como a Escolania de Montserrate. Mas a grande excepção é sem dúvida Inglaterra, onde o elevado nível da música nas igrejas foi e continua a ser favorável, apesar das dificuldades dos tempos, a este tipo de coros. As catedrais têm como modelo de coro fundamentelmente o modelo dos pequenos cantores, tanto no contexto anglicano como no católico, onde o caso mais paradigmático é o Coro da Catedral de Westminster, que foi fundado e iniciou a sua actividade mesmo antes de concluído o edifício da catedral, na perspectiva de uma oferta de grande qualidade, que ainda hoje está patente (deve ser a única igreja no mundo onde diariamente é cantada uma missa por um coro, com reportório de grande fôlego).
A experiência dos Pequenos Cantores de Belém começou com o convite a uma especialista no método Ward, a Dra. Idalete Giga, que arrancou com um grupo de mais de 40 crianças no ano lectivo de 1993/94. O entusiasmo foi enorme, e o grupo mostrou facilidade na abordagem ao canto gregoriano e ao canto popular religioso. A sua integração na liturgia parecia, no entanto, um processo demorado e o orçamento do projecto era excessivo para a Paróquia.
No ano seguinte o modelo tomou outro figurino, com um tempo de formação musical por semana e um tempo de coro propriamente dito, que foram confiados, respectivamente, à Prof. Maria Luísa Lopes e à Irmã Maria de Jesus. Este modelo, que foi inspirado numa carta que, na altura, me foi enviada de Regensburg pelo Dr. Paulo Antunes e em que esboçava o esquema mínimo de um projecto musical com crianças para a liturgia, manteve-se até ao ano 2000, com frutos ao nível da liturgia, algumas apresentações para as familias no salão paroquial, com o envolvimento de outras professoras como Catarina Saraiva, Maria Gabriela Alves da Silva e Irmã Fernanda Tavares. No entanto, a dificuldade de renovação do grupo (que num coro de crianças ainda é mais premente do que num coro adulto) aconselhou a uma pausa.
O projecto foi retomado no ano 2005 pelo Coro de Santa Maria de Belém, que convidou para o dinamizar a Prof. Teresa Lancastre. Com dois ensaios semanais o grupo atingiu um bom nível musical e associou-se a outros coros para participar em espectáculos no CCB, na Igreja de S. Roque e até na Presidência da República. No entanto, o canto na liturgia revelou-se, uma vez mais, uma dificuldade, pois o máximo que se conseguiu foi uma participação mensal no ano 2008/09. Foi uma dificuldade trabalhar reportório para a liturgia (fizeram-se peças de Fauré, Rheinberger e algum canto gregoriano), foi uma dificuldade conseguir o compromisso dos pais em trazer as crianças nos dias agendados para a participação na missa e foi uma dificuldade conseguir que o projecto se auto-sustentasse. Na prática a mensalidade das crianças não chegava para pagar à professora e o coro tinha de recorrer aos seus parcos recursos para cobrir a diferença. Por tudo isto decidiu suspender o projecto no final do ano lectivo de 2008/09, longe de imaginar os acontecimentos que iriam precipitar o fim próprio do coro.
Todo este processo permitiu confirmar que:
• Os coros de pequenos cantores só têm futuro em contextos onde a música e a liturgia, por um lado, e, por outro, a participação das crianças na vida cultual da comunidade cristã são uma preocupação, uma realidade assumida com sentido de responsabilidade e honestidade, o que implica tempo, método e convergência de vontades. O resto é puro entretenimento e fogo de vista.
• Os coros de pequenos cantores devem ser confiados a quem reúna elevados conhecimentos musicais, pedagógicos e litúrgicos. É muito difícil encontrar pessoas que reúnam estes 3 atributos.
• O segredo dos pequenos cantores de sucesso é o ensino integrado. Em Inglaterra e noutros países os mais afamados coros de pequenos cantores vivem, estudam, brincam e cantam nas catedrais ou nos colégios, o seu dia a dia é altamente diversificado mas não dispersam a sua atenção entre actividades avulso, entre filas de trânsito ou em transportes. Há videos na internet que comprovam como se pode ter uma vida ‘normal’ nestes contextos, ser feliz e ter o privilégio de uma experiência destas. Os grandes músicos começaram pelos coros de pequenos cantores.

Última referência

Antepenúltimo post neste blogue, para a ultima referência a um evento do coro, uma nova participação, a 28 de Dezembro de 1999, no Espaço Das Sete Às Nove do Centro Cultural de Belém, para um concerto com o organista António Esteireiro.

domingo, 26 de dezembro de 2010

Das Sete Às Nove

No rescaldo da liturgia dos Jerónimos o coro apresentou-se em concerto no dia 26 de Dezembro de 1997, no Bar terraço do Centro Cultural de Belém, na programação Das Sete Às Nove, com programa natalício.

sábado, 25 de dezembro de 2010

Puer natus est nobis

Se a missa da noite era muito concorrida, também o era a do dia, embora um pouco menos, e nessa a assembleia assemelhava-se mais com a dos domingos. Sei de um casal que vivia no Dubay e que, ano sim ano não, marcavam presença interessada na Missa do Galo, mas depois já não tomavam parte na missa do dia.
Em termos de ‘figurino’, costumava dizer que a Missa da Noite era ao estilo austríaco e a do dia ao estilo romano. Com efeito, no lugar da missa clássica cantada na noite, a missa do dia veio a configurar-se basicamente em torno de antífonas gregorianas para a entrada e comunhão e de uma missa gregoriana alternada com polifonia nas partes do ordinário, e o Adeste Fideles na pós-comunhão.
O cansaço no coro era uma variável a não menosprezar e este programa permitia-nos apresentar uma proposta de qualidade sem o esforço da véspera. Ao fim ao cabo, foi o modelo para o qual convergiu a própria missa dos domingos do ano.
Para facilitar a participação da assembleia, o ordinário gregoriano escolhido era a conhecida Missa de Angelis, com as partes do coro harmonizadas por W. Menschik, D. Bartolucci e H.Schroeder. Mas o tom do dia era dado pelo maravilhoso intróito gregoriano, que conquistava o espaço da igreja como um bálsamo: Puer Natus est nobis.

