quinta-feira, 29 de abril de 2010

Soli Deo Gloria


Nesta data, em 2006, teve início o 2º fim de semana dos III Cursos Livres de Música Sacra com os professores António Esteireiro, Eugénio Amorim e José Paulo Antunes. Destacaria neste fim de semana a conferência sobre o tema ‘Celebração cristã e formas musicais para a Liturgia’ feita pelo Prof. Paulo Antunes, da Universidade Católica Portuguesa – Escola das Artes.
Conheci-o nos cursos de Música Litúrgica de Fátima, organizados pelo Secretariado Nacional de Liturgia, na altura em que preparava o seu Doutoramento na Universidade de Regensburg. Para além das nossas conversas em Fátima, relembro o contacto com os exemplos musicais que usou no seu trabalho, numa visita que lhe fiz àquela cidade alemã, e que constituiram para mim, a par do contacto com a Academia Superior de Música Sacra, onde também estudava música, e da famosa Catedral de Regensburg, uma oportunidade de abrir horizontes.
A tese veio a ser publicada, numa versão da UCP – Biblioteca Humanística e Teológica, com o título ‘SOLI DEO GLORIA – Um contributo interdisciplinar para a fundamentação da dimensão musical da liturgia cristã’ e foi no acesso a este documento que passei a relacionar, entre outros aspectos, ritos e formas musicais, bem como a aprofundar a história e o sentido de cada rito que uma celebração litúrgica integra. E isto foi determinante nas opções feitas na prática musical e litúrgica que se procurou desenvolver em Belém. Foi também um recurso fundamental para as vezes em que fui chamado a falar sobre estas matérias, relacionando a minha experiência concreta com este enquadramento conceptual.
Data também da sua estadia em Regensburg uma importante carta que me enviou sobre os princípios base da constituição de um coro de Pequenos Cantores, em resposta a um pedido de ajuda para avançar com um projecto deste tipo em Belém.
E o mais importante foram, sem dúvida, as muitas conversas que pudémos ter, num quadro onde a amizade fez a diferença. Para além da sua formação teológica e musical, o Prof. Paulo Antunes teve uma experiência pastoral concreta, na Paróquia de Cedofeita, entre outras experiências liturgico-musicais, no Porto e na Alemanha, o que deu sempre às suas ideias a sustentabilidade própria de quem liga a teoria à prática.
Das suas intervenções em Belém, sempre muito apreciadas, ficou a ideia forte de que o modo como fazemos música na liturgia afecta efectivamente a estrutura da celebração e o modo como celebramos. Pois a música não é um adorno, um brilho suplementar, mas faz parte integrante da acção liturgica e da sua essência. Daí a responsabilidade deste ministério e daqueles que nele intervêm, porque a sua intervenção contribui para uma melhor ou pior qualidade da celebração e dos frutos que dela retiram os que nela participam.
Por tudo o que aqui fica escrito, obrigado!

terça-feira, 27 de abril de 2010

Aeterna Christi munera


Sempre que organizava encontros de formação, o coro fazia a ponte com a liturgia pondo os participantes a cantar na missa solene. E foi isso que aconteceu no workshop com Ghislaine Morgan. No domingo 27 de Abril de 2008, a missa do meio dia contou com um coro um pouco diferente do habitual, mas que seguiu à linha os hábitos da casa, nas entradas e saídas, cortejos etc. Sobretudo para os portugueses, percebia-se que era uma experiência singular cantar num espaço como os Jerónimos (a vista da igreja que o coro tinha a partir da capela mor era soberba), e atribuindo à música na liturgia um papel e um estatuto que ela entre nós, infelizmente, não tem. Papel e estatuto que continuam letra morta nas orientações conciliares, citadas a propósito e a despropósito para fundamentar práticas que nada têm a ver com essas orientações. Nesse domingo de Abril, cantou-se a belíssima missa Aeterna Christi munera de Palestrina, uma obra ao mesmo tempo simples e profunda. Com reportório deste até os não crentes sentem uma irresistível atracção pelo alto, a que só no mais íntimo se pode subir.

