segunda-feira, 31 de maio de 2010

Renaissance Choir


Mais dois registos sobre a Solenidade de Pentecostes, celebrada respectivamente a 31 de Maio de 1998 e de 2009. Na primeira, o programa foi semelhante a um já aqui referido, com introito e sequência de Ferreira dos Santos, ofertório de autor anónimo renascentista e motete Veni Creator Spiritus de J.B.Hilber. Quanto à de 2009, o coro cantou o introito e a sequência gregorianos, o ordinário da Missa Brevis de V.Pellegrini e à comunhão o motete O quam suavis de A.Azevedo de Oliveira.
Também a 31 de Maio de 2008, o coro recebeu nos Jerónimos, para um concerto conjunto, o Renaissance Choir, que contou com a participação do organista Sérgio Silva. Neste dia foram estreados os novos fatos de concerto para as senhoras. Mas sobre vestes, corais e de concerto, falaremos adiante.

domingo, 30 de maio de 2010

Sacavém


No dia 30 de Maio de 2004, o coro deu um concerto na Igreja de Nª Sra. da Purificação, em Sacavém, integrado no 15º aniversário do Centro Social e Paroquial. O convite partiu do Pároco, que tinha estado em Belém antes de ser ordenado e cuja missa nova foi uma das primeiras celebrações em que o coro havia cantado. Um convite irrecusável, portanto. O espaço era bastante inspirador e o programa preparado era um programa de 50 minutos de polifonia clássica a cappella. Mas por alguma razão havia muita agitação na igreja. Uma igreja cheia, mas onde as pessoas não paravam de entrar e sair. Não foram poucos os que durante o concerto espreitaram à porta, como também não foram poucos os que, estando dentro, conversaram durante todo o concerto. Ficou a sensação de que a oferta e a procura não se encontraram. Para ambas, a música era outra.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

A Catedral de Belém


A Igreja dos Jerónimos é muito mais que uma igreja paroquial. Primeiro porque as celebrações paroquais regulares contam com uma comunidade que vive não apenas na freguesia de Belém mas numa área bastante mais ampla. Depois porque aí têm lugar muitas outras celebrações que nada têm a ver com o contexto paroquial. Raramente o coro cantava nestas. Uma excepção à regra foi a Missa do VI Domingo de Páscoa e Jubileu dos Acólitos nos Jerónimos celebrada a 27 de Maio de 2000 e a Missa no Congresso da ACEGE, presidida por D.Manuel Clemente, a 27 de Maio de 2006. Particularmente em celebrações diocesanas, como as ordenações, esta igreja serve quase de co-catedral, pois é a maior igreja da Capital e a 2ª maior do país, a seguir a Alcobaça, também no Patriarcado de Lisboa.

terça-feira, 25 de maio de 2010

Senhora da Ajuda


A Igreja de Santa Maria de Belém é hoje a sede de uma paróquia com o mesmo nome. Mas todos sabemos que o grandioso templo foi construído para uma comunidade monástica que aí esteve até 1833, um ano antes da extinção das ordens religiosas. Desde o início do Séc. XVIII até essa altura, Belém estava ainda integrada no perímetro geográfico da antiga Paróquia da Ajuda. A partir de 1834, a Igreja do Convento de Nossa Senhora da Ajuda, construída após o terramoto de 1755, passará a ser a paroquial de Nossa Senhora da Ajuda. E foi nessa igreja, inteiramente reconstruída entre 1870 e 1872 que o coro deu um concerto a 25 de Maio de 1997, na Festa da Padroeira. O convite partiu do pároco de então, que convidou também o Prof. Sibertin-Blanc, organista da Sé, para um programa de temática mariana para coro e órgão. Isto porque a igreja está dotada de um órgão ibérico, instalado numa varanda lateral, na perpendicular do coro alto. Foi uma tarde de domingo agradável, aquela em que fizémos uma saída para a igreja paroquial visinha e mãe, para cantar Hassler, Palestrina, Schubert e Elgar, e ouvir Correia Braga, Pablo Bruna e Seixas.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Viri galilaei