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Missa do Galo


Desde muito cedo que me apercebi da excepcionalidade das assembleias das missas de Natal, em particular da Missa da Meia Noite, vulgarmente conhecida como Missa do Galo.
Pelas 23h30 ainda não se via viva alma, mas à meia-noite a igreja ficava completamente cheia, de caras menos conhecidas que o habitual. E havia um dado curioso que era a baixa ou quase nula participação das pessoas através do canto.
Ainda tentei um ano ou dois perceber se, com um pequeno ensaio de assembleia, podia haver mais participação, mas sem nenhum resultado.
Foi então que, em 1994, convidei dois colegas para acrescentar ao programa habitual algo de diferente. Com a colaboração do soprano Ana Sêrro e do acompanhador Carlos Silva Pereira, foi possível dar a ouvir na Missa do Galo o Laudamus te da Missa de Santa Cecília de J.Haydn, e o coro apresentou com a sua ajuda o Ave verum corpus de W.A.Mozart e o Tollite hostias de Saint-Saens. No ano seguinte voltaram.
A ideia era ir um pouco ao encontro das expectativas de um ‘público’ que, não vindo à missa todas as semanas aos Jerónimos, voltava pelo menos no ano seguinte…
O soprano Ana Sêrro cantou ainda na Missa do Galo em 1997, com o organista António Duarte (Rejoice greatly do Messias, Alleluia do Exsultate jubilate de Mozart) e em 1998, com o organista António Esteireiro (Tu virginum corona do Exsultate jubilate e Laudate Dominum das Vesperae Solennes de Confessore).
O interesse das pessoas pela música na Missa da Meia Noite de Natal aumentou visivelmente.
No ano 2000, participaram nessa missa os Metais de Lisboa, que alternaram as intervenções corais com obras de Delalande e Gabrieli, mas a partir do ano seguinte enveredámos por uma linha assumidamente clássica.
Em 2001, cantámos na própria missa, com a Orquestra de Câmara de Cascais e Oeiras, a Missa Rorate Caeli de J. Haydn, uma obra muito simples e breve, mas com a ambiência pretendida. Em 2002, a Orquestra de Câmara de Cascais e Oeiras voltou à Missa da Meia Noite de Natal, onde apresentámos a Missa em Sol de A. Caldara.
A partir deste ano, o coro apresentou-se com o Ensemble de Santa Maria de Belém, cantando nesta missa já tão destacada, a Missa de S. João de Deus de J. Haydn, em 2003, a Missa em Sol M K.49 de W.A.Mozart, em 2004 e 2005, a Spatzenmesse K.220, em 2006 e 2008, e a Missa em Ré M de F.X.Brixi em 2007.
Nestas missas cantaram-se outras obras natalícias para coro e ensemble instrumental como In nativitatem Domini canticum H. 314 de M.A. Charpentier, Christus natus est nobis de Henry du Mont, Hodie nobis coelorum Rex e Quem vidistis pastores de M.Haydn, Pastores loquebantur de Brixi, Verbum caro factum est de Carlos Seixas, Alegrem-se os céus e a terra com arranjo de E.Amorim.
Durante 3 ou 4 anos, tocou-se também o Concerto fatto per la notte di Natale op.6 n.8 de A.Corelli, arrumando os diversos andamentos em momentos precisos (antes da missa, ofertório, pós-comunhão e final). Outras peças instrumentais sempre à mão nestes dias eram as Sonatas da Epístola, de Mozart, que escolhíamos em função da tonalidade da missa cantada. Num ano fez-se o Concerto em Ré M n.8 para Órgão e Orquestra de Brixi.
Cantou-se também muitas vezes à entrada, sem qualquer acompanhamento, a antífona de vésperas gregoriana (Hodie Christus natus est) com que abre a Ceremony of Carols de Benjamin Britten, a última das vezes com uma dinâmica de repetição entre um solista no púlpito e um semi-coro feminino na capela mor. Foi no púlpito que situámos também nessa noite um trompetista, para a execução, juntamente com o coro, da comunhão In splendoribus sanctorum de James MacMillan.
Finalmente, de referir que se cantou ininterruptamente a partir de 2003, na comunhão, o Adeste fideles, na versão de David Willcocks. A ideia desta peça neste momento partiu de um CD com a Missa de Natal no Vaticano, onde ainda hoje continuam a cantar este hino, com harmonizações corais diferentes de estrofe para estrofe, mas, no nosso caso, impôs-se esta versão desde o Concerto de Reis que dedicámos aos Natais Populares da Tradição Europeia. Nunca mais, desde aí, se cantou em Belém outra versão da melodia do hino senão a inglesa (até pelas fortes correlações desta música com Inglaterra, onde é conhecido por Portuguese Hymn), e a versão de Willcocks, com o discante na penúltima estrofe e uma harmonia densa na última, passou-se a cantar nas missas de natal e, sempre que possível, como encore ao Concerto de Reis.
Tudo isto se fazia com baixas no coro pois no Natal há sempre muita mobilidade e alguns coralistas tinham, justamente, de se deslocar para estar com as suas famílias. Mas esta solução encontrada tinha também a virtualidade de poder incluir os solistas no coro, saindo este reforçado.
A Missa da Meia Noite de Natal nunca terminava muito antes das duas da manhã. E às onze horas, o coro já teria de estar a vocalizar e ensaiar para a missa solene do meio-dia, tendo pelo meio tudo o que as famílias habitualmente têm nestes dias. Mas a sensação que tínhamos depois desta missa era extraordinária e os ecos da assembleia muito reconfortantes, sendo habitual ouvir-se perguntar, nos dias antes do Natal, se a missa seria assim … como a do ano passado.
Olhando em retrospectiva para estas celebrações de Natal, é caso para dizer que foi obra! E para os que conheciam menos bem a actividade do coro e pudessem pensar que era mais um coro de concertos ou um coro de missas, os factos relatados comprovam que nem uma nem outra perspectiva estava correcta, pois o Coro de Santa Maria de Belém era um coro de igreja, i.e, não deixava de se apresentar em concerto sempre que tinha oportunidade de dar a conhecer reportório e assinalar a vivência dos tempos fortes para além do contexto litúrgico, mas tinha na liturgia o seu campo de acção fundamental, com particular atenção a toda a diversidade de celebrações ao longo do ano.
A todos os que seguem este blogue, os nossos votos de um Santo Natal.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Natal nos Salesianos

O coro deu dois concertos em plena antevéspera de Natal, apesar da agitação destes dias e da responsabilidade de cantar na noite e no dia de Natal, com poucas horas de diferença, em duas missas solenes. O 1º destes concertos foi no ano 2000, na Igreja dos Salesianos (Estoril) onde apresentámos o Magnificat de D. Buxtehude e o Oratório de Natal de C. Saint-Saëns, com a Orquestra de Câmara de Cascais e Oeiras e os solistas Sandra Medeiros, Susana Teixeira, Susana Moody, Aníbal Coutinho e Fernando Gomes, sob a minha direcção, numa iniciativa da Câmara Municipal de Cascais.
Também na antevéspera de Natal de 2001, no mesmo local e com a mesma orquestra, se apresentou a Cantata BWV133 de J.S.Bach e a Missa da Coroação de W. A. Mozart. Desta vez a direcção esteve a cargo do maestro Nicolay Lalov e os solistas foram Rute Dutra, Susana Teixeira, João Rodrigues e Rui Baeta. Ambos os programas foram repetidos em edições do Concerto de Reis, nos Jerónimos, nos primeiros dias de Janeiro.

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

O 2º apagão

Foi um ambiente frio e húmido o que acolheu o Coro de Santa Maria de Belém e a Orquestra Metropolitana de Lisboa no Turcifal, na noite de dia 22 de Dezembro de 2007, para o 3º concerto em dias consecutivos com o programa da Messa di Gloria de Puccini. Apesar das suas dimensões pequenas o espaço da Igreja Matriz do Turcifal mostrava-se difícil de aquecer e os instrumentistas queixaram-se com veemência. Mas o fenómeno mais extraordinário estava para vir: em pleno concerto, a electricidade foi abaixo, talvez por excesso de carga mobilizada para as luzes e o aquecimento. O momento não podia ser mais especial: estavamos em pleno Credo, e o coro continuou, literalmente às escuras, a cantar a frase ‘Et incarnatus est de Spiritu Sancto ex Maria Virginae et homo factus est’, no final da qual a luz voltou. Foi um susto, mas também foi uma proeza que deixou os músicos profissionais surpreendidos. E este foi o 2º apagão na vida do coro, ocorrido em cheio a meio de uma actuação.

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Puccini na Graça

O 2º Concerto de Natal com a Orquestra Metropolitana de Lisboa teve lugar no dia 21 de Dezembro de 2007 na Igreja da Graça, em Lisboa, onde o coro já tinha dado outros concertos. A acústica da igreja é fantástica, mas os espaços de apoio eram poucos para a parafernália que a Messa di Gloria de Puccini exige. Tal como na véspera a segurança e o controle do conjunto não foi a tónica dominante e o mesmo viria a suceder no dia seguinte no Oeste. Só nos Jerónimos as peças do puzzle se encaixaram com mais confiança, mas das preocupações ninguém nos livrou.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Igreja de S. Domingos


A Igreja de S. Domingos, na baixa de Lisboa, é um espaço impressionante. Remontando ao séc. XIII a igreja sedimentou uma mescla de diferentes períodos e o resultado de factos marcantes, com destaque para a reforma da capela-mor pelo Arquitecto Ludovice, em 1748, a obra de reconstrução de Manuel Caetano Sousa, e o grande incêndio de 1959.
Palco de aclamações regias, casamentos e baptizados reais, esta igreja ficou também associada à tragédia da Inquisição, pois dela saíam os grandes cortejos que conduziam os condenados à fogueira.
O que hoje lá está, após obras de restauração que passaram pela colocação de um tecto e arranjo parcial dos altares, com uma massa de cor vermelha, mas que deixaram ainda a vista toda a pedra estalada pelo calor do fogo, parece uma metáfora dessa história de contrastes, e do que pode ainda hoje considerar-se a Igreja, um espaço de acolhimento, de encontro e de conversão que não está imune aos pecados dos homens de que é feita.
Foi neste espaço emblemático que o coro iniciou um ciclo de quatro concertos com a Orquestra Metropolitana de Lisboa, para a apresentação da Messa di Gloria de Puccini, sob a direcção do maestro Jorge Matta, o qual culminou no Tradicional Concerto de Reis da Igreja dos Jerónimos, que o coro promoveu durante mais de uma década. Esta parceria foi por nós proposta à OML e concretizou-se com o empenho do Maestro Álvaro Cassuto e da Prof. Gabriela Canavilhas.
A Igreja de S. Domingos tem uma vida litúrgica intensa, com uma oferta simples mas digna, e é um porto seguro para as almas inconformadas.

domingo, 19 de dezembro de 2010

S. Luís dos Franceses

No dia 19 de Dezembro de 1999, o coro apresentou-se em Concerto de Natal na Igreja de S. Luís dos Franceses, com o organista António Esteireiro e o flautista João Pedro Fonseca. Para além de natais populares o coro cantou alguns corais sobre os se ouviram depois os respectivos prelúdios corais. Na parte instrumental o concerto incluiu a Sonata em Som m de Bach BWV 1020, Priére a Notre Dame de Boellman, Trois mouvements para flauta e órgão de Jehan Alain e Mouvement também para flauta e órgão de Jehan Alain.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Com a casa às costas


No dia 17 de Dezembro de 2005, o coro deu um Concerto de Natal na Igreja de São João de Deus em Lisboa, com um programa dedicado à polifonia renascentista e natais da tradição europeia. Sempre em busca da logística mais favorável, e porque a igreja em questão apresentava uma configuração arquitectónica complexa, resolvemos levar os estrados do coro que praticamente só utilizávamos em Belém. Eram uns estrados de madeira que estavam sempre no seu tamanho natural, sem possibilidade de encaixe uns nos outros ou desmontagem parcial, pelo que ocupavam bastante espaço. E deste concerto guardo a imagem, não apenas do concerto propriamente dito, que foi bom, mas sobretudo da arrumação pós-festa, qual coro-caracol com a casa às costas, com os coralistas a transportar os módulos dos estrados para uma carrinha que alguém nos cedeu ou alugou e que foi conduzida pela Alice, elemento da direcção executiva ligada à logística, que sempre deitou a mão ao que era preciso e desta vez partilhou também a sua condução destemida.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Senhora do Cabo

No dia 16 de Dezembro de 2000, o coro apresentou-se em Concerto de Natal na Igreja de Nossa Senhora do Cabo – Linda-a-Velha, com a Orquestra de Câmara de Cascais e Oeiras, numa organização conjunta da Câmara Municipal de Oeiras e da Junta de Freguesia de Linda-a-Velha. Na 1ª parte, coro apresentou obras a cappella, de Hassler e Palestrina, e na 2ª parte, com a orquestra, diversos natais tradicionais da tradição europeia.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Natal em Paço de Arcos

No dia 15 de Dezembro de 2001, o coro apresentou-se em Concerto de Natal na Igreja Paroquial de Paço d’Arcos, com a Orquestra de Câmara de Cascais e Oeiras e os solistas Rute Dutra, Susana Teixeira, João Rodrigues e Rui Baeta, sob a direcção de Nicolay Lalov. As peças apresentadas foram a Cantata BWV133 de J.S.Bach e a Missa da Coroação de W.A.Mozart.