domingo, 25 de abril de 2010

Ghislaine Morgan em Belém


Conheci Ghislaine Morgan em 2005, quando participei no Corso Internazionale per Direttori di Coro e Coristi Cittá di Rimini que anualmente tem lugar em Itália. Entre outras personalidades, esse curso é marcado pela presença de Peter Phillips, que já conhecia das Jornadas do Eborae Musica, e o papel de Ghislaine é fundamentalmente o de preparadora vocal do curso.
Desde esse encontro que não descansei enquanto não foi possível ao Coro de Santa Maria de Belém convidá-la para orientar um workshop sobre técnica vocal para coros, o que veio a acontecer de 25 a 27 de Abril de 2008, e depois, de novo, em Maio no ano seguinte. Queria sobretudo provocar um encontro de trabalho com o coro e abrir essa oportunidade a outras pessoas ligadas aos coros, em especial aos coros de igrejas. Participaram no workshop também pessoas vindas de outros países da Europa e dos Estados Unidos.
Ghislaine é uma comunicadora nata. A sua boa disposição é contagiante e a empatia que cria à sua volta acontece em poucos minutos, com a máxima naturalidade. Mas não seria por isso que valeria a pena convidá-la. O que é verdadeiramente único no seu trabalho, falando para o contexto da música coral em Portugal, é a afirmação de que existe uma técnica vocal própria para coros. Não chega, portanto, a distinção entre vozes preparadas e não preparadas, quando o que está em causa é conseguir uma voz potenciada mas que funda no conjunto. E isso é tão válido para simples coralistas de um coro amador como para os elementos de um coro profissional.
Os seus exercícios de ‘ginástica mental’ são interessantíssimos, numa perspectiva de acordar todos os elementos de que precisamos para cantar e cantar em conjunto. E depois todos os exercícios de respiração e de treino de uma emissão vocal ao mesmo tempo presente e agradável fazem do tempo em que estamos consigo um tempo precioso.
Ghislaine organiza ela própria um curso em Portugal, no verão, em Sintra, mas encontrou no Coro de Santa Maria de Belém um contexto em que se sentia bem. Voltou no ano seguinte, chegando a colaborar num ensaio de preparação para um concerto com os Chandos Anthems de Handel. E já depois do coro acabar não deixou de fazer sugestões para projectos futuros, perplexa sobre o modo abrupto como se perdera toda uma dinâmica.
Quando a conheci, fiquei a perceber porque cantam como cantam muitos coros ingleses de que sou profundamente admirador. E fiquei feliz de poder ter partilhado este tesouro com o coro.
Um coro é bem mais do que um grupo de pessoas que se juntam para cantar. E mesmo os que se lhes associam pontualmente não podem ficar à parte do tempo e do trabalho que se gasta a moldar uma identidade vocal. E quem trabalha para uma identidade vocal, trabalha, mesmo que não pense nisso, para uma identidade de grupo cujo sentimento de pertença vai muito para além da sua existência institucional, quando conquistada uma harmonia que já ninguém pode destruir.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Sé de Beja


Dia 21 de Abril de 2001, o coro concluiu o ciclo de concertos dedicados ao centenário da morte de Josef Rheinberger com um concerto na Sé Catedral de Beja, no qual participaram também o organista António Esteireiro e um quinteto de cordas. Este evento contou com o especial acolhimento do Padre Cartageno e do Coro do Carmo de Beja, que providenciaram calorosas refeições. Os nossos ouvintes manifestaram o maior agrado e, com este concerto, o coro ficou com Rheinberger decididamente num lugar muito especial.
Este concerto foi noticiado no Boletim do Secretariado Nacional de Liturgia.

sábado, 17 de abril de 2010

Ubi caritas


Depois de tantos dias a referir as celebrações do Tríduo Pascal na Igreja dos Jerónimos, eis o último registo destes, para assinalar a Missa Vespertina da Ceia do Senhor, com que se iniciou o tríduo de 2003. Sobre as restantes celebrações não há registos disponíveis. Esta Quinta Feira Santa, que abriu, como tantas outras, com o Toda a nossa glória de M.Luís, harmonizado por António Esteireiro, contou com a intervenção a solo de Miguel Farinha com a peça Ubi caritas, de F.Peeters, uma obra afirmativa deste compositor belga cujo centenário do nascimento o coro assinalou nesse ano.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

A Páscoa gloriosa


Nesta data, o coro participou duas vezes na Missa Solene da Ressurreição. Em 1994 cantou à entrada o hino Ó Páscoa gloriosa. Este hino do Pe. Ferreira dos Santos permaneceria à entrada deste dia e de outros domingos do tempo pascal durante alguns anos. Chegou a ser cantado com prelúdios e interlúdios para metais, transcritos a partir de umas gravações em cassetes, das músicas do Boletim de Música Litúrgica do Porto, onde o Coro de Santa Maria de Belém procurou a maior parte do seu reportório em português. Depois, este hino passou a ser escolhido mais como cântico de assembleia, em particular nas missas sem coro.
Já em 2006 o programa da missa de Páscoa foi o introito e a comunhão gregorianos e a Spatzenmesse de Mozart, a cargo do Coro & Ensemble de Santa Maria de Belém, traduzindo um visível crescimento do coro, tanto no plano musical como organizativo, orientado para um espaço excepcional como os Jerónimos.
Não havia, de facto, outra situação musical litúrgica como esta, em Lisboa, criada a partir de uma base local. E não há hoje ainda.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Matacães

