quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Inauguração do novo órgão


No dia 30 de Setembro de 2009 o coro cantou no concerto de inauguração do novo órgão Mathis da Igreja dos Jerónimos.
O concerto era fundamentalmente um concerto de órgão, onde o papel do coro foi sobretudo o de fornecer os materiais para a improvisação, já que o organista convidado, o Prof. Wolfgang Seifen, é um dos mais proeminentes improvisadores e se optou, neste 1º concerto, por não tocar literatura organística.
O programa foi desenhado a partir da estrutura musical de uma missa, cabendo ao coro o intróito, o aleluia e a comunhão gregorianos da Festa de S. Jerónimo, que se celebra precisamente a 30 de Setembro, bem como alguns trechos polifónicos. O órgão, por sua vez, assegurou as grandes intervenções solísticas e alguns apontamentos no stile alternatum (versos do Kyrie e da comunhão, por exemplo).
Só ouvi o novo órgão dos Jerónimos neste dia. Não conta uma missa de Outubro a que fui e em que não notei, no sítio onde estava, qualquer diferença entre o órgão de tubos e o electrónico que estava antes. Mas no dia 30, efectivamente, a escolha do organista não podia ter sido melhor, pois o instrumento, de pequenas dimensões face à escala da Igreja, afirmou a sua presença de forma determinada, com um som poderoso e confiante, conquistando de júbilo todo o espaço à sua volta.
Para mim foi um dia de grande emoção. Não só porque ouvia pela primeira vez, depois de tantos anos de sonho com um órgão de tubos na igreja em cresci, um órgão a sério, ainda por cima de grande qualidade (apesar da dimensão reduzida), mas porque sabia que era o último dia com o coro. Não o ultimo dia com o grupo, com quem falei calmamente no dia seguinte, mas o ultimo dia com aquele instrumento musical fantástico, feito de pessoas dedicadas e empenhadas.
Foi o cálice que decidi beber, dirigindo as ultimas peças, de frente para aquela moldura humana, de pedra, de cores e de cheiros, que era o conjunto do coro com as suas vestes ao fundo da capela mor, onde experienciámos tantos dias de oração e de fruição estética e de onde procurámos proporcionar aos outros os mesmos sentimentos de interioridade ou de alegria.
Depois dos últimos acordes, da ultima frase, da última suspensão, mesmo com o órgão em festa e com as palmas finais da assistência, mergulhei no silêncio do fundo do mar, no qual o protocolo dos parabéns e os votos de felicidades me pareceram já um filme, só com imagem, no qual as pessoas mexiam a boca sem que eu as pudesse ouvir.
Tanto quanto soube, o organista gostou da prestação do coro, e o próprio organeiro me escreveu nos dias seguintes dizendo:
We returned well to Switzerland and we are still impressed and elated of the consecration ceremony in your church.
Mr. Seifen introduced our “latest child” excellent and it was a pleasure to hear the choir singing. I was overwhelmed of the chanting of the chorus, free flowing, musical, but for all that still accurate on the transitions and endings.
Unfortunately I couldn’t find you anymore after the ceremony. You were my first contact in Portugal. You’ve been always very friendly and helpful. Much to my regret, I couldn’t thank you personally, that’s why I do it this way.
E continuava, oferecendo-se para organizar um concerto com o coro, na Suíça, se pensássemos futuramente numa viagem aquele país...
Apesar de tudo, fiquei feliz pela minha última actuação com o coro, pois foi representativa da dignidade, da correcção e da sobriedade com que o coro sempre se apresentou, mesmo quando as condições lhe eram desfavoráveis.
Aparentemente sem nada a ver um com o outro, associaram-se neste dia o nascimento do órgão e a morte do coro.

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Ordenação Episcopal

Um dado muito curioso da história do Coro de Santa Maria de Belém é que, tendo os Jerónimos um coro, este nunca foi convidado para cantar nas ordenações que anualmente têm lugar naquela igreja, em que a música é assegurada por um coro ad hoc, formado por seminaristas, religiosas e outras pessoas que colaboram regularmente na Sé.
Provavelmente não há nenhuma explicação transcendente para isso, mas não deixa de ser digno de registo, como é também de registar que a única excepção a esta regra se deu com a Ordenação Episcopal do actual Bispo de Beja, D. António Vitalino Dantas, porque ao Pe. Cartageno, musico radicado naquela diocese e que conhecia o trabalho do coro de Belém, lhe fez todo o sentido que o coro participasse.
Quando estive em Beja há uns meses encontrei o Sr. Bispo, que simpaticamente recordou essa colaboração, que teve lugar a 29 de Setembro de 1999.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

O último ensaio

No dia 28 de Setembro de 2009 o coro teve o seu último ensaio, precisamente o ensaio geral para o concerto de inauguração do novo órgão. O reportório não constituía qualquer desafio, face ao grau de dificuldade substancialmente mais elevado da maioria das coisas que cantávamos domingo após domingo, mas não deixava de ser, para os coralistas, a preparação de um dia especial, com a tensão que as ocasiões especiais sempre trazem consigo.
Para mim e para as pessoas da direcção do coro, no entanto, este ensaio esteve envolto num turbilhão de emoções, porque sabíamos que era o meu ultimo ensaio à frente do coro.
No fim do ensaio cantaram-me os parabéns, porque era o meu aniversário, mas as nossas vidas já seguiam em direcções diferentes.
As decisões estavam tomadas. Pela parte da paróquia foi-me dito que a mudança do altar tinha a concordância do Cardeal Patriarca e dos serviços competentes da cúria. Não duvidei, nem tinha que duvidar. Pela minha parte, pareceu-me completamente descabido forçar mais a situação. Limitei-me a ser consequente. Assegurei a inauguração, sem estragar a festa, e saí no dia seguinte.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Um órgão para os Jerónimos?