Concertos de Natal

No dia 14 de Dezembro de 1996, o coro participou num Concerto de Natal na Sé Patriarcal de Lisboa,. por ocsaião do 70º aniversário do escutismo em Lisboa, juntamente com o organista António Duarte, o Coro Laudate e o Coral Renovação.
Em 2002, e também a 14 de Dezembro, apresentou-se em Concerto de Natal na Igreja de S.Pedro da Ericeira, a convite da Câmara Municipal local. Neste concerto apresentámos reportório natalício e mariano para coro e órgão ibérico, com a participação do organista António Mota. Mea culpa: fiz o coro cantar um Te Deum que já era agudo um tom acima, porque me enganei a dar o tom.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Rio Maior

No dia 13 de Dezembro de 1996, o coro participou num Concerto de Natal na Igreja de S.Vicente de Fora, organizado pela Junta Regional de Lisboa do Corpo Nacional de Escutas. Em 1998, apresentou-se Concerto de Natal, também a 13 de Dezembro, na Igreja da Misericórdia de Rio Maior. Para a memória deste evento ficou o frio que estava na igreja (lembro-me do gelo na ponta dos dedos, ao dirigir, e do vapor a sair da boca dos coralistas) e ficou também o lauto repasto que nos foi oferecido a seguir, proventura o melhor lanche em toda a vida do coro, que foi bem recompensador das condições em que assegurámos uma hora de programa a cappella.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Imaculada Conceição


No dia 8 de Dezembro de 1999, o coro cantou na Missa da Solenidade da Imaculada Conceição para a RTP, nos estudios da 5 de Outubro.
Também a 8 de Dezembro mas de 2004, apresentou-se em Concerto de Natal na Igreja de Nª Sra do Loreto, no formato coro & ensemble, com a Missa em Sol M de W.A.Mozart e repertório de Natal, numa organização da Câmara Municipal de Lisboa – Pelouro da Cultura.
Finalmente em 2008, apresentou-se em Concerto à Padroeira na Sé Catedral de Santarém, com a participação do organista Sérgio Silva.
Neste dia, o coro cantou sempre na missa solene nos Jerónimos, com reportório coral variado para o tempo do Advento e esta festa em particular, sem esquecer a participação da assembleia, especialmente no hino popular no fim da missa: Salve Nobre Padroeira.

domingo, 5 de dezembro de 2010

Momentos irrepetíveis

Com a data de 5 de Dezembro encontramos quatro registos variados na história do coro.
Em 1993 participou neste dia na Missa I Domingo do Advento transmitida pela TVI na Basílica da Estrela. O órgão era o actual instrumento em uso, mas ainda não tinha sido restaurado, e a sua localização na varanda do lado esquerdo do altar mor, onde ficava praticamente oculto, foi um desafio considerável.
Em 1998, o coro cantou num casamento na Capela do Palácio das Necessidades. A capela era muito bonita e muitíssimo parecida (o tecto pelo menos), embora numa escala completamente diferente, com a capela mór dos Jerónimos. E porque o espaço era pequeno ficámos numa posição lateral junto ao altar. O noivo era certamente militar, pois a missa teve honras de escolta. Mas a meio da celebração, um dos soldados que estava junto a nós desmaiou e caíu-me literalmente aos pés, com espada e restante equipamento. Não ganhei para o susto e talvez por isso nunca mais me esqueci deste casamento.
Em 1999, cantámos outra vez numa missa transmitida pela televisão na mesma data, desta vez a Missa do II Domingo do Advento a partir dos Estúdios RTP.
Finalmente, em 2003, o coro apresentou-se em Concerto de Natal na Basílica dos Mártires, com a participação do organista António Esteireiro, numa organização da Câmara Municipal de Lisboa – Pelouro da Cultura. O programa incluiu várias obras a cappella alternadas com obras de órgão adequadas ao instrumento da basílica. A igreja estava cheia e o publico mostrou-se bastante interessado. Primeira justa referencia neste blogue aos nossos familiares que muitas vezes estavam presentes nas actuações do coro e nos apoiavam: a minha avó costumava comentar com quem tinha ao lado que era ‘avó do maestro’, e nessa noite foi presenteada com um retrato que uma rapariga lhe fez durante o concerto e que guarda religiosamente.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

X Aniversário

Uma outra referência ao aniversário do coro, que no ano 2000 se celebrou a 3 de Dezembro.
Tratando-se do X Aniversário, convidámos D.Tomaz Silva Nunes, bispo auxiliar de Lisboa, que presidiu à Missa Solene do I Domingo do Advento nos Jerónimos.
Foi neste dia que se estrearam as vestes vermelhas na liturgia. Ainda me lembro das reacções das pessoas, que foram de surpresa e de grande entusiasmo, especialmente por parte das pessoas habituadas a viajar pela Europa. Apenas me chegou uma observação negativa, de uma pessoa sempre muito crítica de tudo e todos, pelo que a recebi naturalmente como um elogio. A partir dali, as vestes passaram a ser indissociáveis da prestação do coro na liturgia e do espaço concreto em que a fazia. Estranho seria se nos vissem um dia a cantar com roupa de trabalho ou de passeio, num qualquer espaço da igreja onde menos estorvassemos.
Nesse dia o coro cantou na celebração a Missa Dixit Maria de H.L.Hassler, Veni veni Emmanuel de D.Willcocks e Alma Redemptoris de G.P.Palestrina.
Também a 3 de Dezembro mas de 2006, o coro apresentou-se em concerto na Igreja da Madalena, no âmbito de um festival de coros organizado nas igrejas da baixa de Lisboa por ocasião do Natal. O programa era basicamente o apresentado na véspera em S. Roque, em formato coro & ensemble, embora sem as peças com metais, dedicado aos aniversários de Mozart e Michael Haydn.
Acolheu-nos uma plateia que enchia por completo o pequeno templo e com uma boa acústica. Havia pessoas nos corredores e nos altares laterais, sentadas no chão ao pé de nós... No fim, entre as felicitações, veio uma senhora dizer que tinha vivido em Salsburg e nunca tinha ouvido o Ave Verum de Mozart cantado daquela maneira, aliando rigor técnico e espiritualidade.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Há 20 anos atrás

Já aqui se escreveu sobre a importância da missa de domingo na vida do Coro de Santa Maria de Belém, uma importância crucial e estruturante em toda a sua actividade. Com efeito, mais do que o reportório que o coro conseguiu ler, montar e apresentar, relevamos o facto de ter apresentado a quase totalidade desse reportório, com excepção das peças exclusivamente de concerto, no próprio contexto da liturgia. Por detrás desta realidade esteve uma visão da música litúrgica e do papel dos coros em que não se concentram esforços para concertos mais ou menos regulares, como maior ou menor aparato, e se relega depois para a liturgia o resto, o que implica menos meios, menos esforço e menos empenho. Neste coro a ordem de prioridades era, de facto, primeiro a liturgia e depois os concertos. Aliás, procurava-se que os concertos fossem enquadrados pela própria cadência da liturgia, valorizando os tempos fortes do calendário, e assim surgissem como um reforço pedagógico e uma ressonância da própria celebração litúrgica. Infelizmente essa não é uma prática generalizada, pois, não havendo muitos concertos, sempre é possível assistir a alguns e ouvir reportório sacro por amadores e por profissionais, mas o que nos é dado a ouvir nas nossas Igrejas é bem revelador do pouco que entrega à função da Música Sacra, que é a Glória de Deus e a santificação dos fiéis. A glória de Deus parece esquecida e a santificação dos fiéis foi trocada pela satisfação dos fiéis, sendo que a satisfação está sujeita às contingências do gosto, da moda, das modas, que agradam a uns e não a outros e, acima de tudo, nada têm a ver com a perenidade. Nos concertos ainda encontramos amadores e profissionais, e a grande música está em geral a cargo dos profissionais, mas na liturgia quase não há profissionais, nem em regime de voluntariado. E há também, dentro dos poucos profissionais que encontramos, pouco enquadramento da sua actividade, que resulta por vezes em actividade atípica, pouco rentabilizada. Vem tudo isto a propósito de passar hoje 20 anos sobre a primeira missa do coro nos Jerónimos, a primeira de centenas, invariavelmente aos domingos ao meio dia e noutras celebrações festivas, como o Natal, Tríduo Pascal e os feriados santos. Ao fim de um mês e pouco de ensaios com o grupo embrionário, apresentava-se um grupo modesto mas que viria a demonstrar a sua dedicação, a sua capacidade de trabalho e persistência na acção e nos valores, a toda a prova. Um grupo capaz de se adaptar à mudança mas fiel a valores inegociáveis, como ilustra de forma determinante o fim do coro.
Também a 2 de Dezembro, mas em 2006, o coro apresentou-se em concerto na Igreja de S. Roque, na Temporada Música em S. Roque, com um programa dedicado aos aniversários de Mozart e Michael Haydn, num formato de coro & ensemble. Deste evento destaca-se o agrado que o programa suscitou no vasto público que enchia por completo a igreja, como nota positiva, e, noutro registo, o facto de um dos violinistas ter vindo a falecer poucos dias depois do concerto. Aqui lhe prestamos uma homenagem sincera.
Há 20 anos atrás, impelia-nos o idealismo de quem acredita que é possível fazer diferente, de quem não se resigna a ver apenas o que se passa lá fora, como algo inatingível aqui, mas quer o melhor também para a sua terra. Hoje, acautela-nos o realismo de quem chega à conclusão que não basta querer, pois é preciso que os outros também queiram, ou sintam a uma mínima mas genuína vontade (necessidade?) de mudança.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