«Chama-se mata-cães a uma abertura no chão entre as mísulas que sustentam as ameias ou os balcões das fortificações medievais, através da qual se podia observar os atacantes que se encontravam na base da muralha defensiva, agredindo-os com pedras ou outros objectos».
«Segundo a tradição, o topónimo está relacionado com as guerras da Reconquista Cristã entre as tropas de D. Afonso Henriques e os mouros. Depois da conquista de Torres Vedras, os cristãos caíram em cima do inimigo, com as frases “mata esses cães” a ecoar nas bocas dos portugueses.»
Eis duas definições possíveis para o nome da localidade onde o coro deu um concerto no dia 15 de Abril de 2000, na Igreja de Nossa Senhora da Oliveira, Concelho de Torres Vedras.
Em contraste com as origens belicistas da toponímia, este concerto ficou marcado por um excelente acolhimento.
A iniciativa veio do Pároco, que pretendia assinalar o Dia Jubilar da Paróquia com um concerto. Fomos ao seu encontro com o programa do Tricentenário da Morte de Diogo Dias Melgás, que proporcionou uma boa experiência cultural e espiritual em tempo de Quaresma.
Deixando para trás a confusão da cidade, chegámos a Matacães como quem chega a um oásis: uma igreja muito bonita, numa localidade tranquila, com gente acolhedora e o bom ar do Oeste.
A iniciativa contou com o apoio da Câmara Municipal de Torres Vedras e foi noticiada no jornal da região, como pudemos depois constatar no lanche que nos ofereceram depois do concerto.
Um dia a não esquecer.

O Aleluia Pascal


Na Vigília Pascal de 1995, a 15 de Abril, o coro cantou pela primeira vez o tríplice aleluia gregoriano que antecede o Evangelho, uma melodia belíssima que foi recuperada na nova edição do Missal de altar que acabara de ser publicada no ano anterior.
Mas havia uma dificuldade, que perdurou, e que tinha a ver com o ‘como fazer’ este aleluia, uma vez que o missal apenas tem a melodia do aleluia e não sabiamos com que música cantar as estrofes do salmo 117 que está previsto cantar nesse momento.
O Novo Cantemos Todos, que foi um livro do Secretariado Nacional de Liturgia publicado no final dos anos 80 e que seguimos sempre de perto para a organização da música nos tempos litúrgicos (em especial a da assembleia), não tinha ainda este aleluia, mas aquele muito simples, que se usa como aclamação antes do evangelho e que as pessoas costumam chamar de Aleluia Pascal. Na verdade, esse aleluia mais simples é originalmente a antífona de comunhão da Vigília Pascal , aparecendo também como antífona de Laudes do domingo de Páscoa.
Interrogámos músicos , liturgistas, colegas de outros coros, e ninguém tinha propriamente uma solução clara para a questão. À falta de melhor, cantavam primeiro o triplice aleluia e depois seguiam com o aleluia mais simples as estrofes do salmo 117. Essa solução nunca nos convenceu, até pela diferença de modos em que estão escritos, o primeiro aleluia no VIII modo e o mais simples no VI. Por isso criámos uma solução em Belém que foi aplicar ao tríplice aleluia a salmodia do VIII modo para se cantar o salmo. E, porque a Vigília é uma celebração muito importante, usámos a salmodia solene como a que se usa nos introitos (no do Pentecostes, por exemplo) que tem um final belíssimo.
Este aleluia da vigilia é proposto pelo presidente e não pelo coro. É proposto 3 vezes, em tons cada vez mais agudos, do mesmo modo como é cantado o convite à adoração da cruz em Sexta Feira Santa (Eis o madeiro da cruz… vinde adoremos) e as invocações da Liturgia Lucernar mesmo no início da vigilia Pascal (A luz de Cristo… Graças a Deus). E, de facto, todo o crescendo da liturgia lucernar e da Liturgia da Palavra encontrava no canto do aleluia assim feito um ponto alto, não tanto um sinal exterior de festa, que era, mas uma interpelação à festa que brota primeiramente da convicção interior da Ressurreição de Cristo.
Mais tarde, encontrei um aleluia polifónico composto sobre estre triplice aleluia, também com 3 intervenções, cada uma delas um tom subido em relação à anterior. Foi a partir desta composição de G.B.Martini que organizamos este momento ritual de uma forma muito completa, iniciando com o canto do presidente, seguindo depois das 3 invocações gregorianas com a versão polifónica e finalmente o salmo 117, tendo sempre como refrão o aleluia gregoriano, e intervenções solísticas muito festivas por parte do órgão. Foi assim que se fez durante vários anos, como por exemplo em 2006, em que a Vigília Pascal voltou a calhar a 15 de Abril.
Em 2009 retomou-se o esquema do Graduale Triplex, cantando apenas o triplice aleluia seguido do 1º verso do salmo em versão elaborada (Confitemini Domino). Foi assim que vi fazer, há poucos dias, na Catedral de Westminster, em Londres, onde um padre se dirigiu ao Arcebispo e lhe disse antes do aleluia: «Reverendíssimo Padre: trago-lhe uma mensagem de grande alegria – Cristo ressuscitou».