Um órgão de tubos para o Mosteiro dos Jerónimos, foi o tema da campanha lançada em 1996 pela Paróquia de Santa Maria de Belém, sob o forte impulso do seu Serviço de Música Sacra.
Este serviço fora organizado em 1989, imprimindo uma lógica à dinamização musical da liturgia que procurava conciliar o melhor da reforma litúrgica e da pastoral saída do Concílio Vaticano II com a especificidade da igreja-monumento e tudo o que representa a Igreja dos Jerónimos.
Um passo decisivo foi a fundação do Coro de Santa Maria de Belém, em 1990, após a qual emergia como um enorme constrangimento a falta de um órgão de tubos na Igreja dos Jerónimos.
Havia registos de órgãos entretanto desmantelados que teriam estado instalados de cada lado do cadeiral, no coro alto, e ainda encontrámos algumas fotos no arquivo fotográfico municipal. E tanto o Pe. Manuel Valença, nos seus livros sobre os órgãos e a prática organística, como o ex-padre Felicidade Alves (também ex-pároco de Santa Maria de Belém), nos seus livros sobre a Igreja dos Jerónimos, falavam destes instrumentos de grandes dimensões que, à semelhança dos que também estavam instalados no Mosteiro da Batalha e no de Alcobaça, teriam sido desmantelados nos restauros que, um pouco por toda a parte, marcaram a transição do Séc. XIX para o XX, e que procuraram, sucintamente, devolver aos monumentos a sua traça original. Resultado, tal como aconteceu a muitas talhas e estuques dos séc. XVIII e XIX, lá foram os órgãos sabe Deus parar onde.
Estas parcas informações, por um lado, e a reforma litúrgica do séc. XX, desaconselhavam uma solução revivalista que reconstituísse os órgãos barrocos desmantelados. Seria um erro equivalente ao dos restauros que os fizeram desaparecer e perpetuaria a lógica de que só o que é antigo é que conta, é que é história.
A lógica seguida, pelo contrário, partiu da premissa de que é preciso fazer história, no tempo em que nos encontramos, honrando o que herdámos do passado e deixando às gerações futuras senão algo pelo que se possam orgulhar, pelo menos algo que não nos envergonhe.
Ainda me lembro de ter ido dizer isso ao Conselho Pastoral Paroquial, com um caderno que preparámos para informar e entusiasmar os seus membros.
Estávamos profundamente animados, no serviço de música e no coro, pela instalação, recente ou em curso, de novos instrumentos nalgumas igrejas do país, em especial no Porto (Sé, Igreja da Lapa, Igreja Senhora da Conceição, Igreja de Cedofeita), mas também em Leiria (Sé) e Beja (Sé), e tínhamos depois as referências dos órgãos de Paris, de Londres, da Alemanha, da Holanda, dos Estados Unidos, perante as quais me parecia uma profunda anomalia que uma igreja com a importância da dos Jerónimos não tivesse um órgão de tubos.
O mesmo deveria parecer aos milhares de turistas que a visitavam, em especial junto às horas das missas, a muitos dos quais contei vezes sem conta esta história quando me perguntavam onde estava localizado o órgão.
Pessoalmente, estive por dentro da iniciativa inicial, e em muitas reuniões desde as internas às reuniões com o Presidente da República, com o Presidente do IPAAR, com o Ministério da Cultura etc., até há pouco mais de 2 anos, mas a minha perspectiva deste assunto é, naturalmente, apenas uma entre outras possíveis, marcada talvez como nenhuma outra pela ideia subjacente ao Serviço de Música Sacra e à particular articulação com o trabalho do Coro de Santa Maria de Belém.
Constituíram-se duas comissões paroquiais, uma técnica e outra artística, organizou-se uma viagem de estudo à Alemanha, Suíça e Holanda, na qual tive o privilégio de participar, contactando com instrumentos e com oficinas de organaria, lançou-se um pedido de apresentação de propostas a um conjunto de organeiros de topo, tudo com a meta de ter o órgão no ano 2000, em que se assinalava o Grande Jubileu do Ano 2000. Se não o órgão pelo menos a assinatura do contrato.
Mas nem órgão nem contrato. A comunicação com o IPPAR não resultava, limitando-se a paróquia a informar o que ia fazendo e o IPPAR a não designar ninguém para acompanhar o processo com poder de decisão, ou de reunir condições para a tomada de decisões.
Nalguns contactos ao mais alto nível cheguei a ficar convencido de que tudo se resolveria se a Igreja se limitasse a celebrar missas (com órgãos electrónicos, claro) e o estado a restaurar órgãos e a promover concertos.
Muitas questões equívocas atravessaram estes tempos difíceis, em que não se encontrava o consenso suficiente, numa matéria já de si complexa e por isso potencialmente pouco consensual. Talvez a mais relevante tenha sido a do órgão ibérico. Como se sabe, tivemos no passado uma tradição organistica com características próprias de que nos devemos orgulhar, pelo que construir um órgão decalcado dos modelos de outras tradições organísticas seria completamente redutor. Mas também é verdade que a nossa tradição se perdeu nas vicissitudes do Séc. XIX e chegamos no séc. XX ao grau zero do órgão em Portugal. A inversão só se deu pela ligação com o exterior, através de professores estrangeiros que vieram para Portugal e de bolseiros portugueses que estudaram fora de portas.