V Aniversário

O Coro de Santa Maria de Belém apresentou-se pela primeira vez em público na missa solene do I Domingo do Advento. Por isso celebrou durante vários anos o seu aniversário no dia 1 de Dezembro, por ser dia feriado e permitir uma maior disponibilidade dos seus coralistas e amigos. Os registos referem uma destas celebrações, em 1995: V Aniversário do CSMB - Missa de Acção de graças com actuais e antigos coralistas. Cantou-se o Laudate Dominum de E.Chabot, o Salve Regina no tom solene, e O Santíssima com harmonização de Manuel Faria. Mais tarde passariamos a celebrar o aniversário mesmo no próprio I domingo do Advento de cada ano.

sábado, 27 de novembro de 2010

XV Aniversário


O Coro de Santa Maria de Belém iniciou a sua actividade há 20 anos, tendo participado pela primeira vez na missa solene da Igreja dos Jerónimos, no I domingo do Advento. Por isso celebrou sempre o seu aniversário próximo desta data. Em 2005,o coro celebrou o seu XV Aniversário na Missa do I Domingo do Advento, a 27 de Novembro, tendo convidado para a presidir, D.Manuel Clemente, bispo auxiliar de Lisboa. Após a missa, teve lugar um almoço / convívio na residência paroquial, no qual pudemos contar com a sua agradável e estimulante presença. A tarde incluiu ainda uma actividade lúdica irrepetível: cada coralista entregou previamente uma fotografia sua, preferencialmente da infância ou juventude, e o jogo consistiu em adivinhar o maior numero de coralistas a partir dessas fotos, com direito a prémio e tudo, que foi ganho com toda a justiça pela Manuela Costa.

Te Deum

Ainda no âmbito das festicidades de Sta.Cecília, o coro tomou parte num Encontro de Coros que teve lugar na Igreja de S.Domingos de Benfica no dia 27 de Novembro de 1999. Na mesma data do mês cantou em 2002, nos Jerónimos, na Missa e Te Deum nas Bodas de Prata Sacerdotais do Cón. José Manuel dos Santos Ferreira, com obras de de F.Lapa, F.X.Witt, e O.Faulstich, e em 2007 na Missa no XXX Aniversário da sua ordenação sacerdotal.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Coro de Beja

No dia 26 de Novembro de 1995, o coro recebeu o Coro do Carmo de Beja, para um concerto conjunto na Igreja do Mosteiro dos Jerónimos.

Jubileu dos coros

No ano 2000 o Coro de Santa Maria de Belém propôs-se organizar o encontro de coros da Festa de Sta.Cecília nos Jerónimos. O evento decorreu no sábado 25 de Novembro, e, porque estávamos em pleno Jubileu do Nascimento de Cristo, inscrevemos a acção no programa diocesano como Jubileu dos Coros. Dada a complexidade da logística dos Jerónimos, prescindímos da habitual conferência e o programa começou directamente com o concerto. A ideia era convergir para a missa e não começar com missa e depois concerto.
No concerto participaram 18 coros do Patriarcado, que sentiram na pele as dificuldades acústicas dos Jerónimos. Na missa, que foi presidida pelo Patriarca de Lisboa, os coros integraram a assembleia, sob a direcção do Pe. Cartageno, e o coro propriamente dito foi constituido pelo coro de Belém e pelo Coro da Escola Diocesana de Música Sacra, com a participação ainda dos Metais de Lisboa, dirigidos por mim. O introito foi a célebre Entrada Festiva, de Floor Peters, com o refrão Christus vincit, uma peça talvez festiva de mais ou pouco 'litúrgica' no quadro da pastoral dominante (ausente?) de música sacra. Para a história ficou o facto do Patriarca não ter feito qualquer referência aos coros, à música, ao jubileu dos coros, nem na homilia nem em qualquer outra parte da missa.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Santa Cecília

Em torno da festa de Santa Cecília, celebrada a 22 de Novembro, é costume organizarem-se encontros de música sacra. Alguns coros da área do Patriarcado de Lisboa asseguram a organização de um encontro de coros, nos quais o Coro de Santa Maria de Belém participou algumas vezes, como foi o caso do encontro de 1996, que teve lugar a 23 de Novembro na Igreja de Nª Sra. da Conceição (Amadora). O programa incluiu Missa da Solenidade de Cristo Rei e concerto conjunto, com organização a cargo do Coral Kerigma.

domingo, 21 de novembro de 2010

Congresso Internacional

Em Novembro de 2003,teve lugar em Fátima um Congresso Internacional sobre o tema "O Órgão na Liturgia", reunindo reputados organistas, organeiros, estudiosos e outras pessoas interessadas nesta matéria. O congresso incluiu uma visita, no dia 21, aos órgãos de Mafra e S. Vicente de Fora, em Lisboa, bem como uma missa na Sé Patriarcal, cuja música foi assegurada pelo organista Klemens Schnorr, pelo Coro Gregoriano de Lisboa e pelo Coro de Santa Maria de Belém.

sábado, 20 de novembro de 2010

Encontro de Coros

No dia 20 de 1993, o coro tomou parte no Encontro de Coros que teve lugar na Igreja de S.João de Deus, por ocasião da Festa de Santa cecília, Padroeira dos Músicos.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Música em S. Roque

Desde há vários anos que a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa organiza, nos meses de Outono, o Festival Música em S. Roque, com a participação de coros, orquestras e grupos de câmara. O Coro de Santa Maria de Belém participou duas vezes neste festival, em 2006 e 2007. Curiosamente, já neste Verão de 2010, a Santa Casa nos procurava porque precisava de um grupo com as características do de Belém para preencher um dia do festival…
Na edição de 2007, a 17 de Novembro, o coro apresentou a cantata Membra Jesus Nostri de Buxtehude, que havia feito meses antes nos Jerónimos, no âmbito da comemoração dos 300 anos sobre a morte deste compositor.

domingo, 14 de novembro de 2010

Cursos livres 2

No fim de semana de 13 e 14 de Novembro de 2005, teve início a 2ª edição dos Cursos Livres de Música Sacra que o coro promoveu durante 3 fins de semana, dedicados ao órgão, à Direcção Coral e à Preparação vocal de salmistas. Como diferenças substânciais em relação ao ano anterior tivémos a eliminação do curso de gregoriano, que viria a ser retomado sob a forma de workshop em 2009, e a afectação de um segundo professor de órgão, dada a forte procura desse curso nesta edição. A equipa formativa foi desta vez constituida por António Esteireiro, António Mário Costa, Eugénio Amorim e José Paulo Antunes.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

S. João Latrão

Os registos dizem que o coro cantou 3 vezes na solenidade da Dedicação da Basílica de S. João Latrão, precisamente as vezes em que essa solenidade, que tem precedência sobre o domingo, calhou ao domingo. À entrada, invariavelmente os hinos Eu vi a cidade santa e Nós somos as pedras vivas, do Cón. Ferreira dos Santos, o 1º com harmonização das estrofes de Fernando Lapa e o 2º de António Esteireiro. Também o motete Locus Iste de Bruckner marcou presença nestas celebrações, e na última, em 2008, também a missa sem glória e credo desse compositor.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Cursos Livres

No dia 8 de Novembro de 2004, teve início a 1ª edição dos Cursos Livres de Música Sacra que o coro promoveu durante 3 fins de semana, dedicados ao órgão, ao canto gragoriano, à Direcção Coral e à Preparação vocal de salmistas, respectivamente pelos professores António Esteireiro, Mª Helena Pires de Matos, Eugénio Amorim e José Paulo Antunes. Os cursos decorreram durante 3 anos, após os quais se seguiram workshops sobre temáticas específicas.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

