quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Regresso e férias


No dia 4 de Agosto de 2009 terminou a digressão a Inglaterra. A manhã foi livre, para uns ultimos passeios, e o coro regressou a Lisboa a meio da tarde, com um misto de satisfação pela obra realizada e de nostalgia, como quem acorda de um sonho.
Ao contrário das outras digressões, esta decorreu bastante tarde no calendário, pelo que não houve oportunidade de fazer mais nenhum encontro em Lisboa. Foi chegar e dispersar. As férias do coro começaram ali mesmo na Portela.
As férias eram fundamentais para o descanso do coro, não só da sua actividade mas como grupo, para retemperar forças. Assim, o regresso era sempre feito com vontade de recomeçar e de estar uns com os outros.
Pela minha parte, mal conseguia desligar, pois passava sempre as férias do coro à procura de reportório, a vascular ideias e a esboçar projectos, para que a rentrée tivesse a dose certa de novidade e de interesse, mas também me fazia bem esta pausa com a rotina.
E assim, para manter a tradição, este blogue vai fazer férias até Setembro.
A todos os que possam estar desse lado desejo umas boas férias!

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Southwark Cathedral


A segunda-feira dia 3 de Agosto de 2009 foi um dia tranquilo. Aproveitei a manhã livre e fiz um passeio nas margens do Tamisa, para ir avistando e apontando o meu pensamento para a Southwark Cathedral, localizada na margem sul do Tamisa junto à Tower Bridge, onde à tarde cantávamos na Choral Evensong.
Foi para lá que partimos pelas 14h30. As saídas do Heythrop College em busca do nosso autocarro para mais uma actuação já tinham entrado na rotina. Mas esta era a última.
Após novo percurso pela cidade, lá chegámos à catedral, com antecedência qb para o ensaio, marcado para as 15h30.
Repetiu-se um pouco o esquema de S. Paulo, com o reconhecimento do terreno: sala de ensaio, ensaio das procissões, ensaio na igreja, apresentações etc. Só a escala era completamente diferente, desde o tamanho da sala de ensaio ao próprio espaço celebrativo, bastante mais amigável face ao cansaço que já se ia sentindo.
A catedral é um espaço muito inspirador. Lembrava-me de um dia ter a ter procurado para um concerto de órgão, e ter ficado impressionado com a sua localização, cercada de prédios e uma estação de comboios, qual espaço oásis na cidade dissociada. Foi aqui que Tomás Beckett rezou antes de partir para Cantuária a poucos dias do seu martírio em 1170. Hoje as capelas do deambulatório estão apetrechadas de folhetos com orações bastante adequadas ao nosso tempo, pelas pessoas com HIV, pelos migrantes, pelos idosos em solidão.
O padre que presidiu à celebração cantava num coro de câmara e conhecia os melhores polifonistas portugueses! Como o mundo é pequeno… ou, como conhecem mais os outros o melhor da nossa cultura!
Também a arte de bem receber foi uma nota a destacar nesta igreja, uma vez que, por sermos portugueses, tiveram a ideia de convidar um padre brasileiro para se associar à celebração, assegurando algumas partes em português (uma leitura e parte das preçes), o que nos caiu muito bem.
A celebração correu bem e a prestação do coro também. Quando saímos da igreja ainda havia bastante sol. Sentámo-nos numa esplanada à espera da hora do autocarro, com o sentimento gratificante de missão cumprida.
A maioria do grupo regressou ao colégio. Outros iniciaram logo ali a sua última incursão pela cidade. O grupo em que me encontrava foi despedir-se de Notting Hill.




segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Na estrada

O dia 2 de Agosto de 2009 foi um dia intenso. Saímos de Londres pela manhã, a caminho de Oxford onde tinhamos agendado um concerto à hora do almoço na capela do Queen’s College. Tinhamos à nossa espera o Prof. Owen Rees que nos recebeu com todo o empenho. Depois de conhecidos os locais para mudas de roupa, fizémos o nosso ensaio de colocação na capela e o organista que nos acompanhou de Lisboa testou as possibiliddes do órgão. Seguiu-se um breve tempo para enganar a fome e os preparativos finais para o concerto.