Não fazia e não faz sentido, por isso, continuar a venerar a ‘alma’ ou o ‘espírito do órgão ibérico’ quando está em questão construir um órgão para a 2ª maior igreja do país, para usos que não eram os do séc. XVIII. É preciso não fazer tábua rasa do passado, mas também não ficar amarrado a esse passado, o que na prática não é fácil nem linear.
Já com projectos na mão e com escolhas possíveis, o assunto não avançava, num contexto institucional em que nem a Igreja nem o Estado pareciam estar à altura de um trabalho suficientemente informado para uma decisão convergente na determinação dos papéis distintos de cada um.
Foi então que surgiu a ideia de um órgão de coro. Não surgiu do nada, pois já se falava desde o início do processo de que, fosse qual fosse a localização do grande órgão (outra questão sempre muito pouco consensual) o coro precisaria de ter um instrumento de apoio junto de si, e havia pelo menos duas hipóteses: ou um positivo ou um órgão de coro, i.e., um órgão com uma dimensão entre os 12 e os 20 registos (ou mais, atendendo à escala do edifício).
Pensando na situação da maior parte das igrejas parisienses, onde há um grande órgão para as intervenções solísticas e acompanhamento da assembleia e um órgão de coro para acompanhamento do coro, de solistas e da própria assembleia em celebrações com menos participantes, a solução de um órgão de coro pareceu ser a forma mais segura de sair deste impasse.
Lembro-me de ter falado com um responsável de um serviço do Estado que me assegurou que esta seria uma questão pacífica e que a paróquia podia avançar. Mas, uma vez mais, a questão não foi pacífica.
A localização desejada para o grande órgão era a parede Norte, naquela zona entre os antigos confessionários e a esquina para o cruzeiro. Tinha a enorme vantagem, sublinhada por todos os organeiros que visitaram a igreja, de ficar mais próxima da acção litúrgica e de todos os seus intervenientes, além de que, do ponto de vista acústico, oferecia melhores garantias de distribuição e retorno do som. Mas tinha contra si a posição daqueles que defendiam a preservação da parece do risco, exactamente o local onde se queria pôr o órgão e onde estão uns riscos importantes para a história do desenho e construção da igreja. Mas a localização do órgão não teria forçosamente que ocultar os tais riscos que, aliás, apesar de tão importantes, nem sequer estão identificados ou iluminados.
Havia depois a hipótese 2, que era o coro alto, onde só havia problemas: desde logo a localização do cadeiral, que não se podia ‘beliscar’, mas que obrigaria à opção por um dos lados ou pelos dois com soluções menos mecânicas, havia depois o problema do peso e da estrutura da varanda, como sobretudo o problema da distância e do retorno, para o qual as paredes mais próximas ficavam a cerca de 100 metros!!! Isto dava um grande folhetim romanesco, pois o Estado chegou a encarregar a igreja de fazer uma prova de esforço à varanda, tendo depois mandado cancelar a experiencia quando já estavam comprados os sacos de areia, etc. Portugal no seu melhor.
Posto isto, não parecia ser difícil de definir que, o lugar para o órgão de coro seria aquele que fosse mais próximo do coro, ou seja, na capela mor. A 1ª pessoa que apontou de forma determinada esta localização foi D. Manuel Clemente, numa vez que foi aos Jerónimos celebrar a missa do aniversário do coro e a autoridade académica e eclesial da sua pessoa deram-nos novo alento.
Mas havia um problema, é que a capela mor praticamente não tinha/tem paredes vazias e é bastante estreita quando comparada com o resto da igreja.
Foi então que, inspirados pela localização recente de um órgão de coro na Capela Sistina, que obedecia a requisitos de mudança rápida de local em caso de necessidade, fomos ao encontro do seu organeiro, o suíço Mathis.
Se era possível ter colocado um órgão num local tão especial como a Capela Sistina, também não haveria de ser impossível instalar nos Jerónimos ao menos um órgão de coro.
O organeiro veio aos Jerónimos, analisou o local e fez uma proposta para o início da capela mor: um órgão de 18 registos, com uma caixa inspirada no ambiente decorativo da capela mor e dos seu túmulos. Tinha portanto as dimensões adequadas para fazer a ligação entre o coro, a assembleia e os outros ministros, podendo naquela localização suportar o mais possível o canto de todos. E tinha também a preocupação de interferir o menos possível com as perspectivas da capela mor vista de frente, uma vez que a caixa tinha pouca profundidade e o órgão se estruturava mais em altura. Chegou a contemplar duas hipótese alternativas para a consola, por causa das perspectivas e da funcionalidade.