ICNE


No dia 5 de Novembro de 2005, o coro apresentou algumas peças na sessão de boas vindas do Congresso Internacional da Nova Evangelização, que teve lugar nos Jerónimos - um Magnificat de Duarte Lobo, O Magnum Mysterium de D. Pedro de Cristo, Exultate Iusti de Viadanna e O Sacrum convivium de D. Bartolucci.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Fiéis Defuntos com Puccini


Na sua formação completa, o coro só assegurou o canto na Missa da Comemoração dos Fiéis Defuntos quando o dia 2 de Novembro coincidiu com o domingo. Foi o que aconteceu em 2008. Nesse dia, e porque tinhamos iniciado o ano assinalando o aniversário de Puccini, com um ciclo de concertos dedicados à Messa di Gloria, decidimos cantar na entrada da missa o singelo Requiem para coro, órgão e violeta. A peça corresponde apenas ao introito da missa, e foi o bastante, na sua simplicidade comovente, para dar o tom de uma celebração que não se fechou sobre a tristeza mas evocou muitos outros sentimentos que esta festa suscita.
Para além da colaboração regular do organista Sérgio Silva, contámos nesta missa com a colaboração especial do violetista Lúcio Studer, que foi uma pessoa sempre empenhada em nos ajudar, especialmente na organização de conjuntos instrumentais para os dias festivos. Aproveitando este post, aqui fica uma palavra de agradecimento e de estima pelo seu contributo e pela sua amizade ao coro.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Santiago de Compostela

Há locais onde é difícil esquecer que estivémos. E se em alguns desses locais nos foi dada a oportunidade de neles cantar ou dirigir um coro como o de Santa Maria de Belém, percebemos porque há momentos que ficarão gravados para sempre. Antes da Catedral de Colónia, da Basílica Vaticana de S. Pedro ou da Catedral de Westminster, o coro cantou na missa principal da Catedral de Santiago de Compostela, na Solenidade de Todos os Santos de 1999. Foi na missa solene, onde se incorporou no cortejo de entrada e de saída um pequeno grupo de sacabuxas e charamelas. Junto ao altar, o coro assegurou a maior parte dos cânticos do próprio e do ordinário. No fim, houve a extraordinária incensação com o gigantesco botafumeiro e ainda um tempo para umas fotos. O regresso a Lisboa far-se-ia sob uma intensa chuva.

domingo, 31 de outubro de 2010

Concerto em S.Pelayo

A primeira vez que o coro saiu do país foi em 1999, para uma pequena peregri- nação coral a Santiago de Compostela. A primeira apresentação foi um concerto a cappella no Mosteiro de S.Pelayo Antealtares, no qual apresentou obras de Palestrina, Melgás, Bartolucci e Schubert, entre outros. Apesar do mau tempo, o concerto contou com uma assistência numerosa e interessada.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

A última assembleia geral

Há um acontecimento determinante na vida do coro sobre o qual não devo escrever, pois saí antes. Trata-se da assembleia geral que deliberou a sua extinção e na qual participei apenas na minha condição de associado. Ainda assim, e para este blogue ficar o mais completo possível, a nota que segue foi escrita pela pessoa que, a essa data, tinha as funções de Presidente da Direcção Executiva, a quem agradeço mais esta colaboração.

«Desde o dia 1 de Outubro de 2009, data em que o maestro comunicou ao coro a sua decisão de se demitir, estabeleceu-se uma situação de indefinição quanto ao futuro do CSMB. Foi portanto convocada uma Assembleia Geral, que teve lugar a 29 de Outubro. Nessa ocasião os elementos da Direcção Executiva apresentaram a sua demissão solidária com a da Direcção Artística. A própria Mesa da Assembleia também se viria a demitir em ponto prévio à agenda da reunião...
Sentia-se, de uma forma quase palpável, a perplexidade e tristeza provocadas pelos últimos acontecimentos. E, neste clima
iniciou-se a reunião na qual deveriam ser encontradas, segundo a agenda, "alternativas para ultrapassar o impasse" em que se encontrava a Associação...
O projecto do Coro de Santa Maria de Belém, iniciado em 1990 (ainda não como associação) fora sempre imbuído de um espírito muito especial, tinha metas bem determinadas e caminhara para elas lentamente mas de forma sustentada e segura. Agora, inesperadamente, tudo se tinha alterado e a ninguém parecia possível continuar sem a orientação quanto às opções
musicais e forma de estar que, há quase vinte anos, eram a própria essência do coro. A proposta de extinção da associação surgiu naturalmente.
Alguém chegou a pôr a hipótese de o coro continuar a sua actividade sob a direcção de outro maestro, adaptando-se às novas condições no espaço da igreja. No entanto, uma vez que o director artístico, não tomara a decisão de se demitir do seu cargo por teimosia ou "birra", mas sim por entender que as condições impostas iriam prejudicar o bom desempenho do coro na igreja,
esta ideia pareceu absurda: seria razoável escolher continuar com outro maestro que aceitava pôr o coro em condições desfavoráveis? Além do mais, não houve entre os associados quem, individualmente ou em grupo, se achasse capaz de levar por diante toda a organização, gestão e promoção de um projecto que, do inicial, já só teria o nome e a aparência (e mesmo essa certamente não tardaria a ser alterada...).
Após todas estas reflexões e considerações foi aprovada por maioria, a extinção da associação e a doação do seu património à Congregação das Irmãzinhas dos Pobres. Uma obra vale não só pela qualidade do trabalho realizado e pela satisfação pessoal dos que nela estão envolvidos mas, sobretudo, pelos caminhos e horizontes que abre aos que seguem na mesma direcção...»

Maria Emilia Alves da Silva

Convento de São Domingos



No dia 29 de Outubro de 2005 o coro deu um concerto a cappella na Igreja do Convento de S. Domingos, em Benfica, no contexto do programa de dedicação daquela igreja, que constitui um novo espaço de referência na área da arquitectura religiosa contemporânea.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Jubileu Nacional dos Músicos

O coro participou poucas vezes em encontros de coros, como o que reuniu no dia 14 de Outubro de 1995 um conjunto de grupos para a missa na Igreja do sagrado Coração de Jesus comemorativa Lançamento do movimento Ajuda à Igreja que sofre em Portugal. Talvez o mais marcante desses encontros tenha sido por ocasião do Jubileu Nacional dos Músicos, também a 14 de Outubro mas do ano 2000, pela quantidade de grupos vocais e também de bandas que nesse dia se reuniram no Santuário de Fátima, para uma missa e um concerto. O coro de Santa Maria de Belém teve o privilégio de cantar no coro piloto e eu a oportunidade de dirigir aquela grande massa coral-instrumental durante uma parte do concerto.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

50º aniversário AIS

No dia 11 de Outubro de 1997, o coro participou juntamente com outros coros na Missa comemorativa do 50º Aniversário do movimento 'Ajuda à Igreja que sofre' que teve lugar na Igreja do Sagrado Coração de Jesus, em Lisboa.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Concerto em Santarém

No dia 4 de Outubro de 1998, o coro apresentou-se em concerto na Sé Catedral de Santarém, por ocasião da trasladação dos restos mortais de D. António Francisco Marques para a catedral daquela cidade.
D. António foi o 1º bispo de Santarém quando a diocese, bem como a de Setúbal, se criou a partir de territórios anteriormente pertencentes ao Patriarcado de Lisboa.
Conheci-o nos encontros nacionais de pastoral litúrgica de Fátima, quando presidia à Comissão Episcopal de Liturgia e depois mais em proximidade durante os cursos de música litúrgica, que acompanhava sempre com muito interesse. Foi, aliás, num dos anos desses cursos que soubemos da sua morte e fomos, alunos e professores, ao seu funeral a Santarém.
Por isso tive o maior gosto em participar com o coro neste dia especial, dia da Festa de S. Francisco de Assis, em memória de um homem simples e humilde, mas para quem a liturgia merecia o melhor dos nossos recursos e das nossas energias.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

O ensaio que já não o foi

Qualquer coro deve sobreviver à saída de um maestro, mesmo do seu maestro fundador. Uma boa obra vale por si e não pelos seus protagonistas e deve, à partida, manter-se enquanto fizer sentido. Foi esta genericamente a mensagem que procurei passar aos coralistas na noite do dia 1 de Outubro de 2009, quando lhes comuniquei a minha decisão de deixar o coro.
Era dia de ensaio, e por isso aconteceu que a maior parte dos coralistas se dirigiu ao salão do secretariado paroquial, para o ensaio. Uns chegaram mais cedo, outros atrasados e alguns faltaram, por motivos vários, como quase sempre acontecia nos ensaios semanais, em particular nas semanas em que havia mais eventos, e na véspera o coro tinha cantado na inauguração do novo órgão.
Mas, desta vez, não havia partituras disponíveis nem se começou por vocalizar. O ritual não se cumpria porque este fora o momento definido (por mim e pelas pessoas mais próximas da direcção) para contar ao coro o que se passava.
Foi o meu último momento formal com o coro. Procurei geri-lo com auto-controlo, relatando os factos que estavam na base da minha decisão de me demitir, sem recorrer a bodes expiatórios ou teorias conspiratórias. Depois fiquei à disposição das pessoas para as questões que entenderam colocar-me e para me assegurar que, apesar de tudo, queria que os laços de amizade que criáramos se mantivessem, independentemente da minha saída.
Foi difícil dizer que saía e não foi menos difícil apresentar a minha decisão como um facto consumado. É certo que a direcção estava a par dos acontecimentos desde a primeira hora e ela representava legitimamente todo o coro, mas percebi individualmente a impotência das pessoas em me demover.
Os motivos estavam fora do coro e era por entender que feriam o coro na sua identidade que eu, pessoalmente, senti que deixava de ter condições para ficar naquele contexto.
A completar esta peculiar vivência do Dia Mundial da Música, apresentei as minhas cartas de demissão ao coro, na qualidade de director artístico, e à paróquia, enquanto responsável do Serviço de Música Sacra.