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Popule Meus


No dia 14 de Abril de 1995, o coro cantou pela primeira vez os impropérios de Palestrina, na Celebração da Paixão. Trata-se de uma peça de escrita simples mas de efeito solene que segue o texto proposto para o rito da Adoração da Cruz em Sexta-Feira Santa. O texto é recitado através de uma sucessão de acordes ao estilo do falso bordão, pondo em confronto invocações em grego e em latim (Hagios…Sanctus). O refrão dá à peça um caracter de ostinato sobre a interrogação Popule Meus qui fecit tibi…? (Meu Povo, que te fiz eu, em que te contristei? Responde-me).
Tudo tem uma história: Conheci esta peça através de uma interpretação de um disco da Archiv que passei a ouvir todas as sextas feiras santas, em geral antes de ir para a celebração da tarde. Depois foi preciso ter acesso à peça, o que se concretizou através da encomenda a uma editora alemã. Lá chegou um dia um pacote com uns 20 exemplares, à boa maneira dos países onde é mesmo proibido usar fotocópias. E, à boa maneira portuguesa, o pacote ficou guardado para as partituras não se estragarem ou perderem e tiraram-se cópias. Esta peça cantou-se quase todos anos, apenas uma vez ou outra sendo substituida por um cântico em português sobre o mesmo texto.
Em 2006 a Sexta-feira santa voltou a ser no dia 14 de Avril, e os registos dão conta da execição dessa peça. Na mesma data do calendário, celebrou-se, em 2001, a Vigília Pascal, onde o coro cantou a Missa puerorum e o Regina caeli de J.Rheinberger.

terça-feira, 13 de abril de 2010

Messias em Cascais


A 13 de Abril de 2003, aproveitando o programa e o elenco do Concerto de Reis realizado nos Jerónimos nesse ano, o coro apresentou o Messias de Handel na Igreja de S. Domingos de Rana, Concelho de Cascais.
Guardo desse concerto o pouco tempo de preparação, que resultou numa execução pouco gratificante. Basta recordar que, a escassas horas do concerto, a logística estava a maior confusão e ninguém se entendia do lado da organização, coisa a que não estava habituado quando a iniciativa e a organização estava sob a responsabilidade do coro.
Teria de esperar mais 6 anos para voltar ao Messias, agora noutras condições e com mais à vontade, numa produção altamente gratificante.
Também a 13 de Abril, mas de 2006, dava-se inicio ao tríduo Pascal de 2006. Na Missa da Ceia, o coro cantou, entre outras obras, o Ave Verum de Mozart e um Tantum Ergo de Bruckner.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Meu Senhor e meu Deus

Nos arquivos da memória, encontro 3 acontecimentos completamente distintos na vida do coro, com a data de 12 de Abril: um concerto e duas missas.
O concerto foi em 1997, na Universidade Católica Portuguesa, a convite do Centro de Estudos Pastorais para um momento cultural integrado no Simpósio “Jesus Cristo, Único Salvador do Mundo”. Um auditório cheio, com poucas condições acústicas, mas com uma plateia atenta e calorosa.
Quanto às missas, uma foi uma Missa de sufrágio pelo Papa João Paulo II, em 2005, presidida pelo Núncio Apostólico em Portugal nos Jerónimos, e a outra a Missa Solene da Ressurreição nos Jerónimos em 2009.
A missa pelo Papa foi uma celebração de grande densidade, com muitas pessoas de fora, pouco habituadas, especialmente os sacerdotes, ao perfil de intervenção do coro. Esta missa foi em muito semelhante a outra que teve lugar pouco tempo depois dos atentados de 11 de Setembro de 2001 nos Estados Unidos. Em ambas cantámos o introito e a comunhão da Missa de Defuntos G.F.Anerio.
Quanto à Missa de Páscoa de 2009, a única particularidade é ter sido a última do coro. Mas isso, ninguém sabia então.
Ao escrever esta nota na 2ª semana de Páscoa, estes acontecimentos, assim sobrepostos, evocam-me a frase de Tomé perante o Senhor da História e Único Salvador. Meu Senhor e meu Deus.