Mas a história não ficaria por aqui, pois o IGESPAR (ex-IPPAR) excluiu a hipótese de localização do órgão de coro na capela mor e apontou com alternativa a zona do cruzeiro. Pasme-se: um órgão de coro na zona mais larga e mais alta da igreja, uma zona que sempre excluímos para a localização do coro precisamente por isso. Uma coisa é cantar um motete a cappella com a igreja quase vazia, como fazíamos no cruzeiro no final da celebração de 5ª Feira Santa, outra coisa seria cantar missas inteiras, com a igreja cheia de pessoas (incluindo turistas a falar ao fundo) numa zona tão desguarnecida, e onde estava o enorme estrado de alcatifa com o altar, e que era um autêntico buraco acústico.
Se o local não servia para o coro também não deveria servir para o órgão, mas, se era o único local em que autorizavam a localização do órgão, paciência. Mais valia ter um órgão de tubos mal localizado que não ter nenhum e continuar a fazer a música que se fazia com um órgão electrónico. Mas o mais irónico de tudo era no fundo ter um órgão de coro que não poderia servir como tal, ou seja, que estaria tão longe do coro que dificilmente o poderia acompanhar, porque o coro dificilmente o ouviria e vice-versa naquela disposição.
O que a paróquia então fez foi pedir ao organeiro que reconfigurasse o projecto da capela mor para o cruzeiro, ou seja, que dispusesse sensivelmente o mesmo número de registos numa caixa mais próxima de um cubo, respondendo também às sugestões de um interlocutor do IGESPAR que assim como surgiu também desapareceu nesta etapa do processo. Poderia ter encomendado um órgão de maiores dimensões pois, naquele local, o órgão constituiria sempre um obstáculo visual e, pelo menos poderia ser mais completo na sua intervenção. Poderia por exemplo acompanhar o coro, com recurso a um circuito interno de televisão, como fazem nas catedrais inglesas em que o órgão está ao centro sobre o jubeu, e o coro no cadeiral. Mas não houve informação e/ou vontade e/ou contexto para tal.
Qualquer pessoa poderia antever que, ao chegar um novo elemento àquela zona da igreja, com as características que se configuravam, a tendência seria começar a reorganizar o espaço, a ajeitar as peças, não sendo certo que o resultado final fosse satisfatório e/ou consensual e/ou funcional.
E foi desta forma que se chegou ao ponto a que já pouco se esperava chegar, assinar finalmente um contrato para a instalação de um órgão nos Jerónimos. Eis como o inesperado acontece e com que lógica se constroem grandes empreendimentos. Investindo todo o dinheiro que a comunidade ofereceu para a construção de um grande órgão de tubos (e não só), foi comprado o órgão que lá está hoje, na minha perspectiva um excelente instrumento musical mas uma peça arquitectónica que agride o local e que, apesar do seu carácter móvel, feriu de morte o equilíbrio que havia, ao nível do espaço e ao nível dos intervenientes.
Já pouco acompanhei o processo na fase final porque pedi que me dispensassem quando chegaram a acordo para esta solução, há pouco mais de dois anos. Do ponto de vista organológico o meu contributo era insignificante e perfeitamente colmatado pelo de outras pessoas envolvidas, e a solução para o problema foi posta em tais termos que também não quis ficar com o ónus de não se ter órgão nenhum.
Literalmente afastei-me quando o processo deixou de me fazer sentido, e expressei honestamente que ajudava mais estando afastado do que por perto, pois o que faltava era adjudicar o contrato, construir e instalar o órgão.
Não querendo ser juiz em causa própria creio que este afastamento foi um acto de responsabilidade, como foi a opção musical para a qual orientei o coro no ano seguinte, que tinha por base uma dinâmica mais de alternância do que de acompanhamento. Sem querer estava até a voltar à prática organistica ibérica onde o órgão sempre teve mais um papel dialogante (stile alternatum) que acompanhante.
Em 2008/2009 experimentámos uma prática musical litúrgica onde se passou a ouvir mais o coro a cappella e se remeteu o órgão mais para um papel solístico, sem alterar o esquema das missas só com cantor e órgão. Isto foi feito, uma vez mais na rentrée, sobre a qual temos vindo a falar como um período propício a acções de melhoria, e, também, uma vez mais, com a concordância do Pároco, com base num documento que preparei no Verão de 2008. O recurso desta proposta era, no caso do coro, cantar mais gregoriano e polifonia clássica, nada mais nada menos que pôr em prática as orientações do concílio que permanecem no caso português quase letra morta.
A inauguração que teve lugar a 30 de Setembro de 2009 ilustrou de forma exemplar o sentido desta ‘nova’ prática, pois consistiu num concerto em que o coro cantou o próprio e excertos do ordinário, e em que o órgão assumiu as grandes introduções, os interludios, os momentos de meditação e alguns versos em alternância. A experiência tinha resultado e poderia continuar. O coro adaptara-se a tempo e horas para a mudança. Mas nem todos se preparam com tanta prudência.
Aparentemente estavam criadas as condições para que a organização musical e litúrgica se qualificasse, mesmo continuando sem vislumbrar o grande órgão. Acontece que me fora comunicado pelo Pároco durante o mês de Setembro que o coro tinha de mudar de sítio, não necessariamente para o pé do órgão mas para um sítio não definido, ou seja, o coro tinha de adaptar-se, porque o estrado de alcatifa iria ser retirado e a capela mor voltaria a ser a zona do altar propriamente dita.
Perante a minha recusa em acatar esta decisão sem direito a recurso comuniquei que iria sair e que o coro deveria continuar o seu trajecto. Efectivamente nada de substancial aconteceu no sentido de mudar o curso das coisas e foi neste ambiente que preparei o coro para a inauguração do órgão.