A 24 de Maio de 2009 o coro cantou na Solenidade da Ascensão do Senhor, nos Jerónimos, uma festa litúrgica que ao longo dos séculos produziu inspiradas páginas de música. Durante alguns anos cantámos nesta solenidade o introito e a comunhão em versões de Petr Eben, insigne compositor de Praga, recentemente falecido. Essas versões, semelhantes às que compôs para outras festas litúrgicas, assentam num canto monódico e órgão, testemunhando tanto a melodia como a harmonia, que estamos perante uma música do nosso tempo. Há quem defenda que o 1º milénio foi o milénio da monodia, o 2º o da polifonia e estamos perante um retorno à monodia. Mas, a aceleração da história não parece aconselhar uma perspectiva tão modular do tempo. Em todo o caso, no ano pastoral 2008-2009, que foi o último do coro, houve uma clara aposta nas antífonas gregorianas das grandes solenidades, a par da aposta nas missas polifónicas. Um regresso à musica sacra histórica que não significava, de facto, um regresso ao passado, mas uma projecção no futuro, tendo em conta que o novo órgão de coro (?) iria ficar bem longe do coro, e era, por isso, mais sensato cantar em alternância, como foi tradição durante séculos no mundo latino e na Pesínsula Ibérica em particular. No ano de 2009 o programa da missa contou então com as antífonas gregorianas Viri galilaei e Psallite Domino, e com uma versão polifónica da Missa Lux et origo de W.Menschick, missa que se cantou durante todo o tempo pascal na versão gregoriana e que nesta festa e no Pentecostes desabrochou em 4 vozes.

domingo, 23 de maio de 2010

Concerto Pascal

No dia 23 de Maio de 1998, o coro actou num Concerto Pascal na Igreja Paroquial da Cruz Quebrada e Dafundo, no qual participaram também o Coral Sol Nascente e o Coro Paroquial da Cruz Quebrada. O coro de Belém apresentou a Missa e o Motete Dixit Maria de Hassler e mais 5 motetes de autores portugueses.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Master class


No dia 21 de Maio de 2005 teve início a Master Class de Órgão com o Prof. Stoiber, que funcionou durante 2 dias na Igreja Evangélica Alma e na Igreja de S. Luís dos Franceses, com uma dezena de participantes.
Tratou-se de mais uma iniciativa do Coro de Santa Maria de Belém na área dos Estudos de Música, com a colaboração de um destacado músico e pedagogo, Franz Josef Stoiber. Organista titular na Catedral de S. Pedro em Regensburg e Reitor da Escola Superior de Música Sacra e Pedagogia Musical de Regensburg onde começou por desempenhar funções de nomeado Professor Catedrático de Órgão (especialidade: Música Litúrgica e Improvisação), desenvolve outras actividades, como a de professor de Órgão nos "Regensburger Domspatzen" (Pequenos Cantores de Regensburg), e uma intensa actividade artística e pedagógica que inclui ainda a realização de concertos, gravação de CD, docência de master classes e cursos de curta duração (entre outros, em Portugal), artigos e edições de livros.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Franz Stoiber


No âmbito dos Estudos de Música, o coro convidou o organista Franz Stoiber para dinamizar uma Master Class de Órgão em Maio de 2005, a qual foi antecedida de um recital na Sé de Lisboa, dia 20.
Conheci o Professor Stoiber quando fiz a 1ª Edição do Curso Nacional de Música Litúrgica em Fátima, promovido pelo Serviço Nacional de Música Sacra. Nessa edição fiz Direcção Coral mas voltei à 2ª edição, desta vez para fazer Órgão, e tive o privilégio de trabalhar directamente com ele.
As suas improvisações eram fantásticas e absolutamente fundamentadas num domínio ‘invejável’ da Harmonia. Nas suas aulas as melodias do Novo Cantemos Todos exploravam novas ambiências e um interesse muito maior do que suscitam quando acompanhadas por comuns mortais.
Por vezes ainda consigo recordar alguns desses momentos através de uns CD’s publicados em anexo à Tese de Doutoramento do Prof. Paulo Antunes, já aqui referenciada (Soli Deo Gloria), para a qual contribuiu com alguns acompanhamentos e interlúdios.
Destas experiências posso imaginar o que dele puderam beber as pessoas que tiveram a possibilidade de estudar em Regensburg, na Academia Superior de Música Sacra, como é o caso de António Esteireiro, organista dos Jerónimos.
Foi por seu intermédio que esta Master Class se concretizou, pensando que através dela poderíamos contribuir para o processo de aquisição de um órgão de tubos então em curso.
O órgão da Sé era e é ainda hoje o único grande órgão instalado em Lisboa no séc. XX e o que mais possibilidades oferece para a apresentação de um reportório europeu variado.
No recital, pudemos ouvir o Allegro da VI Sinfonia (op. 42) de Charles-Marie Widor, a Fantasia sobre o Coral „Straf’ mich nicht in deinem Zorn“ (op. 40, 2) de Max Reger, o Prelúdio e Fuga em Sol m op. 7, 3 de Marcel Dupré, excertos do ciclo L’Ascension de Olivier Messiaen e uma Improvisação sobre um tema dado.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Encontro de Culturas