domingo, 11 de abril de 2010

O apagão


Por razões até hoje desconhecidas, aconteceu algo de invulgar na noite de Páscoa do ano 2004, de 10 para 11 de Abril. A Vigília Pascal tinha terminado, as pessoas tinham dispersado, e a igreja ia fechar dentro de minutos. Faltava apenas fazer algumas arrumações para facilitar o dia seguinte quando, subitamente, a luz foi a baixo.
Que grande ironia, já que a celebração da Vigília Pascal começa com a igreja às escuras e a entrada do círio cuja luz se vai alastrando pelas velas dos fiéis, acendendo-se as luzes electricas ao 3º ‘Lumen Christi’, e depois reforçadas no Gloria e no Evangelho.
Mas não, não era outra vigília, era mesmo uma anomalia técnica.
Devo dizer que estar na Igreja dos Jerónimos à noite, apenas com a iluminação exterior que atravessa os vitrais é uma experiência que nunca vou esquecer.
De lanterna em riste lá foram vistos o quadro electrico da igreja e também outro situado algures nos claustros. E nada. Ninguém estava contactável e no outro dia, ou melhor, daqui a umas horas, era domingo, Domingo de Páscoa!
Com redobrado cuidado, não fosse alguém esconder-se na nalgum recanto, a igreja lá foi fechada à luz da lanterna e em ambiente de inquietação.
No dia seguinte, nada tinha mudado e ninguém poderia vir socorrer uma dificuldade técnica no 1º monumento nacional, porque era Domingo de Páscoa. Ainda se fosse um museu, agora uma igreja… por causa de uma missa (?!).
A luz do dia ajudava, mas, a falta da corrente electrica trazia um constangimento forte: não havia amplificação sonora.
Numa igreja tão grande é quase impossível fazer uma missa de domingo, com uma grande assembleia, sem som amplificado para a voz falada. Salvou a situação um magafone guardado na sacristia, que teria sido usado em procissões no exterior.
Mas também não havia órgão, o que, num Domingo de Páscoa resultava um pouco paradoxal.
E foi assim que se chegou à hora da Missa Solene da Ressurreição na qual o coro tinha de cantar.
E cantou.
Cantou a Missa em Sol, de Caldara, com o positivo calado à espera que a luz voltasse. Nunca um contrabaixo e um violoncelo nos tinham dado tanto apoio. Numa peça só com cordas, a afinação do coro foi muito boa.
Com um reforço de velas para os instrumentistas, lá se fez a missa sem grande dificuldade. O restante reportório, a cappella, esse então foi recebido numa atmosfera fantástica, em que todos estavam mais disponíveis para ouvir, desde a primeira sílaba do introito gregoriano Resurrexi, sem qualquer prelúdio instrumental.
As pessoas ficaram admiradas com a prestação do coro e foram mais elogiosas do que o costume. Diziam que o coro tinha soado melhor nesse dia.
Ora, um grande problema ao tentar cantar sem microfones é a alternância com a voz amplificada do presidente. Quando, por exemplo, este diz ou canta o prefácio ao microfone e introduz o Sanctus (cantando a uma só voz), as pessoas precisam quase de 10 segundos para se reconfigurarem auditivamente, e só ao fim de uns compassos ouvem melhor.
Foram tomadas algumas medidas a partir desse dia, no que respeita à iluminação electrica. Mas talvez a mais importante, é que o coro decidiu cantar sem microfones, o que aconteceu pouco tempo depois.
Depois, de facto não se ouvia muito, mas ouvia-se melhor, isto é, de forma mais genuína e autêntica. A dinâmica não estava no botão de nenhuma mesa de mistura, mas na mão de quem dirigia. Voltaremos a esta questão.
A data de 11 de Abril ficou assinalada com mais duas vigilias pascais. A de 1998, quando, pela 1ª vez em Belém, se fizeram todas as leituras propostas pelo missal e respectivos salmos e orações e a de 2009, que viria a ser a última do Coro de Santa Maria de Belém, na qual cantou basicamente gregoriano (a Missa I Lux et origo, Fontes et omnia, Alleluia Confitemini e Pascha nostrum).
As vigílias eram celebrações gealmente simples mas muito belas.

sábado, 10 de abril de 2010

Frente a frente


A 10 de Abril, o coro participou, em 2004, na Vigília Pascal, cantando o Alleluia Confitemini Domino de G.B.Martini e o Sicut cervus de Palestrina, entre os outros cânticos próprios. Em 2005, encerrou os II Cursos Livres de Música Sacra, com uma missa nos Jerónimos, na tarde de domingo. Finalmente, cantou em 2009 na Celebração da Paixão.
A Páscoa de 2009 foi a última do Coro de Santa Maria de Belém, e talvez a mais interessante. A meta estava posta na digressão a Londres, que decorreu no Verão, e isso viu-se não apenas no reportório (com maior incidência de reportório português) mas também na disposição do coro, pois na maior parte das igrejas inglesas, tanto anglicanas como católicas, a disposição dos coros divide-os geralmente em duas metades que cantam literalmente frente a frente, e isso era para nós um dasafio a considerar.
Para aumentar a dificuldade, de cada lado há geralmente quatro vozes, o que significa que se o coro cantar a quatro vozes terá uma distribuição espacial a oito. Quando estes oito semi-grupos não ficam comodamente perto dos seus semelhantes (baixos perto de baixos e por aí fora) o desafio é ainda maior, mas o resultado é substancialmente melhor, pois exige-se de cada um uma maior autonomia, no cantar e no ouvir, e o resultado total é bem mais integrado, se os cantores tiverem, de facto, essa autonomia.
Nos ensaios, o coro ensaiava já há alguns anos nesse frente a frente, com direcção/piano ao meio, mas na Celebração da Paixão de 10 de Abril de 2009, cantámos já nessa disposição. Entre outras peças, cantámos o Popule meus, a oito vozes, de Diogo Dias Melgás, que resultou muitíssimo bem, nos seus semi coros que dialogam as frases gregas e latinas dos Impropérios. Cantou-se também o Crux fidelis de D.João IV, o breve In manus tuas de Estevão Brito e o Christus factus est gregoriano. Desprovida de caixas de madeira e outros elementos de ressonância, a capela mór dos Jerónimos foi conquistada pelos planos sonoros assim dispostos, e, meses depois, a catedral de S Paulo em Londres já não pareceu assim tão gigantesca…