Contrariamente ao que esperava, a igreja encheu-se por completo, embora não soubesse na altura a qualidade dessa audiência, pois só depois do concerto é que Owen Rees me falou dos convites que tinha feito, no meio musical da cidade, e que as pessoas não só tinham vindo como tinham gostado bastante: « Many thanks once again for your lovely concert at Queen's. As I mentioned, I received many favourable comments from the audience. Owen Rees, Director of Music, Queen's College, Oxford». E juntava uma mensagem: «We very much enjoyed it; congratulations to the Coro. The schedule looks quite formidable. Leofranc Holford-Strevens, Editor-Consultor, Oxford University Press, Oxford».

O programa procurava ilustrar música portuguesa dos períodos renascentista e barroco, com uma modesta incursão à música do Séc. XX, com Carrapatoso em coro a cappella e duas magníficas peças de órgão de Luis de Freitas Branco.
À saída havia, de facto, um ambiente muito reconfortante e foi-me apresentada uma senhora que escrevia crítica musical e me deu conta do seu apreço pelo concerto. Mais tarde li a sua crítica: «The choir’s luxuriant sound, unmarred by vibrato, rang into the building’s structure. This was surely a celebration of the human voice.
The choir has a large repertoire, has performed widely and has made recordings. Pinto’s work is profound and detailed, his singers showing a deep understanding of both the musical- and verbal text. Their performance was superb.» Para ver a crítica completa, http://pamelahickmansblog.blogspot.com/2009/08/portuguese-sacred-music-performed-at.html.
Mas o tempo era escasso. Esperava-nos um segundo concerto no sul, quase ao pé de Brighton. Rápidas despedidas e aí estávamos de novo na estrada. Eram quase 5 horas quando chegámos a Arundel, uma localidade pacata com o seu castelo e a sua catedral neogótica. Aí nos esperava o Renaissance Choir, que tinhamos acolhido nos Jerónimos um ano antes.
Em sequência rápida, tivémos novo ensaio de colocação, com as malas espalhadas pela igreja onde calhava, teste a um novo órgão, ensaio das duas peças conjuntas com o outro coro, ida para o local onde trocámos de roupa, e regresso à catedral, para actuar, em cortejo pela rua fora.
A abrir o concerto, a Presidente da Câmara deu-nos as boas vindas. Repetimos o programa do concerto de Oxford mas com uns cortes, pois o coro que nos recebia também cantou algumas peças. Recordo com particular interesse o momento da reentrada do coro após o intervalo, ao som da peça de Freitas Branco. No fim, e à semelhança do que tinha acontecido em Belém, os coros cantaram em conjunto duas peças, uma dirigida por mim e outra por Peter Gambie.
A seguir o Renaissance ofereceu-nos uma óptima ceia, onde pudémos conviver e recuperar calorias, para além das habituais trocas de presentes e peça de agradecimento.







O regresso fez-se noite dentro, cansados mas felizes. À medida que se aproximava o fim da digressão o ambiente ia ficando mais descontraído, e permitimo-nos vir a cantar no autocarro aquelas coisas leves com mímica e tudo.
Faltava uma celebração, na tarde do dia seguinte, que já não traria particular novidade.
A sintonia e a coesão do grupo não podiam estar melhor.