O Espírito do Senhor, encheu a terra inteira, aleluia! Foi com estas palavras que o coro abriu a Missa do Jubileu do Episcopado Angolano, que teve lugar a 19 de Maio de 1991 na Igreja dos Jerónimos, na sequência de um encontro com o Papa João Paulo II em Fátima. A missa foi organizada pela Comissão V Séculos de Evangelização e Encontro de Culturas, que convidou o coro para cantar, e foi presidida pelo Cardeal Alexandre do Nascimento.
Foi um acontecimento marcante, e a sua releitura, mais tarde, à luz de uma série de textos sobre tradições europeias de música litúrgica e música nas tradições negro-africanas do culto, numa colectânea da ed. Vozes sob o título “Música e Experiência de Deus”, colocaram uma questão, até hoje sem resposta – não deveria a Igreja dos Jerónimos, símbolo inultrapassável da Evangelização e Encontro de Culturas, ter uma oferta musical litúrgica que ilustrasse o (re-encontro) através das comunidades imigrantes em presença? Uma missa por fim de semana, ou por mês, num modelo menos português e mais multicultural? Mas a resposta não pode passar apenas por um coro ou por uma organização musical, mas por uma dimensão eclesial e por uma pastoral que existe ou não.

terça-feira, 18 de maio de 2010

Pentecostes


Aproxima-se a Solenidade do Pentecostes, um marco importante no calendário litúrgico, nem sempre devidamente evidenciado e celebrado. O 1º registo que encontramos diz respeito à celebração de 1997, que teve lugar a 18 de Maio. Nela, o coro cantou O amor de Deus, um hino de F.Santos composto para o I Encontro Nacional de Coros Litúrgicos em 1990, a sequência Vinde ó Santo Espírito, também de F.Santos, o motete Confirma hoc Deus de autor anónimo renascentista, e o motete Veni Creator Spiritus de um compositor suíço contemporâneo, J.B.Hilber.
Esta altura do tempo litúrgico é particularmente preenchida. O próprio Tempo Pascal é todo ele festivo, mas a Ascensão e sobretudo o Pentecostes pedem um crescendo. Depois vem a Solenidade da Santíssima Trindade, a Festa do Corpo de Deus e a reentrada no Tempo Comum, que coincide com os Santos Populares e acelera o caminho para o Verão e para as férias. Um tempo de dispersão, menos propício a grandes trabalhos de rectaguarda e preparação de reportório.

domingo, 16 de maio de 2010

Miguel


Em quase 20 anos de existência, o coro cantou em poucos casamentos, não mais de dois por ano, em média. Os pedidos nunca foram assim muitos, e só uma minoria era exequível, pois nem sempre havia a noção exacta, da parte de quem fazia o pedido, do que representava ter um grupo com cerca de 30 pessoas disponível a um sábado ou a um domingo, para fazer um trabalho com um certo grau de exigência. Uma situação distinta era o casamento de pessoas próximas aos coralistas, como aconteceu algumas vezes, também não muitas. Foi o caso do casamento do irmão do Miguel Farinha, a 16 de Maio de 2009, na Igreja de S. Pedro de Sintra. Um acontecimento especial, sem dúvida, pela importância do Miguel para o coro e por se tratar de uma das raríssimas vezes em que o coro cantou sem a sua participação.
O Miguel, como todos lhe chamamos, foi a pessoa que esteve mais por dentro das decisões, dos planos e das realizações do coro. Desde 1995 que desempenhou as funções de Director Adjunto da Direcção Artística, que ainda não se chamava assim antes da constituição da associação. Dirigiu o coro na missa solene de 1995 a 2002, sensivelmente, no período em que eu tocava nessa mesma missa. Mas a sua marca mais forte no coro foi o seu real contributo vocal para a identidade sonora do coro, e a grande comunhão de ideias e de pontos de vista que o fizeram estar sempre por perto na procura de novo reportório e no conhecimento de experiências liturgico musicais que permitiram uma certa transferibilidade de práticas para o projecto de Belém.
Para além do coro, o Miguel esteve também na primeira linha do Serviço de Música Sacra dos Jerónimos, no desenho e na concretização das suas actividades, cantando a solo em missas e celebrações da Liturgia das Horas. Toda esta actividade fê-lo sentir necessidade de formação, e a sua dedicação a Belém revelou-se também num enorme investimento no plano pessoal, ao fazer o Curso de Canto do Conservatório Nacional, o Curso de Direcção Coral do Serviço Nacional de Música Sacra, e variadíssimos cursos corais no Verão.
Tudo isto aconteceu em paralelo com a sua carreira de professor universitário e nem um doutoramento aos 29 anos fez diminuir a sua disponibilidade e a sua postura de serviço.
Cantar no casamento do seu irmão não foi nada, ao pé do que o Miguel deu ao coro e aos Jerónimos.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Encontro de coros