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Mozart sempre


Mozart foi um compositor a todos os títulos extraordinário, e o seu contributo na área da Música Sacra deixou-nos páginas de uma beleza inigualável. Contextualizando devidamente esse contributo no ambiente cultural e estético em que viveu, ninguém poderá dizer que a sua música sacra é igual à sua ópera e que, nos nossos dias, este reportório já não deve ter lugar nas igrejas mas apenas nas salas de concerto. E o facto é que as suas missas e os seus motetes são executados em muitas igrejas da Europa e dos Estados Unidos no próprio contexto das celebrações, reconhecendo nesse reportório, efectivamente, não apenas expressão de festa e de solenidade, mas também de piedade, de perdão, de confiança, de elevação…, um reportório que serve, portanto, à glória de Deus e à santificação dos fiéis.
O Coro de Santa Maria de Belém fez Mozart muitas vezes. Só não fez mais porque a maioria das suas obras requer formações instrumentais amplas e variadas, com os inerentes custos. Cantou a Missa da Coroação, em Janeiro de 2002, num concerto com a Orquestra de Cascais e Oeiras, como já foi referido. Cantou depois várias vezes, tanto em celebrações como em concertos, a Missa Brevis et Solemnis em Dó M Spatzenmesse K.220 e a Missa Brevis em Sol Maior K.49, para além de motetes (Veni Sancte Spiritus e o clássico Ave Verum), ofertórios (Ofertório Benedictus sit Deus K.117), excertos de obras (como o Laudate das Vésperas solenes de um Confessor) e alguns Kyries e Sanctus isolados. Usou também muito regularmente as chamadas Sonatas da Epístola, breves peças instrumentais para trio de igreja, escritas ao estilo das Sonatas da Chiesa, e que se usavam em Salzburg em substituição do cântico intercalar antes do Evangelho. Em Belém usámos estas sonatas com frequência ao ofertório e as mais festivas (com metais) também à saída das missas.
Em 2006, o coro reforçou a execução destas obras ao longo do ano, para assinalar os 250 anos no nascimento do compositor. Um dos eventos que enquadrou nessa comemoração foi o concerto de Páscoa nos Jerónimos, realizado a 9 de Abril, em que cantou a Spatzen Mess e a Missa em Sol, com a participação de Raquel Alão, Carolina Figueiredo, Miguel Farinha e José Pedro Bruto da Costa, com os quais apresentou este reportório várias vezes.

A meta e a fonte


A data de 9 de Abril regista várias actividades do coro.
Em 1995, foi Domingo de Ramos. Nesse ano publicou-se o segundo caderno de cânticos para a assembleia para a Semana Santa, desta vez com o repertório de música sacra histórica com as traduções em apêndice.
Em 1998, iniciava-se o Tríduo desse ano com a Missa da Ceia, na qual o coro cantou o Tantum ergo de Carlos Seixas.
Em 2004, foi dia de Celebração da Paixão, em Sexta-Feira Santa, com Crux fidelis de D.João IV, Popule meus, de Palestrina, Adoramus te, de Fr.Rosselli e Adjuva nos, de Melgás.
Em 2009, também houve Missa da Ceia a 9 de Abril. Para além da versão da Missa De Angelis de Bartolucci, o coro abriu a celebração com o motete a 5 vozes Nos autem gloriari, de Cardoso, e cantou no rito do Lava-Pés, do mesmo compositor, Domine tu mihi lavas pedes.
Foi também nesta data do calendário que em 2005 teve lugar o 3º e último fim de semana dos II Cursos Livres de Música Sacra, com a participação dos professores António Esteireiro, António Mário Costa, Eugénio Amorim e José Paulo Antunes.
Finalmente, há a registar que o coro deu dois concertos nos Jerónimos a 9 de Abril, em 2000, no âmbito do Tricentenário da Morte de Diogo Dias Melgás, e em 2006, com um programa dedicado a Mozart.
Os cursos livres foram iniciativas destinadas a melhor preparar aqueles que intervêm na Liturgia na área da música. Por outro lado, os concertos promovidos pelo coro em Belém tiveram sempre o propósito de assinalar a vivência dos tempos mais fortes do calendário litúrgico, funcionando como que um prolongamento ou uma ressonância das celebrações litúrgicas, permitindo uma fruição complementar destas.
Nesta perspectiva, a sincronia de cursos, celebrações e concertos, nesta simples data do calendário, faz lembrar a imagem da Liturgia simultaneamente como a meta para a qual se encaminha a acção da Igreja e a fonte de onde promana toda a sua força (SC 10).