As folhas da assembleia

Continuando a falar das acções de melhoria geralmente implementadas no início do ano pastoral, no regresso do coro à participação regular na liturgia após a interrupção para férias, deixamos hoje uma referência às folhas da assembleia, ou seja, aos subsídios produzidos para apoio à participação da assembleia na liturgia através do canto e da música.
Quem siga este blogue e não tenha conhecido muito de perto o trabalho do coro, até poderá ser levado a pensar que a assembleia não constituia para este uma prioridade. Nada de mais errado. O que se considerou sempre foi que, havendo um coro e uma assembleia, o papel de ambos não deveria ser o mesmo, mas distinto e convergente. E por isso a posição do coro foi sempre a de quem podeira proporcionar à assembleia um nível de participação que não se esgostava no cantar. A esse nível, cantou sempre com esta as respostas no diálogo com o presidente e os refrães que a maioria dos hinos, mesmo os mais elaborados, sempre contemplavam, a pensar no canto da assembleia.
Mas, noutro patamar, tendo o coro a possibilidade de cantar reportório coral, a sua preocupação foi também a de apoiar a participação da assembleia numa perspectiva menos directa mas nem por isso menos importante. Falamos da participação através da escuta orante, do convite à interioridade e à reflexão, que Santo Agostinho ilustrou como ninguém quando disse, numa referência já citada neste blogue: Como eu chorei ao ouvir os vossos hinos, os vossos cânticos, as suaves harmonias que ecoavam pela vossa igreja! Que emoção me causavam! Passavam pelos meus ouvidos, derramando a verdade no meu coração.Um grande impulso de piedade me elevava, e as lágrimas rolavam-me pela face; mas faziam-me bem. (Conf. 9, 6, 14).


Para sustentar esta interacção entre coro e assembleia, que passava por cantar em conjunto as partes da assembleia e oferecer a esta momentos estratégicos de escuta, o coro produziu desde a sua primeira participação numa missa, as ditas folhas da assembleia, que continham basicamente os refrães para o canto directo da assembleia e outros elementos informativos, como o nome das peças que o coro cantava, as traduções de todas as obras que não eram em português e também, a partir de um certo momento, os próprios textos das antífonas e todas as partes que o coro cantava, mesmo em português, para facilitar a compreensão dos mesmos num espaço de grandes dimensões e com uma acústica complexa.

As folhas da assembleia começaram por ser em formato A6, contendo apenas os refrães. As primeiras não tinham logo, mas ao fim de uns tempos adoptou-se o desenho dos Jerónimos, com umas nuvens, que fomos retirar às folhas paroquiais dos anos 60. Ainda me lembro de ver colar quatro imagens numa folha A4, nos tempos em que não havia scaner e era tudo a tesoura e cola.

A inovação começou nos dias de festa com uns cadernos A5 com texto e música dos refrães e traduções de peças em latim, com os títulos Natal em Belém e Páscoa nos Jerónimos, mas também os havia no Pentecostes e num ou outro dia mais solene.
No Jubileu do Nascimento de Cristo produzimos um Guião, impresso em tipografia, com letra e música de refrães para os diversos momentos da missa e para as várias etapas do ano litúrgico. Usou-se ainda depois mais um ano ou dois, numa lógica semenhante ao dos livros de assembleia dos países da Europa do Norte, apenas com a diferença de que não projectavamos o número dos cânticos, mas publicavamo-los na folha paroquial.
As folhas da assembleia não eram produzidas pelo coro mas pelo Serviço de Música Sacra e passaram, desde o ano 2000, a servir todas as missas pelas quais este era responsável.

A seguir ao guião, vieram umas folhas A4 com pautas e títulos graficamente inspirados no Novo Cantemos Todos. Estas folhas continham apenas os cânticos do próprio e ao seu lado foram produzidos uns opusculos A5 com os cânticos do ordinário. As primeiras serviam apenas para cada domingo, enquanto que os segundos ficavam de domingo para domingo só sendo mudados quando mudava o tempo litúrgico. As suas capas tinham cores alusivas ao decurso do ano litúrgico e aos paramentos usados em cada tempo.
As folhas A4, que eram comuns a várias missas, indicando aquilo que se se fazia de comum e de diferente, tiveram depois uma alteração gráfica no sentido de se tornarem menos pesadas, e também para adoptar o logotipo que a paróquia entretanto passou a usar.

Estas folhas só foram substituidas em Setembro de 2008, por umas folhas A4 dobradas (pequeno caderno A5), com todos os textos e músicas dos refrães, e referências às leituras. Era feita uma especial para a missa solene, em que o coro participava, outra para as outras missas e uma que se usava mais de uma semana para a missa da catequese, que tinha um reportório diferente.
Esta ultima modalidade tinha inspiração mais directa nas folhas da Catedral de Westminster, em Londres, enquanto que as anteriores eram mais parecidas com as folhas da Notre Dame de Paris, tal como eram as das Vésperas Solenes, que seguiram sempre um figurino muito parecido com as da catedral parisiense.
A sequência destes diversos subsídios fica para a história como sinal da preocupação com o envolvimento e a participação da assembleia, através do canto e da escuta orante.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