A 14 de Maio de 1994, o coro participou num encontro de coros organizado pela Comissão Diocesana de Liturgia e Música Sacra do Patriarcado de Lisboa, que teve lugar na Igreja de S.João de Brito, em Alvalade. Para além de ter cantado na Missa da Solenidade da Ascensão, o coro apresentou uma pequena peça no concerto conjunto, o Regina Caeli de Lotti, se a memória não falha.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Dornes


Portugal tem lugares de uma beleza difícil de descrever. Um deles é certamente Dornes, uma península banhada pela Albufeira de Castelo do Bode, onde o coro teve o privilégio de dar um concerto a 12 de Maio de 2002. Foi um concerto em honra de Nossa Senhora no Santuário de Nª Senhora do Pranto, uma igreja onde se destacam os azulejos, as imagens de pedra de Nossa Senhora do Pranto e de Santa Catarina, um belo óleo figurando o "descanso na fuga para o Egipto" e um órgão de tubos ibérico. Foi sobretudo por causa deste órgão e pela temática proposta que o coro se fez acompanhar pelo organista António Mota com quem apresentou um programa muito próximo do conteúdo do CD Stella Maris, que seria editado um ano depois.
Foram cantadas e tocadas peças de um conjunto variado de compositores com nomes tão diversos como António Carreira, Hassler, Rodrigues Coelho, Antonio Lotti, Palestrina, Cabanilles, Diogo Dias Melgás, Manuel Faria, Correa de Arauxo, Schubert, Van Nuffel, Correia Braga e Rodrigues Esteves.
Como aconteceu com a maioria das deslocações com ida e volta num único dia, era domingo e o coro só partiu de Lisboa após a missa em que cantou nos Jerónimos, o que não lhe permitiu ter muito tempo de preparação no local, sobretudo das peças articuladas com o órgão. Mas em contrapartida trouxe a memória de uma comunidade acolhedora e uma vista deslumbrante.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

O último concerto



A 10 de Maio de 2009 o coro deu o seu último concerto nos Jerónimos, sem contar com a participação no concerto inaugural do órgão Mathis uns meses depois, a 30 de Setembro. Foi o último no sentido em que foi, de facto, o último promovido, organizado e cantado pelo coro, como foram tantos outros com a marca CSMB, em 19 anos, com particular destaque para os concertos de reis.
O modelo do Concerto de Páscoa nunca foi, no entanto, tão estável como o do Concerto de Reis.
Durante vários anos, o Concerto de Páscoa teve lugar na tarde de Domingo de Ramos, e ultimamente tinha recuado mesmo para o V Domingo da Quaresma. As peças escolhidas andaram muito em torno dos temas da Paixão (Stabat Mater, Via Crucis, Polifonia da Semana Santa) pelo que era, na verdade, um concerto quaresmal. Mas em 2009 quisemos fazer um Concerto de Páscoa, não no Dia de Páscoa nem no domingo seguinte mas a meio do Tempo Pascal, para valorizar aquela ideia de que a Páscoa não se confina ao 1º domingo, mas é todo o tempo que vai até ao Pentecostes, «pois os cinquenta dias que se prolongam desde o domingo da Ressurreição até ao domingo do Pentecostes celebram-se na alegria e na exultação, como um único dia de festa, mais, como um grande domingo.» (Cal. Romano 22. E assim se cumpria um objectivo sempre presente nos concertos do coro, o de assinalar a vivência dos tempos litúrgicos.
Os obstáculos não foram poucos, ao nível da conciliação de agendas dos intervenientes e da disponibilidade da própria Paróquia quanto a datas e a logística. O modelo de concerto, e as suas implicações ao nível da logística, implicou decisões comparáveis às do Concerto de Reis, e por tudo isso, a sua concretização não foi fácil. E arrojámos fazer o concerto num domingo à noite, o que foi uma verdadeira ousadia, pois Belém á noite fica deserta, e a cidade no geral, começa a preparar-se para a semana de trabalho.
Mas valeu a pena. E a igreja encheu-se uma vez mais.
Num ano que abriu com o Messias de Handel, para assinalar os 250 anos sobre a sua morte, queríamos também celebrar Purcell, passando 350 anos sobre o seu nascimento. Cantar a Páscoa, mais de um mês depois da Semana Santa, e na companhia destes compositores, mostrou-se um desafio irresistível.
Os contactos para a formação de uma orquestra barroca e mobilização de solistas, começaram logo após o Concerto de Reis, e chegou-se a um elenco de grande qualidade, uma vez mais com a colaboração preciosa de Miguel Jaloto.
O programa integrou dois anthems de Handel, da colecção dos Chandos Anthems, e dois de Purcell. De Handel cantou-se «My song shall be alway», a partir do salmo 90 (Cantarei eternamente as misericórdias do Senhor) e «O praise the Lord», sobre excertos dos salmos 116, 134 e 148, todos muito exultativos. Estas duas peças, que eram as mais complexas, foram antecedidas, em cada metade do programa, por dois de Purcell, «O sing unto the Lord», sobre o salmo 95 (Cantai ao Senhor um cântico novo) e «Rejoice in the Lord alway», sobre uma exortação da Carta aos Filipenses (Filip. 4, 4-7) (Alegrai-vos sempre no Senhor).
Foi um concerto extraordinário, e sabendo agora que foi o último, ganha um brilho ainda mais especial na memória. No contexto da sua preparação surgiu o tema do Concerto de Reis de 2010, que não veio a realizar-se, mas que seria ainda com peças de Handel (Four coronation anthems), Purcell e outros compositores, num programa em torno da reconstituição de uma coroação.
Mas a exortação mantém-se: Alegrai-vos sempre no Senhor.

