domingo, 1 de agosto de 2010

Westminster


Se a primeira actuação em Londres constituiu uma experiência altamente desafiante, pelas características da Catedral de S. Paulo, sua importância cultural e cultual na cidade e pelo facto de ser a 1ª vez que cantávamos numa Evensong, a segunda actuação (a 1 de Agosto de 2009), desta vez na Catedral de Westminster, não o foi menos, pelo que esta igreja significa no panorama da música sacra, para o mundo católico minimamente informado.
Diria que esta catedral católica tem, em Londres, o nível musical-litúrgico que nenhum Papa conseguiu ter na sua igreja mãe de Roma nos ultimos quarenta anos. Nível e sobretudo concordância com o que a Igreja recomenda em matéria de música litúrgica. Quem conheça a Constituição sobre a Sagrada Liturgia e a Instrução Musicam Sacram, saídas do Concílio Vaticano II, encontra, de facto, nesta catedral londrina, o exemplo mais perfeito da sua concretização, com a prática diária do canto gregoriano e da polifonia clássica, a par de novas composições encomendadas regularmente, num contexto onde se promove esse tesouro inestimável que é a Música Sacra, peça fundamental e integrante do cume para o qual se encaminha a acção da Igreja e fonte de onde provem toda a sua força que é a Liturgia.
A avaliar pelo que vemos à nossa volta, seriamos tentados a pensar que estas recomendações resultaram em pura ficção, mas, de facto, há pelo menos um local no mundo (há muitos outros…) em que elas não são letra morta no relativismo que afecta também a Igreja.
A Catedral de Westminster está localizada em Victoria Street, e é a maior Igreja Católica Romana na Inglaterra e no País de Gales. A construção iniciou-se em 1895, e a catedral foi inaugurada em 1903, mas, por razões económicas, a decoração interior ficou incompleta e tem sido continuada ao longo dos anos. A arquitectura neo-bizantina da igreja torna a catedral num lugar único, com uma nave que é a mais ampla das igrejas inglesas e uma elevação da zona do altar que permite uma visão ininterrupta do altar principal com o seu baldaquino, e a concentração de luz sobre esse local é perfeita.


A missa era às 18h pelo que a preparação para um momento tão especial começou com uma manha sem programa, para pequenas voltas e descanso ao desejo de cada um. Às 14h30 saímos do Heythrop College à procura do nosso autocarro, que nos levou até à catedral.
Fomos confiados a um dos organistas da catedral que nos conduziu à biblioteca onde fizémos o nosso ensaio, deu-nos as folhas de cânticos da assembleia (porque o hino de entrada, o santo e o hino de comunhão eram canto da assembleia), conduziu-nos ao lugar onde o coro canta para um breve ensaio de colocação e treinou connosco os cortejos de entrada e saída.
O coro cantou uma missa renascentista, de Pellegrini, o motete Exultate Iusti de L. Viadanna ao ofertório, o motete Sicut cervus de Palestrina na comunhão e, depois da comunhão, a peça Sangue de Cristo de Manuel Faria, fazendo assim um compromisso entre o estilo da catedral e este apontamento português, numa prestação confiante e segura.
Para mim foi um momento de grande emoção, estar naquele lugar onde, presencialmente ou através de discos, acompanhei tão intensamente a música da catedral, que tem um ‘som’ próprio, indissociável do próprio edifício e da sua vida, mas desta vez do lado de lá, procurando com os meus próprios meios e com os que comigo trabalhavam, levar o som também por nós criado ao local que mais me inspirou. Não queria, verdadeiramente, acreditar que estava ali, ao leme…
A intervenção d coro foi muito apreciada e este organista, Charles Cole, ficou particularmente impressionado com a peça portuguesa e a forma como foi interpretada. Escusado será dizer que a sua prestação foi extraordinária, exuberante a solo mas humilde e atenta na relação com o coro, que apoiou com a máxima disponibilidade. Uns dias depois escrevia-me dizendo: Thank you so much for the wonderful singing at Mass - the choir sounded truly wonderful! E há poucos dias, passando por Lisboa, desejava-me a melhor sorte com o meu maravilhoso coro…
Depois da missa regressámos ao colégio para retemperar forças. O dia seguinte prometia, em quilometros e em concertos.









PS: Uma vez mais, não foram tiradas fotos durante a celebração. Com o entusiasmo, acabámos por ensaiar sem vestes, perdendo a oportunidade de uma foto mais solene num lugar tão especial.

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