O ensaio de domingo


Outra alteração implementada num dos últimos regressos após férias foi a mudança do ensaio de domingo para a sacristia.
O coro tinha dois ensaios semanais, à 2ª e à 5ª, à noite, no salão do secretariado paroquial. E era também aí que ensaiava aos domingos antes da missa. Mas, enquanto que os ensaios de semana eram momentos tranquilos, apesar de serem no fim de dias de trabalho, os de domingo, pelo contrário, eram bem stressantes.
Primeiro, porque os coralistas estavam mais descontraídos com as horas, depois porque cantar numa igreja como a dos Jerónimos era, mesmo depois de anos de habituação, algo que não podia deixar ninguém indiferente pela responsabilidade que representava.
A missa ao domingo era às 12 horas e nos primeiros anos o ensaio que a precedia era às 10h30.
Resultado: nunca chegava toda a gente a horas e um ensaio de manhã cuja função era basicamente ‘acordar’ as pessoas e sintonizá-las para uma tarefa comum, era constantemente interrompido pelo toque da campainha, e quem vinha mais tarde não chegava a vocalizar. Como acabava pelas 11h30, sobrava uma meia hora que as pessoas aproveitavam para ir tomar café.
Quem não saiba a confusão que Belém é a qualquer dia e a qualquer hora poderá achar tempo mais que suficiente, mas, na verdade, os turistas, as pessoas que saíam da missa anterior, as pessoas que vinham de ver a parada frente ao palácio, já para não falar dos dias em que havia maratonas, feiras e outros arraiais, enchiam por completo os cafés, e os coralistas chegavam à igreja sobre a hora.
A própria igreja era, entre o final de uma missa e o início de outra, um cenário de autêntica batalha campal, pois durante aquela meia hora de intervalo, as pessoas da missa anterior, ao sair, esbarravam em dezenas de grupos de turismo que se acotovelavam à porta esperando sinal para entrar; os guias entravam em competição puxando os seus grupos para os lugares de melhor visibilidade, onde faziam explicações alto e bom som; as pessoas que chegavam à igreja para a missa das 12h encontravam aquele alarido sem terem uma pedra onde reclinar a cabeça e recolher-se por uns minutos; eram feitos avisos aos microfones; rezado o Angelus e a missa começava quase sempre atrasada.
Por tudo isto a entrada do coro na igreja e na celebração era feita, invariavelmente em ponto de tensão e os primeiros minutos, que é como quem diz o intróito e o Kyrie, eram para adaptação.
Poucas melhorias vi neste cenário e já só nos últimos meses antes de sair consegui que fechassem a porta lateral no início da celebração e não no início da homilia, pois esta espalhava pela igreja a luz incandescente da Praça do Império e o reboliço do exterior.
Por tudo isto decidi mudar o ensaio de domingo para a sacristia. Decidi, é claro, não sem antes obter a necessária concordância e autorização do Pároco, como aliás fiz com a dispensa dos microfones ou todas as medidas que tinham mais impacto.
Lembrava-me da primeira vez que fora a Londres, em 1992, ter visto o coro da Catedral de S. Paulo a ensaiar antes da celebração, na própria igreja, já com as vestes corais, enquanto os turistas circulavam ainda, antes de serem convidados a participar na celebração ou a sair. E esse acontecimento, num simples dia de semana de Dezembro em que às 4 horas da tarde já é noite, foi um acontecimento marcante, porque ilustrava o esmero posto na preparação de uma celebração, numa palavra, o valor que as coisas tinham, a música e a celebração.
Nessa linha, passámos a ensaiar às 11h na sacristia (já de cafés tomados) e, pelas 11h40, íamos à igreja ensaiar uns minutos.
Vantagens:
- a sacristia tinha uma acústica agradável, que preparava bem o coro para a transição para a igreja, estimulava o efeito de conjunto e obrigava cada um a dar a sua parte, sem esperar ajudas;
- o coro vestia-se no mesmo espaço onde chegava com chapéus, sacos e casacos, ficando livre e disponível para se concentrar na tarefa de cantar até ao fim da missa (até aí, tinha de passar pela rua entre o ensaio e a missa, o que era particularmente desagradável no Inverno;
- o ensaio na igreja era aproveitado para as ligações mais importantes com o órgão, servia para ‘acordar’ também o organista e pôr o conjunto em sintonia de andamentos, volumes e atitudes;
- finalmente, o coro em ensaio na igreja entrava em interacção com os turistas, o coro preparava-se melhor para as dificuldades, e os turistas faziam menos barulho e mostravam muito interesse pelo que se estava a passar.
Desvantagens:
- antes de ser uma sala de ensaio a sacristia era, precisamente, isso mesmo, uma sacristia, pelo que a convivência dos ensaios com a preparação das missas e todo o movimento de cumprimentos que sempre rodeia os ministros da liturgia não era fácil de gerir, e fazia-nos reconhecer como estes avaliavam tão mal o o esforço de concentração e de envolvimento que o trabalho de um coro implica.
Mas as vantagens eram claramente superiores e a mudança valeu a pena.

Oceanos de Paz

No âmbito das celebrações do Grande Jubileu do Nascimento de Cristo, o coro cantou no dia 24 de Setembro de 2000 na Missa do Encontro Inter-religioso “Oceanos de Paz” que teve lugar nos Jerónimos, presidida pelo Patriarca de Lisboa.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Ouve-se melhor