domingo, 9 de maio de 2010

Deus libertou-nos


A 9 de Maio de 2004 teve lugar o encerramento dos I Cursos Livres de Música Sacra, com umas Vésperas na Capela Mor dos Jerónimos. Estávamos no V Domingo de Páscoa e esta celebração procurou não apenas ser representativa das várias áreas que integraram estes cursos mas também ensaiar uma proposta celebrativa eclética, juntando linguagens diferentes. Para além da clássica alternância entre polifonia e gregoriano, no Dixit Dominus e no Magnificat, a música sacra histórica conviveu lado a lado com canto monódico em português, que é a solução mais usual no canto da Liturgia das Horas em Portugal, e ainda com um inédito composto precisamente para esta celebração, pelo Maestro Eugénio Amorim.
A ideia da ‘encomenda’ era a de uma escrita fora dos tons salmódicos que pudesse enfatizar o próprio texto, inclusivé através do órgão, à semelhança do que acontece no lied com o papel do piano, e resultado foi muito interessante. Depois da antífona – Deus libertou-nos do poder das trevas… – lá veio o salmo 113A com toda a sua vivacidade, ao qual a música se moldou e emprestou vigor: «Os montes saltaram como carneiros, como cordeiros as colinas».
A colaboração de Eugénio Amorim com o Coro de Santa Maria de Belém estendeu-se a outros trabalhos de composição, de forma completamente gratuita e desinteressada, a nosso pedido, para ocasiões especiais e em torno de materiais pre-existentes:
Aquando do programa Natais Populares da Tradição Europeia fez dois arranjos para coro, órgão, quinteto de metais e percursão sobre o «Alegrem-se os céus e a terra» e o «Natal da Índia Portuguesa» (este incorporando uma harmonização de Manuel Faria). Mais tarde adaptou estes trabalhos para coro e órgão em função do primeiro CD do coro.
Pouco tempo depois fez um arranjo sobre um hino eucarístico do Tempo Pascal do Pe. Ferreira dos Santos «O Teu corpo é a nossa salvação, aleluia».
Como se tornou hábito ter uma pequena orquestra na Missa do Galo e na Missa de Domingo de Páscoa, E. Amorim fez-nos também um introduções e harmonizações dos salmos responsoriais para essas orquestras, em função do orgânico que a missa barroca ou clássica executada nessas ocasiões. Foi o que aconteceu com «Hoje nasceu o nosso Salvador» do Pe. Manuel Luís e «Eis o Dia que fez o Senhor» de Ferreira dos Santos.
Finalmente, quando se fez em concerto a Missa de S. Jerónimo de Michael Haydn, procurando reconstituir um pouco uma celebração na Catedral de Salsburg, com recurso a um ofertório do mesmo compositor para a mesma ocasião (a Festa de Todos os Santos), E. Amorim fez também uma reorquestração de uma sonata da Epístola de Mozart para o orgânico peculiar da Missa de S. Jerónimo, uma orquestra de oboés, fagotes, trombones e com as cordas reduzidas a 3 contrabaixos… Estas sonatas foram muito tocadas em Belém e a possibilidade de integrar uma neste programa, reconfigurada, foi uma solução muito especial.
Por toda esta colaboração e pelo empenho posto nos cursos livres, a par de outras colaborações não directamente ligadas com o coro, mas com o contexto da música nos Jerónimos, o nosso renovado obrigado.