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Resurrexi

Dia 8 de Abril de 2004, iniciou-se o Tríduo Pascal desse ano com Missa Vespertina da Ceia do Senhor, na qual o coro cantou o Ubi caritas de J.Barnard, e O salutaris de T.Sousa.
Em 2007, o tríduo chegava ao fim a 8 de Abril, com a Solene Missa da Ressurreição. Resurrexi, foi o introito gregoriano com que o coro deu o mote à celebração, na qual cantou depois a Missa brevis St.Joannis de Deo, de F.J.Haydn, o Alleluia do motete Veni Sancte Spiritus de Mozart e, na comunhão, Pascha nostrum, também em gregoriano.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

O Cavaillé-Coll de S. Luís dos Franceses


O Coro de Santa Maria de Belém cantou algumas vezes na Igreja de S. Luís dos Franceses, às Portas de Santo Antão. Não tantas como desejaria, pois era sempre um privilégio fazer música com aquele órgão.
Esta pequena igreja de planta quadrangular, que é uma ‘paróquia remota’ francesa (acho que reporta ao Arcebispo de Paris, mas não quero ser impreciso), tem um dos 3 órgãos Cavaillé-Coll que há em Portugal. Aristide Cavaillé-Coll foi nada mais que o maior construtor de órgãos do Séc. XIX e a sua obra está presente em muitas catedrais francesas (e noutras igrejas, grandes e pequenas).
Apesar de ser um órgão de pequenas dimensões (teria escala para um órgão de coro numa grande catedral), enche por completo a pequena igreja e a sua sonoriadade quente surprende face à sua imagem, pois o instrumento está concebido todo como um órgão expressivo, isto é, fechado numa caixa de pequenas portas verticais, como se fosse uma persiana que abre e fecha deixando que o som passe mais ou menos. Resultado: quando as portas estão fechadas nem se percebe que aquele móvel lacado, da cor da pedra, é um órgão de tubos.
Dia 7 de Abril de 2001, o coro deu ali um Concerto de Páscoa no âmbito do Centenário da morte de Josef Rheinberger. Com a participação do organista António Esteireiro e de um Quinteto de Cordas, apresentou o Stabat Mater op. 138, e alguns motetes.
A relação do reportório com a o órgão Cavaillé-Coll não poderia ter resultado melhor.
Um desses motetes, Dextera Domini, seria retomado várias vezes pelo coro, como aconteceu na Vigília Pascal de 2007, que teve lugar também a 7 de Abril. Um dos desafios da Vigília, que contava sempre com um coro mais reduzido, dada a mobilidade própria da época, era o canto dos salmos (7 leituras, 7 salmos, 7 salmistas) e o aleluia que antecede o Evangelho, o 1º depois da Quaresma, que o coro cantava 1º em gregoriano e depois em versão polifónica de G.B.Martini.

terça-feira, 6 de abril de 2010

Monteverdi e Mozart na Paixão

Dia 6 de Abril de 2007 foi uma Sexta Feira Santa e o coro participou, como sempre, na Celebração da Paixão. Na adoração da Cruz, cantou o motete Crux fidelis, de D.João IV e o motete a 5 vozes, Christe adoramus te, de Monteverdi. À comunhão, cantou o De profundis, de W.A.Mozart.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Toda a nossa glória


No dia em que se escreve esta nota, estamos já na oitava da Páscoa, mas a mesma data evoca, em anos mais distantes, acontecimentos da Paixão.
Em 1996, era precisamente Sexta-Feira Santa, ano em que se destacou na adoração da cruz uma versão em vernáculo do conhecido hino Ó Cruz fiel.
Em 1998, Domingo de Ramos, o coro cantou Parce Domine de Menegali e O vos omnes de Diogo Dias Melgás.
Finalmente, em 2007, era Quinta Feira Santa, e na Missa da Ceia cantámos a Missa De Angelis, de W. Menschick, um Tantum ergo de Bruckner, Isto é o meu Corpo, de F.Santos e uma harmonização de António Esteireiro do conhecido introito do Pe. Manuel Luis Toda a nossa glória.
De facto, a possibildade de rever, de forma sincrónica, as diversas celebrações pascais, reafirma a verdade desse introito no entendimento da Redenção, pois a cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo é toda a nossa glória.

domingo, 4 de abril de 2010

Em torno da Páscoa

Dia 4 de Abril foi o primeiro dia do Tríduo Pascal de 1996. Nesse dia, o coro cantou na Missa da Ceia o Ubi caritas gregoriano e, pela primeira vez, a antífona de comunhão para vozes iguais, Isto é o Meu Corpo, de F.Santos.
Em 1998, deu um Concerto de Páscoa na Igreja Matriz de Oeiras, em colaboração com o Coral Paz e Bem de Oeiras, de quem partiu o convite.
Em 1999 era Domingo de Páscoa, e o coro cantou pela primeira vez o Regina Caeli de João Rodrigues Esteves na Missa Solene da Ressurreição.
A 4 de Abril de 2004, Domingo de Ramos, cantou-se como introito o Gloria laus et honor de M.Cardoso e ao ofertório O vos omnes de D.D.Melgás. Na tarde desse mesmo dia, o coro deu um Concerto de Páscoa nos Jerónimos, no qual apresentou o Sabat Mater e Missa em Sol M de A.Caldara.

sábado, 3 de abril de 2010

Regina Caeli, Laetare

Dia 3 de Abril de 1994 foi Domingo de Páscoa, e nos registos constatamos que o coro cantou na missa solene o Regina Caeli de A.Lotti, a sequência gregoriana Victimae paschali, e a adaptação de um conhecido hino inglês, popularizado em Portugal com o texto Ó grande alegria.