O recomeço de actividades foi sempre uma oportunidade privilegiada para implementar acções de melhoria. A mais significativa de que me lembro foi a decisão de deixar de usar microfones nas missas dos Jerónimos.
É relativamente consensual entre músicos que a amplificação sonora é um recurso a que só devemos recorrer em espaços de grande escala, onde a audição acústica só por si seja insuficiente, quando se pretenda apoiar a audição de instrumentos com pouca projecção em grandes espaços, como os instrumentos de corda dedilhada, em situações ao ar livre ou então para musica eletro acústica.
Na generalidade das grandes igrejas do ‘mundo civilizado’ os coros cantam sem microfones. Embora haja excepções que nunca me convenceram.
Na Notre Dame de Paris, por exemplo, o coro canta no coro (equivalente à nossa capela mor) de lado e ouve-se de facto muito mal sem recurso à amplificação. Mas um factor determinante é, sem dúvida, o permanente ruído de fundo que sempre existe na catedral, pois nem durante as celebrações é feito qualquer esforço no sentido de condicionar / diminuir o nº de turistas, que deambulam, tiram fotografias e falam alto como se estivessem na rua.
Também não me esqueço de uma missa em que estive na Catedral de Nova Iorque (St. Patricks) em que o coro cantava numa varanda sobre a porta de entrada, excessivamente amplificado. Como a catedral tem colunas bastante grossas, instalaram um circuito de televisão que ora vai mostrando, em grande plano, o leitor no ambão, o bispo na presidência ou na mesa, o coro, o organista. O resultado final é o de estar a ver televisão, ou seja, a ver e a ouvir algo que não se passa no mesmo local onde estamos.
Depois há sempre o exemplo da Basílica Vaticana de S. Pedro, que não serve de exemplo, pois tem uma escala tal que cantar lá dentro é semelhante a cantar na rua. Não há retorno de qualquer espécie.
De resto, tudo aponta no sentido contrário. Na generalidade dos países da Europa do Norte, os coros cantam ao natural. Em Inglaterra a tradição manteve os coros a cantar em cadeirais, que, além de estarem estrategicamente localizados, constituem bons pontos emissores pela sua construção em madeira, configuração em degraus (com respectivas caixas de ar que funcionam como caixas de ressonância).
Em Belém tive, pessoalmente falando, sempre duas lutas.
A primeira era a minha discordância quanto ao modo como eram usados os microfones. O som estava sempre muito alto, em especial o microfone da presidência e o do altar. Talvez porque nesses pontos o retorno fosse menor, mas o resultado final era frequentemente violento. E nem os surdos aproveitavam com a situação pois a embrulhada com o eco da igreja era tal que o resultado era inaudível. Quantas vezes me interroguei como poderia a assembleia receber o som do início de um Sanctus quando acabara de ouvir ‘alto e bom som’, como se estivéssemos num comício, a frase do prefácio que antecede esse canto. Uma das razões pelas quais as intervenções do presidente começaram a ser cantadas, foi, nos primeiros séculos, a necessidade de ser audível, num equilíbrio que tem sempre de se encontrar em cada espaço concreto. Uma coisa diferente é vociferar, cantando ou falando, como se as pessoas entendessesm ou valorizassem mais o que dizemos.
Nunca me esqueço de um conselho que o meu antecessor em Belém, o maestro Celso Correia, me deu quando era ainda jovem. «Nunca cantes forte ao microfone, porque as pessoas assim retraem-se e em vez de cantar ficam caladas.» Estas palavras sábias fizeram-me, ainda no início dos anos 90, terminar com a figura do regente de assembleia, que é, de facto, uma figura acessória e supérflua. Uma coisa é ter um sinal de que é a nossa vez de cantar, outra bem diferente é ter alguém a cortar vento à nossa frente, que muitas pessoas identificam com um factor de distracção e um constrangimento a uma participação orante na liturgia. Mas o conselho esteve sempre presente, quando lidava com o canto individual ao microfone e foi determinante quando dispensei os microfones na intervenção do coro.
A outra luta foi a do turismo. Nunca compreendi porque é que uma igreja dos Jerónimos não fazia daquele que era um dos seus maiores handicaps, o turismo nas horas das celebrações, uma das suas maiores oportunidades, enquadrando as pessoas, convidando os que quisessem participar na liturgia a participar e os restantes a visitar a igreja noutra altura. Esta acção teria naturalmente de ser apoiada com pessoas encarregadas de tarefas concretas na abertura e fecho da igreja, no acolhimento e na manutenção do silêncio. Mas o que tive durante os 20 anos de coro foram celebrações onde o ruído de fundo esteve sempre presente, onde em plena consagração havia flashes fotográficos e pessoas a circular. E como era difícil encher de som um espaço daquele tamanho, produzido por um coro de não cantores, com aquele ruído todo.
Houve o dia em que decidi que o barulho dos turistas não era da minha conta e que não seria à conta de uma amplificação sonora que o coro se haveria de ouvir melhor. E arrisquei. Arrisquei com receio, num momento em que o coro já cantava reportório com envergadura, desafiando-o também para potenciar a sua postura vocal, no sentido de uma audibilidade que não passasse tanto pelo esforço mas pela atitude.
Penso que valeu a pena. Acima de tudo passei, como director do coro, a ser eu que controlava a situação. Antes, sempre que fazíamos um forte a aparelhagem ‘decidia’ que estava alto de mais e reduzia o volume, e quando fazíamos um piano, entendia a tecnologia que não se ouvia e por si só ampliava. Não havia crescendo ou diminuendo que pudesse controlar. Agora sim, sabia que não iriam ouvir muito mas o que ouvissem seria mais verdadeiro e mais autêntico (o que, só por si, me pareceu adequado para as coisas de Deus). O resultado foi magistralmente classificado por um dos empregados da igreja encarregados do som, que, na sua simplicidade concluiu: «não se ouve mais, mas ouve-se melhor».