sábado, 8 de maio de 2010

Fátima, em Lisboa


Nos seus primeiros anos de emissão, a TVI transmitia geralmente a missa de domingo a partir da Igreja de Fátima, nas Avenidas Novas, aproveitando o facto de ter os seus estúdios ali mesmo ao lado, nas instalações do antigo cinema Berna. O coro participou em duas dessas missas, uma em Junho de 1993 e a segunda a 8 de Maio de 1994. Segunda e última, porque aconteceu uma coisa incompreensível nessa missa. Estava tudo combinado, os cânticos enviados com antecedência, sabia-se quem ia tocar, os detalhes estavam acertados e, na hora da missa, estranhamente, o organista não apareceu. Ainda houve alguma esperança até ao momento em que percebemos que estávamos ‘no ar’ e tivemos de iniciar o cântico de entrada sem órgão. «O senhor ressuscitou verdadeiramente, aleluia», de Manuel Faria, assim a seco e sem mais.
Se tivessemos sabido com antecedência que a missa era sem órgão, teriamos escolhido reportório adequado, reforçando as peças polifónicas e talvez escolhendo algum canto gregoriano, apesar de não ser garantido que tal seria aceite, pelos critérios já então tão populares dessas missas. Agora, pelo contrário, a escolha de cânticos teve em conta uma missa com coro, assembleia e órgão, onde o acompanhamento deste era importante. Ainda por cima era o VI Domingo de Páscoa. Nem uma introdução, um interlúdio… num contexto, como o da rádio ou o da televisão, em que qualquer silêncio tem um peso enorme. Fosse por indisposição, doença súbita ou acidente, o organista não apareceu sequer durante a celebração nem o coro recebeu depois qualquer explicação ou pedido de desculpas. E foi por estas e por outras que lá não voltou. Depois disso, missas na televisão, nem vê-las.
Também a 8 de Maio mas de 2004, iniciava-se o 3º fim de semana dos I Cursos Livres de Música Sacra, em quatro áreas – órgão, canto gregoriano, direcção coral e canto para salmistas/solistas – respectivamente com os professores António Esteireiro, Mª Helena Pires de Matos, Eugénio Amorim e José Paulo Antunes.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Ainda Fátima

Tem-se escrito neste blogue não apenas do Coro de Santa Maria de Belém, mas também de pessoas, instituições e contextos que influenciaram a identidade do coro e a sua prática. Por isso voltamos a Fátima, a pretexto de uma peregrinação paroquial em que o coro se integrou em 5 de maio de 2000, para enunciar duas notas importantes.
A primeira para dizer que foi em Fátima, nas grandes celebrações dominicais do recinto, que ouvi cantar pela primeira vez a Missa de Angelis e percebi o sentido dessa opção face à dimensão internacional do local. Contactei depois muitas outras igrejas com ofertas musicais sofisticadas, ao nível do canto gregoriano, da polifonia e da música orquestral, mas ficou a ideia de que numa igreja com um mínimo de afluência de fiéis não necessariamente residentes, e em atenção especial aos estrangeiros, era forçoso ter um reportório universal mínimo, e a Missa de Angelis, que de gregoriano propriamente dito tem apenas o Sanctus, cumpria e cumpre perfeitamente esse requisito.
A outra nota, já não relacionada com o santuário em si mas com os encontros nacionais de liturgia, para referir que foi em Fátima também que assentei na ideia de não cantar ao ofertório e à saída da missa.
Ao ofertório, mais correctamente chamado rito da apresentação dos dons, porque não está previsto qualquer cântico específico e a haver cântico deve ser apenas para sublinhar a procissão das oferendas, quando esta é realizada. Nos anos 70 estiveram muito na moda os canticos de ofertório, que enfatizavam a oferta dos dons, dos nossos sacrifícios, das nossas orações. Ora, nesse sentido, toda a missa é um momento de entrega e o ofertório em especial não é um intervalo entre a Liturgia da Palavra e a Liturgia Eucarística onde cantamos o que não cabe nos outros ritos, incluindo cânticos marianos, etc. Quando à saída, foi em Fátima que ouvi repetidas vezes afirmar aos liturgistas que, despedida a assembleia (Ide em paz), não faz qualquer sentido voltar a pedir-lhe que cante ou escute mais um texto. Excepção para um ou outro dia especial para a comunidade.
A grande vantagem desta opção foi a aposta numa celebração não sobrelotada de palavras. A liturgia tem a palavra proclamada, tem todos os textos rituais, pelo que a música, quando não constitui ela própria um rito ( gloria, sanctus etc), mas acompanha ritos, não deve ser um elemento de dispersão, bastando recorrer aos textos previstos nas antífonas ou outros equivalentes.
Se aqui se escreve isto é porque, efectivamente, foi introduzida esta prática na Igreja dos Jerónimos, há 20 anos, e na intervenção do Coro de Santa Maria de Belém em particular. A Missa de Angelis, constituiu, juntamente com outras missas gregorianas conhecidas, uma base presente ao longo de todo o ano litúrgico, assegurando a dimensão internacional, na chamada missa solene, em que o coro cantava. Quanto à ausência de canto no ofertório e na saída, também foi um traço dominante, constituindo uma oportunidade de valorizar a música instrumental, por exemplo (inclusivé com meditações instrumentais sobre os salmos), de valorizar a importância do silêncio na Quaresma, e de promover celebrações equilibradas, onde a palavra tinha o seu lugar, a sua função e o seu efeito.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Fátima