domingo, 1 de agosto de 2010

Westminster


Se a primeira actuação em Londres constituiu uma experiência altamente desafiante, pelas características da Catedral de S. Paulo, sua importância cultural e cultual na cidade e pelo facto de ser a 1ª vez que cantávamos numa Evensong, a segunda actuação (a 1 de Agosto de 2009), desta vez na Catedral de Westminster, não o foi menos, pelo que esta igreja significa no panorama da música sacra, para o mundo católico minimamente informado.
Diria que esta catedral católica tem, em Londres, o nível musical-litúrgico que nenhum Papa conseguiu ter na sua igreja mãe de Roma nos ultimos quarenta anos. Nível e sobretudo concordância com o que a Igreja recomenda em matéria de música litúrgica. Quem conheça a Constituição sobre a Sagrada Liturgia e a Instrução Musicam Sacram, saídas do Concílio Vaticano II, encontra, de facto, nesta catedral londrina, o exemplo mais perfeito da sua concretização, com a prática diária do canto gregoriano e da polifonia clássica, a par de novas composições encomendadas regularmente, num contexto onde se promove esse tesouro inestimável que é a Música Sacra, peça fundamental e integrante do cume para o qual se encaminha a acção da Igreja e fonte de onde provem toda a sua força que é a Liturgia.
A avaliar pelo que vemos à nossa volta, seriamos tentados a pensar que estas recomendações resultaram em pura ficção, mas, de facto, há pelo menos um local no mundo (há muitos outros…) em que elas não são letra morta no relativismo que afecta também a Igreja.
A Catedral de Westminster está localizada em Victoria Street, e é a maior Igreja Católica Romana na Inglaterra e no País de Gales. A construção iniciou-se em 1895, e a catedral foi inaugurada em 1903, mas, por razões económicas, a decoração interior ficou incompleta e tem sido continuada ao longo dos anos. A arquitectura neo-bizantina da igreja torna a catedral num lugar único, com uma nave que é a mais ampla das igrejas inglesas e uma elevação da zona do altar que permite uma visão ininterrupta do altar principal com o seu baldaquino, e a concentração de luz sobre esse local é perfeita.


A missa era às 18h pelo que a preparação para um momento tão especial começou com uma manha sem programa, para pequenas voltas e descanso ao desejo de cada um. Às 14h30 saímos do Heythrop College à procura do nosso autocarro, que nos levou até à catedral.
Fomos confiados a um dos organistas da catedral que nos conduziu à biblioteca onde fizémos o nosso ensaio, deu-nos as folhas de cânticos da assembleia (porque o hino de entrada, o santo e o hino de comunhão eram canto da assembleia), conduziu-nos ao lugar onde o coro canta para um breve ensaio de colocação e treinou connosco os cortejos de entrada e saída.
O coro cantou uma missa renascentista, de Pellegrini, o motete Exultate Iusti de L. Viadanna ao ofertório, o motete Sicut cervus de Palestrina na comunhão e, depois da comunhão, a peça Sangue de Cristo de Manuel Faria, fazendo assim um compromisso entre o estilo da catedral e este apontamento português, numa prestação confiante e segura.
Para mim foi um momento de grande emoção, estar naquele lugar onde, presencialmente ou através de discos, acompanhei tão intensamente a música da catedral, que tem um ‘som’ próprio, indissociável do próprio edifício e da sua vida, mas desta vez do lado de lá, procurando com os meus próprios meios e com os que comigo trabalhavam, levar o som também por nós criado ao local que mais me inspirou. Não queria, verdadeiramente, acreditar que estava ali, ao leme…
A intervenção d coro foi muito apreciada e este organista, Charles Cole, ficou particularmente impressionado com a peça portuguesa e a forma como foi interpretada. Escusado será dizer que a sua prestação foi extraordinária, exuberante a solo mas humilde e atenta na relação com o coro, que apoiou com a máxima disponibilidade. Uns dias depois escrevia-me dizendo: Thank you so much for the wonderful singing at Mass - the choir sounded truly wonderful! E há poucos dias, passando por Lisboa, desejava-me a melhor sorte com o meu maravilhoso coro…
Depois da missa regressámos ao colégio para retemperar forças. O dia seguinte prometia, em quilometros e em concertos.









PS: Uma vez mais, não foram tiradas fotos durante a celebração. Com o entusiasmo, acabámos por ensaiar sem vestes, perdendo a oportunidade de uma foto mais solene num lugar tão especial.