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Em honra de João Paulo II


No 1º semestre do ano 2005, o coro deu vários concertos com programas de polífonia portuguesa, tendo em vista a digressão que realizou em Junho desse ano a Colónia, na Alemanha. Um desses concertos teve lugar na Igreja Matriz de Ovar, dia 2 de Abril, e ficou marcado pela divulgação da notícia da morte do Papa João Paulo II, poucos minutos antes de iniciarmos o concerto. Estava presente o Presidente da Câmara Municipal, que deu a notícia e propôs que o concerto fosse realizado em homenagem ao Papa, conforme combinámos em conjunto. Estavamos já no tempo pascal, em vésperas do II Domingo de Páscoa, mas os textos do concerto eram ainda muito relacionados com a Quaresma e o Tríduo, pelo que o concerto, realizado nestas condições, resultou num momento de grande profundidade e significado. A chegada a Lisboa foi pelas duas da manhã, e no dia seguinte cantou-se na missa solene nos Jerónimos.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Membra Jesu nostri

No dia 1 de Abril de 2007, o coro deu um dos seus concertos mais memoráveis apresentando, nos Jerónimos, a obra Membra Jesu Nostri de Dietrich Buxtehude, no âmbito da comemoração do tricentenário da sua morte.
Memorável por várias razões.
Primeiro porque com a organização deste concerto se deu início a uma colaboração com o cravista Miguel Jalôto, a qual levou à convergência de instrumentistas e cantores preparados para interpretações historicamente informadas. E o conjunto vocal-instrumental conseguido foi de grande qualidade.
Pela mão de Jalôto, conheci a Isabel Nogueira, e não mais me quis ver longe da sua voz e da sua pessoa. Pela primeira vez colaboraram também connosco a fantástica Mónica Santos, discreta mas altamente empenhada e colaborante, e o Manuel Rebelo, que também não mais se afastaria do coro até ao fim. Com o Miguel Farinha, troféu do coro, e a Catarina Saraiva, colaboradora já de longa data, conseguiu-se um quinteto vocal muito equilibrado e integrado. Tão integrado que cantou integrado no próprio coro, do qual saía e entrava, com uma cenografia cuidada, para assegurar as árias, duetos, trios e de novo os tuttis corais.
Em segundo lugar, porque a própria obra é notável.
Tinha de Buxtehude a ideia da solidez da sua obra de órgão, característica do Norte de Alemanha, e que o próprio Bach admirara a ponto de fazer a conhecida jornada a pé para o ouvir na tribuna da Marienkirche de Lübeck. Mas desconhecia, muito sinceramente, este lado afectuoso que emprestou ao poema base desta cantata-concerto, de remotas ressonâncias medievais, sobre os santos membros do corpo de Cristo sofredor. E a descoberta desta obra foi fascinante.
Finalmente, o concerto foi memorável pela forma como o coro se envolveu na sua preparação, organização, e fruiu, do lado do ‘palco’, o prazer de cantar uma obra destas, com estes recursos. À semelhança do que acontecia com os Reis, foi a vivência de todos os dias antes do concerto, inclusivé com a improvisada comemoração do aniversário da Isabel Nogueira, com os dotes culinários da Emília, que o tornaram tão especial.
O coro ficou numa disposição pouco comum, em semi-circulo, à frente do altar, envolvendo os instrumentistas. O resultado, que hoje ainda registamos em cd a partir de uma captação realizada ao vivo, permitiu prolongar estas memórias e os laços que muitos de nós criámos e perpetuámos para além da existência temporal do coro.

De Rosseli a Buxtehude


O dia 1 de Abril é, porventura, o dia do ano com mais registo de actividades, na lógica que este blog tem vindo a seguir:
Em 1994, era Sexta Feira Santa e o coro terá cantado na Celebração da Paixão pela primeira vez um motete sobre o Adoramus te Christe, desta vez na versão de Fr. Rosseli.
Em 1995, tomou parte num concerto em homenagem ao Maestro Jorge Manzoni na Sé Patriarcal de Lisboa, em colaboração com os Coros Laudate, Publia Hortensia, Stella Vitae e Renovação e o organista António Duarte.
Em 2000, o coro deu um Concerto de Quaresma na Sé Catedral de Évora, inaugurando um ciclo de concertos sobre Tricentenário da Morte de Diogo Dias Melgaz, exactamente na catedral onde este músico alentejano foi Mestre Capela, numa iniciativa apoiada pela Câmara Municipal de Évora.
Em 2001, cantámos a Missa do V Domingo da Quaresma nos estúdios da RTP, transmitida pela RTP2.
Finalmente, em 2007, era Domingo de Ramos, e o coro cantou na missa solene de manhã, onde se destacou o pujante introito Ingrediente Domino de G.Malcolm, e à tarde deu um Concerto de Páscoa nos Jerónimos. Durante vários anos seguiu-se esta prática de inaugurar a Semana Santa.