No dia 5 de Maio de 2001, o coro cantou na Missa do IV Domingo de Páscoa na Basílica de Nª Sra. do Rosário de Fátima, às 16 horas, no âmbito da Peregrinação Paroquial a Fátima, repetindo a experiência do ano anterior, em que esteve no mesmo local. Não é de ânimo leve que se um coro se apresenta em público no Santuário de Fátima, mesmo que seja numa das muitas missas ali celebradas. A prová-lo está a antecedência com que a reitoria pede que se informe qual a proposta musical que se pretende executar.
A basílica em concreto é um lugar com um significado especial, pois ali participei durante muitos anos nas celebrações do Encontro Nacional de Pastoral Litúrgica. Foi nesses encontros que toquei pela primeira vez no gigantesco órgão Rufatti, por gentileza de um dos capelães, à epoca administrador do Santuário. Aos olhos de hoje, a qualidade deste instrumento é muito questionável, no conceito e no resultado, mas a relação com a sua consola de 5 teclados e os seus 12.000 tubos, não deixam ninguém indiferente, sobretudo se ficar a tocar horas à noite, com a basílica por sua conta. Mais tarde, cheguei a tocar nas próprias celebrações do encontro nacional e, por tudo isso, tinha interesse em levar o coro a cantar, nem que fosse uma vez, àquele local.
Não foi uma vez mas foram só duas, porque não se reuniram condições para que o coro participasse mais do que essas duas vezes na peregrinação paroquial. E a experiência não foi assim tão gratificante, do ponto de vista musical, pois a distância do coro ao órgão era enorme e a comunicação não foi fácil. Mais tarde instalaram um órgão de coro, exactamente junto ao local onde o coro canta, o que melhorou muito as condições.
E o coro esteve também em Fátima no âmbito de um encontro de coros, de que daremos conta mais adiante.

terça-feira, 4 de maio de 2010

Na Igreja de S. Roque


Antes dos dois concertos que deu na temporada Música em S. Roque, em 2006 e 2007, o coro apresentou-se em concerto particular na Igreja de S.Roque a 4 de Maio de 2002, a convite da Agência de Viagens Limits. Para proporcionar uma maior fruição da igreja, ao som de polifonia portuguesa, o coro cantou precisamente no coro alto, na varanda junto ao órgão, e a impressão foi muito positiva. Sentiu-se perfeitamente o efeito da caixa de ar da varanda, facilitando a propagação do som e o seu retorno das paredes de azulejos. É, de facto, uma igreja admirável, mesmo excepcional, a pedir um projecto musical-litúrgico permanente, à altura da importância do templo. Como tantas outras.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

William Byrd


No dia 3 de Maio de 2009, cantou na missa solene o coro dos participantes do II workshop de técnica vocal para coros, orientado por Ghislaine Morgan. A peça central desta apresentação foi a fantástica missa a quatro vozes de William Byrd, que viveu entre 1543 e 1623. Tendo estudado com Thomas Tallis, veio a ter uma posição de 1º plano como compositor na Inglaterra protestante de Isabel I, o que não o impediu, em todo o caso, de se manter católico e compôr belíssimas páginas para a liturgia católica como o célebre Ave Verum a 4 vozes e as três missas latinas (respectivamente a 3, 4 e 5 vozes). Mas a expressão vocal e a religiosidade que Ghislaine emprestou à obra deste compositor, do seu país, não ficou atrás da interpretação que fez do introito, um motete de Fernando Lapa sobre a antífona com que abre a missa do IV domingo de Páscoa, habitualmente cantada em Belém: «A terra está cheia da misericórdia do Senhor, aleluia. A palavra do Senhor fez os céus, aleluia.»