Conduzi-me Senhor

No dia 1 de Outubro de 2001, o coro participou, com o Coro da Escola Diocesana de Música Sacra, num breve concerto de lançamento do CD “Conduzi-me Senhor”, gravado em conjunto uns meses antes na Igreja de S. Luís dos franceses. O lançamento teve lugar na Sacristia e claustro do Mosteiro de S. Vicente de Fora, com a organização das Edições Paulinas.

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Inauguração do novo órgão


No dia 30 de Setembro de 2009 o coro cantou no concerto de inauguração do novo órgão Mathis da Igreja dos Jerónimos.
O concerto era fundamentalmente um concerto de órgão, onde o papel do coro foi sobretudo o de fornecer os materiais para a improvisação, já que o organista convidado, o Prof. Wolfgang Seifen, é um dos mais proeminentes improvisadores e se optou, neste 1º concerto, por não tocar literatura organística.
O programa foi desenhado a partir da estrutura musical de uma missa, cabendo ao coro o intróito, o aleluia e a comunhão gregorianos da Festa de S. Jerónimo, que se celebra precisamente a 30 de Setembro, bem como alguns trechos polifónicos. O órgão, por sua vez, assegurou as grandes intervenções solísticas e alguns apontamentos no stile alternatum (versos do Kyrie e da comunhão, por exemplo).
Só ouvi o novo órgão dos Jerónimos neste dia. Não conta uma missa de Outubro a que fui e em que não notei, no sítio onde estava, qualquer diferença entre o órgão de tubos e o electrónico que estava antes. Mas no dia 30, efectivamente, a escolha do organista não podia ter sido melhor, pois o instrumento, de pequenas dimensões face à escala da Igreja, afirmou a sua presença de forma determinada, com um som poderoso e confiante, conquistando de júbilo todo o espaço à sua volta.
Para mim foi um dia de grande emoção. Não só porque ouvia pela primeira vez, depois de tantos anos de sonho com um órgão de tubos na igreja em cresci, um órgão a sério, ainda por cima de grande qualidade (apesar da dimensão reduzida), mas porque sabia que era o último dia com o coro. Não o ultimo dia com o grupo, com quem falei calmamente no dia seguinte, mas o ultimo dia com aquele instrumento musical fantástico, feito de pessoas dedicadas e empenhadas.
Foi o cálice que decidi beber, dirigindo as ultimas peças, de frente para aquela moldura humana, de pedra, de cores e de cheiros, que era o conjunto do coro com as suas vestes ao fundo da capela mor, onde experienciámos tantos dias de oração e de fruição estética e de onde procurámos proporcionar aos outros os mesmos sentimentos de interioridade ou de alegria.
Depois dos últimos acordes, da ultima frase, da última suspensão, mesmo com o órgão em festa e com as palmas finais da assistência, mergulhei no silêncio do fundo do mar, no qual o protocolo dos parabéns e os votos de felicidades me pareceram já um filme, só com imagem, no qual as pessoas mexiam a boca sem que eu as pudesse ouvir.
Tanto quanto soube, o organista gostou da prestação do coro, e o próprio organeiro me escreveu nos dias seguintes dizendo:
We returned well to Switzerland and we are still impressed and elated of the consecration ceremony in your church.
Mr. Seifen introduced our “latest child” excellent and it was a pleasure to hear the choir singing. I was overwhelmed of the chanting of the chorus, free flowing, musical, but for all that still accurate on the transitions and endings.
Unfortunately I couldn’t find you anymore after the ceremony. You were my first contact in Portugal. You’ve been always very friendly and helpful. Much to my regret, I couldn’t thank you personally, that’s why I do it this way.
E continuava, oferecendo-se para organizar um concerto com o coro, na Suíça, se pensássemos futuramente numa viagem aquele país...
Apesar de tudo, fiquei feliz pela minha última actuação com o coro, pois foi representativa da dignidade, da correcção e da sobriedade com que o coro sempre se apresentou, mesmo quando as condições lhe eram desfavoráveis.
Aparentemente sem nada a ver um com o outro, associaram-se neste dia o nascimento do órgão e a morte do coro.

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Ordenação Episcopal

Um dado muito curioso da história do Coro de Santa Maria de Belém é que, tendo os Jerónimos um coro, este nunca foi convidado para cantar nas ordenações que anualmente têm lugar naquela igreja, em que a música é assegurada por um coro ad hoc, formado por seminaristas, religiosas e outras pessoas que colaboram regularmente na Sé.
Provavelmente não há nenhuma explicação transcendente para isso, mas não deixa de ser digno de registo, como é também de registar que a única excepção a esta regra se deu com a Ordenação Episcopal do actual Bispo de Beja, D. António Vitalino Dantas, porque ao Pe. Cartageno, musico radicado naquela diocese e que conhecia o trabalho do coro de Belém, lhe fez todo o sentido que o coro participasse.
Quando estive em Beja há uns meses encontrei o Sr. Bispo, que simpaticamente recordou essa colaboração, que teve lugar a 29 de Setembro de 1999.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

O último ensaio

No dia 28 de Setembro de 2009 o coro teve o seu último ensaio, precisamente o ensaio geral para o concerto de inauguração do novo órgão. O reportório não constituía qualquer desafio, face ao grau de dificuldade substancialmente mais elevado da maioria das coisas que cantávamos domingo após domingo, mas não deixava de ser, para os coralistas, a preparação de um dia especial, com a tensão que as ocasiões especiais sempre trazem consigo.
Para mim e para as pessoas da direcção do coro, no entanto, este ensaio esteve envolto num turbilhão de emoções, porque sabíamos que era o meu ultimo ensaio à frente do coro.
No fim do ensaio cantaram-me os parabéns, porque era o meu aniversário, mas as nossas vidas já seguiam em direcções diferentes.
As decisões estavam tomadas. Pela parte da paróquia foi-me dito que a mudança do altar tinha a concordância do Cardeal Patriarca e dos serviços competentes da cúria. Não duvidei, nem tinha que duvidar. Pela minha parte, pareceu-me completamente descabido forçar mais a situação. Limitei-me a ser consequente. Assegurei a inauguração, sem estragar a festa, e saí no dia seguinte.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Um órgão para os Jerónimos?