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Ainda o festival de Órgão


Tendo já retomado os ensaios mais ainda não a participação nas missas dos jerónimos, o coro aproveitou o dia 22 de Setembro de 2002, para duas actuações em Lisboa. De manhã cantou de manhã na Missa do V Festival Internacional de Órgão de Lisboa, organizado pelo Juventude Musical Portuguesa. Nesta missa, que teve lugar na Igreja do Mosteiro de S.Vicente de Fora, o coro teve uma intervenção a cappella, alternada com o magnífico órgão ibérico, pelas mãos do organista João Vaz.
À tarde desse mesmo domingo, o coro cantou numa Profissão Religiosa da Ordem Dominicana, na Igreja de Nª Senhora do Rosário, em Benfica.

domingo, 19 de setembro de 2010

A Ourém... ainda mais devagar


Ainda mais devagar que a deslocação a Cuba descrita no dia 27 de Janeiro, foi o trajecto que o coro fez entre Belém e Ourém, no dia 19 de Setembro de 1998. Com o fim de angariar fundos para as suas actividades, o coro aceitou um convite para cantar num casamento na Sé Colegiada de Ourém. Para não apresentar um orçamento muito caro, devido ás despesas de transporte, houve um coralista que pediu emprestado um mini bus de um colégio. Assim só teriamos de pagar o combustível e apresentar um orçamento mais favorável aos noivos e ao coro. Até aí tudo bem, mas ainda iamos no CCB e já algo parecia estranho. É que o simpático autocarro se deslocava a uma velocidade de tartaruga. Fosse um carro electrico dos antigos e daria para entrar e sair em movimento. Quando iamos a meio da 2ª circular já tinha passado uma boa meia hora. Por sorte a partida foi marcada para bem cedo, mas o coro levou o dia, literalmente, a andar de autocarro para fazer uma simples distância entre Lisboa e Ourém, que, em condições normais, não demoraria mais de uma hora e meia, vá lá, duas, para cada lado. Um dia em cheio.

sábado, 18 de setembro de 2010

Christus vincit


A 18 de Setembro de 2001, o coro cantou nos Jerónimos numa Missa de Requiem em sufrágio pelas vítimas dos atentados terroristas de 11 de Setembro desse ano, em Nova Iorque, e oração pela paz, marcada por um ambiente de profundo recolhimento.
Dois anos mais tarde, a 18 de Setembro de 2003, apresentouse em concerto na Sé de Lisboa, com os organistas António Duarte e João Vaz, no âmbito do Festival de Órgão de Lisboa, com jum programa dedicado ao compositor belga Flor Peeters, de quem executou a Missa in Honorem Sancti Josephi, para coro e órgão, e as peças Song of Joy e Entrada Festiva / Christus vincit para coro, órgão e metais.

domingo, 5 de setembro de 2010

Rentrée


Todos os anos, era com grande entusiasmo que o coro regressava às actividades depois das férias de Verão. Desde logo, porque, com esta interrupção, as pessoas sentiam a falta umas das outras, e, obviamente, também, porque este regresso correspondia ao reinicio dos ensaios e das actuações, ou seja, ao regresso à música.
Habitualmente os ensaios eram retomados a meio de Setembro e as missas já mais no final do mês (em regra, fazíamos 3 ensaios antes da primeira missa), para dar tempo de recuperar a dinâmica do coro de uma forma gradual, desde os horários à postura vocal. As actuações em concertos eram raras em Setembro, e o coro declinava os convites que lhe eram feitos para este mês, até porque alguns chegavam já em pleno Verão, com o grupo disperso em férias. Havia também sempre alguém da direcção que assegurava o expediente e reenviava os recados inadiáveis, mas procurava-se, pelo menos em Agosto, ficar mesmo em stand by.
Para os responsáveis do coro, porém, a rentrée começava mais cedo, com contactos que não podiam deixar de ser feitos, e que incluíam o chamar das hostes corais por carta, com uma palavra de entusiasmo pelo recomeço das actividades.
Foi na rentrée de Setembro que se implementaram medidas importantes, como a de deixar de usar microfones na missa, ou a de passar a ensaiar ao domingo na sacristia em vez de ensaiar no salão paroquial, onde tinham lugar os ensaios semanais, e outras de carácter organizativo relacionadas com pastas, partituras, aviso e justificação de faltas etc.
Pessoalmente, confesso que nunca consegui, na verdade, fazer férias do coro. Não tinha ensaios para preparar e orientar, nem missas para dirigir, nem tinha, de facto, contacto com as pessoas (o que era bom para elas e para mim, na perspectiva de um reencontro mais desejado) mas o meu pensamento vagueava quase diariamente pelo coro, sempre em perspectiva, apontando melhorias e metas. Isso acontecia-me sobretudo nas viagens de Verão, que eram ocasiões precisosas para pesquisa e aquisição de partituras (sobretudo antes da generalização das compras pela net), e ocasiões para estar em importantes igrejas e beber de toda a sua vida cultual e cultural.
Algumas ideias, registava-as em pequenos caderninhos com que costumava aparecer nas primeiras reuniões da direcção. No do ano passado, encontrei esta nota, escrita numa escala em Munique, a caminho de Berlim: «Fazer concerto com CSMB em 2010 com reportório da Evensong + Wesley + Carrapatoso. Aproveitar novo órgão e reforços de Inglaterra. Cantar em vários pontos da igreja.»
Ficou no papel, pois a rentrée de 2009 foi a que trouxe mais novidade. No último dia do mês inaugurava-se finalmente um órgão de tubos nos Jerónimos, não aquele que queriamos no lugar onde queriamos um órgão de coro, mas, sem dúvida um órgão fiável, porque construido por um excelente organeiro. Mas havia outra novidade, inesperada, que era a alteração do espaço litúrgico e a obrigatoriedade do coro encontrar outro local na igreja para cantar que não a capela mór. Face aos termos em que estas condições me foram transmitidas, acabei por apresentar a minha demissão no dia a seguir à inauguração do órgão e um mês e pouco depois a assembleia geral do coro decidiu a sua extinção.