domingo, 2 de maio de 2010

Boletim de Música Litúrgica


O reportório é uma boa parte da identidade de um coro. No caso do Coro de Santa Maria de Belém o reportório era 100% de música religiosa e desses 100%, mais de 80% era música litúrgica. Dito de outra forma, exceptuando os oratórios e outras peças de temática religiosa não compostas expressamente para celebrações litúrgicas, tudo o resto (a esmagadora maioria) era música sobre textos da e para a liturgia. Textos do Ordinário (Kyrie, Gloria, Sanctus…) e do Próprio (Antífonas de Entrada, Comunhão…), para usar uma nomenclatura generalizada, embora não consensual. Na música liturgica enquadrámos pois não só a música composta nos nossos dias para a Missa e outras celebrações, mas a dita música sacra histórica, como o canto gregoriano e a polifonia, porque entendemos que ela tem lugar na liturgia dos nossos dias, tal como expressamente recomendou o Concílio Vaticano II.
Hoje é fácil associar o Coro de Santa Maria de Belém à música sacra histórica, que muitos afirmam ser música de concertos, porque o coro teve, de facto, a coragem de a trazer de volta para a liturgia, na qual participou semanalmente durante quase 20 anos. Ou por causa do latim ou por causa do canto a vozes ou por causa de qualquer outro pretexto houve reacções negativas no início e porventura continuou a haver quem não gostasse. Como também houve críticos do latim que depois o vieram a adoptar, como vieram a adoptar desta música a que lhes foi mais acessível ou agradável, pouco importa. O que importa é referir aqui que este coro em particular investiu muito no canto em português e no canto especificamente composto para coro.
Com a preocupação de cobrir o ano litúrgico com peças musicais sobre a maior parte das antífonas de entrada e também sobre as de comunhão, o coro pesquisou, ensaiou e cantou dezenas de antífonas, na sua maioria a quatro vozes mistas. E o modelo que procurou desenvolver foi a dos hinos em triptico, geralmente com uma Antífona para Coro (sobre o texto do Missal), um Refrão (destinado à Assembleia) e versos para Pequeno Coro (em forma salmódica ou estrófica) sobre o texto de um salmo ou paráfrase de outro texto bíblico.
O reportório do coro foi procurado em muitas lojas de partituras da Europa Central e do Norte, em períodos de férias, e também, nos anos mais recentes, pela Internet, directamente nas páginas das editoras. Mas o reportório em português e, em especial, os ditos hinos de entrada e comunhão vieram todos, ou quase todos, do Boletim de Música Litúrgica, editado pelo Serviço Diocesano de Música Litúrgica do Porto.
Durante muitos anos, esta foi a fonte de hinos do Pe. Ferreira dos Santos, Director do Boletim e responsável por grande parte da dinamização da Música Sacra no Porto a partir dos anos 70, mas também de compositores excelentes como Fernando Lapa e Fernando Valente, que nos faziam aproximar das ambiências harmónicas de alguns anthems ingleses. Sim, era possível almejar uma música coral em português. Coral porque os coros não têm que cantar o que tem de ser cantado pelas assembleias (ter um coro para cantar o canto da assembleia é como pôr um trompete a duplicar a voz de soprano de um coro…). Em português porque a língua não tem nada que ser uma barreira a uma linguagem e a uma estética litúrgica e é desejável ter tão boa música em vernáculo como em latim.
O boletim já não se publica. Parou no nº 162 porque, no dizer dos seus autores, era difícil manter as publicação a tempo e horas e o modelo estava já esgotado.
Mas da nossa parte era indispensável fazer referência a esta ‘companhia’ do boletim, onde bebemos não só uma grande parte do reportório cantado nas missas mas muitas orientações sobre pastoral litúrgica, ou melhor, pastoral de música litúrgica (história e sentido dos diferentes ritos e das formas musicais tradicionalmente a eles associadas, música e tempos litúrgicos, sacramentos etc.). A todos os que para ele trabalharam um grande obrigado. Sem esse trabalho, este coro não teria sido o que foi.

sábado, 1 de maio de 2010

II Workshop de técnica vocal


Há precisamente um ano, a 1 de Maio de 2009, iniciou-se o II Workshop Internacional de Técnica Vocal para Coros com a Profª Ghislaine Morgan, por sinal, o último workshop organizado pelo coro. Este tipo de actividades estava já completamente rotinado, desde a divulgação, à encomenda de partituras e ao arranjo do espaço que, num workshop como este, passava, entre outros aspectos, por uma cuidadosa limpeza do chão, pois a preparação vocal começava com exercícios de respiração em posição de quatro apoios…
Houve sempre uma preocupação em fazer a ligação temática das diversas actividades de um ano. Assim, tal como no ano de 2008 o workshop com Ghislaine trabalhou Palestrina e o workshop com Owen Rees trabalhou João Rodrigues Esteves, pois aproximava-se a Peregrinação Coral a Roma sobre o tema das conexões musicais entre Lisboa e Roma, no ano de 2009 a peça que serviu de base ao trabalho com Ghislaine foi a belíssima Missa a quatro vozes de William Byrd.
Não sendo propriamente um workshop de interpretação, pois o enfoque era a prática vocal para coros em si mesma, foi muito interessante a abordagem que fez a este compositor e ao contexto em que compôs esta obra em particular. Todos puderam também experimentar como uma boa postura vocal pode contribuir decisivamente para uma linha interpretativa coerente e consequente.