Um órgão de tubos para o Mosteiro dos Jerónimos, foi o tema da campanha lançada em 1996 pela Paróquia de Santa Maria de Belém, sob o forte impulso do seu Serviço de Música Sacra.
Este serviço fora organizado em 1989, imprimindo uma lógica à dinamização musical da liturgia que procurava conciliar o melhor da reforma litúrgica e da pastoral saída do Concílio Vaticano II com a especificidade da igreja-monumento e tudo o que representa a Igreja dos Jerónimos.
Um passo decisivo foi a fundação do Coro de Santa Maria de Belém, em 1990, após a qual emergia como um enorme constrangimento a falta de um órgão de tubos na Igreja dos Jerónimos.
Havia registos de órgãos entretanto desmantelados que teriam estado instalados de cada lado do cadeiral, no coro alto, e ainda encontrámos algumas fotos no arquivo fotográfico municipal. E tanto o Pe. Manuel Valença, nos seus livros sobre os órgãos e a prática organística, como o ex-padre Felicidade Alves (também ex-pároco de Santa Maria de Belém), nos seus livros sobre a Igreja dos Jerónimos, falavam destes instrumentos de grandes dimensões que, à semelhança dos que também estavam instalados no Mosteiro da Batalha e no de Alcobaça, teriam sido desmantelados nos restauros que, um pouco por toda a parte, marcaram a transição do Séc. XIX para o XX, e que procuraram, sucintamente, devolver aos monumentos a sua traça original. Resultado, tal como aconteceu a muitas talhas e estuques dos séc. XVIII e XIX, lá foram os órgãos sabe Deus parar onde.
Estas parcas informações, por um lado, e a reforma litúrgica do séc. XX, desaconselhavam uma solução revivalista que reconstituísse os órgãos barrocos desmantelados. Seria um erro equivalente ao dos restauros que os fizeram desaparecer e perpetuaria a lógica de que só o que é antigo é que conta, é que é história.
A lógica seguida, pelo contrário, partiu da premissa de que é preciso fazer história, no tempo em que nos encontramos, honrando o que herdámos do passado e deixando às gerações futuras senão algo pelo que se possam orgulhar, pelo menos algo que não nos envergonhe.
Ainda me lembro de ter ido dizer isso ao Conselho Pastoral Paroquial, com um caderno que preparámos para informar e entusiasmar os seus membros.
Estávamos profundamente animados, no serviço de música e no coro, pela instalação, recente ou em curso, de novos instrumentos nalgumas igrejas do país, em especial no Porto (Sé, Igreja da Lapa, Igreja Senhora da Conceição, Igreja de Cedofeita), mas também em Leiria (Sé) e Beja (Sé), e tínhamos depois as referências dos órgãos de Paris, de Londres, da Alemanha, da Holanda, dos Estados Unidos, perante as quais me parecia uma profunda anomalia que uma igreja com a importância da dos Jerónimos não tivesse um órgão de tubos.
O mesmo deveria parecer aos milhares de turistas que a visitavam, em especial junto às horas das missas, a muitos dos quais contei vezes sem conta esta história quando me perguntavam onde estava localizado o órgão.
Pessoalmente, estive por dentro da iniciativa inicial, e em muitas reuniões desde as internas às reuniões com o Presidente da República, com o Presidente do IPAAR, com o Ministério da Cultura etc., até há pouco mais de 2 anos, mas a minha perspectiva deste assunto é, naturalmente, apenas uma entre outras possíveis, marcada talvez como nenhuma outra pela ideia subjacente ao Serviço de Música Sacra e à particular articulação com o trabalho do Coro de Santa Maria de Belém.
Constituíram-se duas comissões paroquiais, uma técnica e outra artística, organizou-se uma viagem de estudo à Alemanha, Suíça e Holanda, na qual tive o privilégio de participar, contactando com instrumentos e com oficinas de organaria, lançou-se um pedido de apresentação de propostas a um conjunto de organeiros de topo, tudo com a meta de ter o órgão no ano 2000, em que se assinalava o Grande Jubileu do Ano 2000. Se não o órgão pelo menos a assinatura do contrato.
Mas nem órgão nem contrato. A comunicação com o IPPAR não resultava, limitando-se a paróquia a informar o que ia fazendo e o IPPAR a não designar ninguém para acompanhar o processo com poder de decisão, ou de reunir condições para a tomada de decisões.
Nalguns contactos ao mais alto nível cheguei a ficar convencido de que tudo se resolveria se a Igreja se limitasse a celebrar missas (com órgãos electrónicos, claro) e o estado a restaurar órgãos e a promover concertos.
Muitas questões equívocas atravessaram estes tempos difíceis, em que não se encontrava o consenso suficiente, numa matéria já de si complexa e por isso potencialmente pouco consensual. Talvez a mais relevante tenha sido a do órgão ibérico. Como se sabe, tivemos no passado uma tradição organistica com características próprias de que nos devemos orgulhar, pelo que construir um órgão decalcado dos modelos de outras tradições organísticas seria completamente redutor. Mas também é verdade que a nossa tradição se perdeu nas vicissitudes do Séc. XIX e chegamos no séc. XX ao grau zero do órgão em Portugal. A inversão só se deu pela ligação com o exterior, através de professores estrangeiros que vieram para Portugal e de bolseiros portugueses que estudaram fora de portas.
Não fazia e não faz sentido, por isso, continuar a venerar a ‘alma’ ou o ‘espírito do órgão ibérico’ quando está em questão construir um órgão para a 2ª maior igreja do país, para usos que não eram os do séc. XVIII. É preciso não fazer tábua rasa do passado, mas também não ficar amarrado a esse passado, o que na prática não é fácil nem linear.
Já com projectos na mão e com escolhas possíveis, o assunto não avançava, num contexto institucional em que nem a Igreja nem o Estado pareciam estar à altura de um trabalho suficientemente informado para uma decisão convergente na determinação dos papéis distintos de cada um.
Foi então que surgiu a ideia de um órgão de coro. Não surgiu do nada, pois já se falava desde o início do processo de que, fosse qual fosse a localização do grande órgão (outra questão sempre muito pouco consensual) o coro precisaria de ter um instrumento de apoio junto de si, e havia pelo menos duas hipóteses: ou um positivo ou um órgão de coro, i.e., um órgão com uma dimensão entre os 12 e os 20 registos (ou mais, atendendo à escala do edifício).
Pensando na situação da maior parte das igrejas parisienses, onde há um grande órgão para as intervenções solísticas e acompanhamento da assembleia e um órgão de coro para acompanhamento do coro, de solistas e da própria assembleia em celebrações com menos participantes, a solução de um órgão de coro pareceu ser a forma mais segura de sair deste impasse.
Lembro-me de ter falado com um responsável de um serviço do Estado que me assegurou que esta seria uma questão pacífica e que a paróquia podia avançar. Mas, uma vez mais, a questão não foi pacífica.
A localização desejada para o grande órgão era a parede Norte, naquela zona entre os antigos confessionários e a esquina para o cruzeiro. Tinha a enorme vantagem, sublinhada por todos os organeiros que visitaram a igreja, de ficar mais próxima da acção litúrgica e de todos os seus intervenientes, além de que, do ponto de vista acústico, oferecia melhores garantias de distribuição e retorno do som. Mas tinha contra si a posição daqueles que defendiam a preservação da parece do risco, exactamente o local onde se queria pôr o órgão e onde estão uns riscos importantes para a história do desenho e construção da igreja. Mas a localização do órgão não teria forçosamente que ocultar os tais riscos que, aliás, apesar de tão importantes, nem sequer estão identificados ou iluminados.
Havia depois a hipótese 2, que era o coro alto, onde só havia problemas: desde logo a localização do cadeiral, que não se podia ‘beliscar’, mas que obrigaria à opção por um dos lados ou pelos dois com soluções menos mecânicas, havia depois o problema do peso e da estrutura da varanda, como sobretudo o problema da distância e do retorno, para o qual as paredes mais próximas ficavam a cerca de 100 metros!!! Isto dava um grande folhetim romanesco, pois o Estado chegou a encarregar a igreja de fazer uma prova de esforço à varanda, tendo depois mandado cancelar a experiencia quando já estavam comprados os sacos de areia, etc. Portugal no seu melhor.
Posto isto, não parecia ser difícil de definir que, o lugar para o órgão de coro seria aquele que fosse mais próximo do coro, ou seja, na capela mor. A 1ª pessoa que apontou de forma determinada esta localização foi D. Manuel Clemente, numa vez que foi aos Jerónimos celebrar a missa do aniversário do coro e a autoridade académica e eclesial da sua pessoa deram-nos novo alento.
Mas havia um problema, é que a capela mor praticamente não tinha/tem paredes vazias e é bastante estreita quando comparada com o resto da igreja.
Foi então que, inspirados pela localização recente de um órgão de coro na Capela Sistina, que obedecia a requisitos de mudança rápida de local em caso de necessidade, fomos ao encontro do seu organeiro, o suíço Mathis.
Se era possível ter colocado um órgão num local tão especial como a Capela Sistina, também não haveria de ser impossível instalar nos Jerónimos ao menos um órgão de coro.
O organeiro veio aos Jerónimos, analisou o local e fez uma proposta para o início da capela mor: um órgão de 18 registos, com uma caixa inspirada no ambiente decorativo da capela mor e dos seu túmulos. Tinha portanto as dimensões adequadas para fazer a ligação entre o coro, a assembleia e os outros ministros, podendo naquela localização suportar o mais possível o canto de todos. E tinha também a preocupação de interferir o menos possível com as perspectivas da capela mor vista de frente, uma vez que a caixa tinha pouca profundidade e o órgão se estruturava mais em altura. Chegou a contemplar duas hipótese alternativas para a consola, por causa das perspectivas e da funcionalidade.

Mas a história não ficaria por aqui, pois o IGESPAR (ex-IPPAR) excluiu a hipótese de localização do órgão de coro na capela mor e apontou com alternativa a zona do cruzeiro. Pasme-se: um órgão de coro na zona mais larga e mais alta da igreja, uma zona que sempre excluímos para a localização do coro precisamente por isso. Uma coisa é cantar um motete a cappella com a igreja quase vazia, como fazíamos no cruzeiro no final da celebração de 5ª Feira Santa, outra coisa seria cantar missas inteiras, com a igreja cheia de pessoas (incluindo turistas a falar ao fundo) numa zona tão desguarnecida, e onde estava o enorme estrado de alcatifa com o altar, e que era um autêntico buraco acústico.
Se o local não servia para o coro também não deveria servir para o órgão, mas, se era o único local em que autorizavam a localização do órgão, paciência. Mais valia ter um órgão de tubos mal localizado que não ter nenhum e continuar a fazer a música que se fazia com um órgão electrónico. Mas o mais irónico de tudo era no fundo ter um órgão de coro que não poderia servir como tal, ou seja, que estaria tão longe do coro que dificilmente o poderia acompanhar, porque o coro dificilmente o ouviria e vice-versa naquela disposição.
O que a paróquia então fez foi pedir ao organeiro que reconfigurasse o projecto da capela mor para o cruzeiro, ou seja, que dispusesse sensivelmente o mesmo número de registos numa caixa mais próxima de um cubo, respondendo também às sugestões de um interlocutor do IGESPAR que assim como surgiu também desapareceu nesta etapa do processo. Poderia ter encomendado um órgão de maiores dimensões pois, naquele local, o órgão constituiria sempre um obstáculo visual e, pelo menos poderia ser mais completo na sua intervenção. Poderia por exemplo acompanhar o coro, com recurso a um circuito interno de televisão, como fazem nas catedrais inglesas em que o órgão está ao centro sobre o jubeu, e o coro no cadeiral. Mas não houve informação e/ou vontade e/ou contexto para tal.
Qualquer pessoa poderia antever que, ao chegar um novo elemento àquela zona da igreja, com as características que se configuravam, a tendência seria começar a reorganizar o espaço, a ajeitar as peças, não sendo certo que o resultado final fosse satisfatório e/ou consensual e/ou funcional.
E foi desta forma que se chegou ao ponto a que já pouco se esperava chegar, assinar finalmente um contrato para a instalação de um órgão nos Jerónimos. Eis como o inesperado acontece e com que lógica se constroem grandes empreendimentos. Investindo todo o dinheiro que a comunidade ofereceu para a construção de um grande órgão de tubos (e não só), foi comprado o órgão que lá está hoje, na minha perspectiva um excelente instrumento musical mas uma peça arquitectónica que agride o local e que, apesar do seu carácter móvel, feriu de morte o equilíbrio que havia, ao nível do espaço e ao nível dos intervenientes.
Já pouco acompanhei o processo na fase final porque pedi que me dispensassem quando chegaram a acordo para esta solução, há pouco mais de dois anos. Do ponto de vista organológico o meu contributo era insignificante e perfeitamente colmatado pelo de outras pessoas envolvidas, e a solução para o problema foi posta em tais termos que também não quis ficar com o ónus de não se ter órgão nenhum.
Literalmente afastei-me quando o processo deixou de me fazer sentido, e expressei honestamente que ajudava mais estando afastado do que por perto, pois o que faltava era adjudicar o contrato, construir e instalar o órgão.
Não querendo ser juiz em causa própria creio que este afastamento foi um acto de responsabilidade, como foi a opção musical para a qual orientei o coro no ano seguinte, que tinha por base uma dinâmica mais de alternância do que de acompanhamento. Sem querer estava até a voltar à prática organistica ibérica onde o órgão sempre teve mais um papel dialogante (stile alternatum) que acompanhante.
Em 2008/2009 experimentámos uma prática musical litúrgica onde se passou a ouvir mais o coro a cappella e se remeteu o órgão mais para um papel solístico, sem alterar o esquema das missas só com cantor e órgão. Isto foi feito, uma vez mais na rentrée, sobre a qual temos vindo a falar como um período propício a acções de melhoria, e, também, uma vez mais, com a concordância do Pároco, com base num documento que preparei no Verão de 2008. O recurso desta proposta era, no caso do coro, cantar mais gregoriano e polifonia clássica, nada mais nada menos que pôr em prática as orientações do concílio que permanecem no caso português quase letra morta.
A inauguração que teve lugar a 30 de Setembro de 2009 ilustrou de forma exemplar o sentido desta ‘nova’ prática, pois consistiu num concerto em que o coro cantou o próprio e excertos do ordinário, e em que o órgão assumiu as grandes introduções, os interludios, os momentos de meditação e alguns versos em alternância. A experiência tinha resultado e poderia continuar. O coro adaptara-se a tempo e horas para a mudança. Mas nem todos se preparam com tanta prudência.
Aparentemente estavam criadas as condições para que a organização musical e litúrgica se qualificasse, mesmo continuando sem vislumbrar o grande órgão. Acontece que me fora comunicado pelo Pároco durante o mês de Setembro que o coro tinha de mudar de sítio, não necessariamente para o pé do órgão mas para um sítio não definido, ou seja, o coro tinha de adaptar-se, porque o estrado de alcatifa iria ser retirado e a capela mor voltaria a ser a zona do altar propriamente dita.
Perante a minha recusa em acatar esta decisão sem direito a recurso comuniquei que iria sair e que o coro deveria continuar o seu trajecto. Efectivamente nada de substancial aconteceu no sentido de mudar o curso das coisas e foi neste ambiente que preparei o coro para a inauguração do órgão.

As folhas da assembleia

Continuando a falar das acções de melhoria geralmente implementadas no início do ano pastoral, no regresso do coro à participação regular na liturgia após a interrupção para férias, deixamos hoje uma referência às folhas da assembleia, ou seja, aos subsídios produzidos para apoio à participação da assembleia na liturgia através do canto e da música.
Quem siga este blogue e não tenha conhecido muito de perto o trabalho do coro, até poderá ser levado a pensar que a assembleia não constituia para este uma prioridade. Nada de mais errado. O que se considerou sempre foi que, havendo um coro e uma assembleia, o papel de ambos não deveria ser o mesmo, mas distinto e convergente. E por isso a posição do coro foi sempre a de quem podeira proporcionar à assembleia um nível de participação que não se esgostava no cantar. A esse nível, cantou sempre com esta as respostas no diálogo com o presidente e os refrães que a maioria dos hinos, mesmo os mais elaborados, sempre contemplavam, a pensar no canto da assembleia.
Mas, noutro patamar, tendo o coro a possibilidade de cantar reportório coral, a sua preocupação foi também a de apoiar a participação da assembleia numa perspectiva menos directa mas nem por isso menos importante. Falamos da participação através da escuta orante, do convite à interioridade e à reflexão, que Santo Agostinho ilustrou como ninguém quando disse, numa referência já citada neste blogue: Como eu chorei ao ouvir os vossos hinos, os vossos cânticos, as suaves harmonias que ecoavam pela vossa igreja! Que emoção me causavam! Passavam pelos meus ouvidos, derramando a verdade no meu coração.Um grande impulso de piedade me elevava, e as lágrimas rolavam-me pela face; mas faziam-me bem. (Conf. 9, 6, 14).


Para sustentar esta interacção entre coro e assembleia, que passava por cantar em conjunto as partes da assembleia e oferecer a esta momentos estratégicos de escuta, o coro produziu desde a sua primeira participação numa missa, as ditas folhas da assembleia, que continham basicamente os refrães para o canto directo da assembleia e outros elementos informativos, como o nome das peças que o coro cantava, as traduções de todas as obras que não eram em português e também, a partir de um certo momento, os próprios textos das antífonas e todas as partes que o coro cantava, mesmo em português, para facilitar a compreensão dos mesmos num espaço de grandes dimensões e com uma acústica complexa.

As folhas da assembleia começaram por ser em formato A6, contendo apenas os refrães. As primeiras não tinham logo, mas ao fim de uns tempos adoptou-se o desenho dos Jerónimos, com umas nuvens, que fomos retirar às folhas paroquiais dos anos 60. Ainda me lembro de ver colar quatro imagens numa folha A4, nos tempos em que não havia scaner e era tudo a tesoura e cola.

A inovação começou nos dias de festa com uns cadernos A5 com texto e música dos refrães e traduções de peças em latim, com os títulos Natal em Belém e Páscoa nos Jerónimos, mas também os havia no Pentecostes e num ou outro dia mais solene.
No Jubileu do Nascimento de Cristo produzimos um Guião, impresso em tipografia, com letra e música de refrães para os diversos momentos da missa e para as várias etapas do ano litúrgico. Usou-se ainda depois mais um ano ou dois, numa lógica semenhante ao dos livros de assembleia dos países da Europa do Norte, apenas com a diferença de que não projectavamos o número dos cânticos, mas publicavamo-los na folha paroquial.
As folhas da assembleia não eram produzidas pelo coro mas pelo Serviço de Música Sacra e passaram, desde o ano 2000, a servir todas as missas pelas quais este era responsável.

A seguir ao guião, vieram umas folhas A4 com pautas e títulos graficamente inspirados no Novo Cantemos Todos. Estas folhas continham apenas os cânticos do próprio e ao seu lado foram produzidos uns opusculos A5 com os cânticos do ordinário. As primeiras serviam apenas para cada domingo, enquanto que os segundos ficavam de domingo para domingo só sendo mudados quando mudava o tempo litúrgico. As suas capas tinham cores alusivas ao decurso do ano litúrgico e aos paramentos usados em cada tempo.
As folhas A4, que eram comuns a várias missas, indicando aquilo que se se fazia de comum e de diferente, tiveram depois uma alteração gráfica no sentido de se tornarem menos pesadas, e também para adoptar o logotipo que a paróquia entretanto passou a usar.

Estas folhas só foram substituidas em Setembro de 2008, por umas folhas A4 dobradas (pequeno caderno A5), com todos os textos e músicas dos refrães, e referências às leituras. Era feita uma especial para a missa solene, em que o coro participava, outra para as outras missas e uma que se usava mais de uma semana para a missa da catequese, que tinha um reportório diferente.
Esta ultima modalidade tinha inspiração mais directa nas folhas da Catedral de Westminster, em Londres, enquanto que as anteriores eram mais parecidas com as folhas da Notre Dame de Paris, tal como eram as das Vésperas Solenes, que seguiram sempre um figurino muito parecido com as da catedral parisiense.
A sequência destes diversos subsídios fica para a história como sinal da preocupação com o envolvimento e a participação da assembleia, através do canto e da escuta orante.