A liturgia era a razão de ser de todo este trabalho, pelo que a estas iniciativas se aplicava bem aquele lema beneditino - Ora et labora.
domingo, 28 de fevereiro de 2010
Ora et labora
A liturgia era a razão de ser de todo este trabalho, pelo que a estas iniciativas se aplicava bem aquele lema beneditino - Ora et labora.
quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010
Carnaxide
No dia 24 de Fevereiro de 1995, o coro deu um concerto na Igreja de S. Romão, em Carnaxide, no âmbito da campanha de angariação de fundos para a construção da nova igreja paroquial, hoje já a funcionar na zona do Centro Cívico. Este foi um dos primeiros concertos do coro, que dedicou os seus primeiros anos a consolidar a participação na liturgia, tendo apresentado canto gregoriano e peças de Palestrina, Pitoni, Arcadelt, Lotti, Praetorius, Witt e Mozart.
Para a memória do acontecimento, ficou a breve deslocação para Carnaxide, cada um pelos seus meios. Ainda sem roupas uniformizadas de concerto, as senhoras vestiram mais a rigor, e duas que se deslocaram de táxi tiveram tratamento VIP, pois estavam de tal forma chiques que o taxista não hesitou em sair do carro para lhes abrir a porta com grande vénia. À Alzira Madeira e à Maria Luísa Lopes, que cantam já na Jerusalém do Céu, a nossa gratidão e saudade por tudo o que deram ao coro.
terça-feira, 23 de fevereiro de 2010
Em directo
No dia 23 de Fevereiro de 2003, VII Domingo do Tempo Comum, o coro cantou, como habitualmente, na missa solene dos Jerónimos, às 12h. Destaque nesta data para o X Aniversário da TVI, que transmitiu a missa em directo dos Jerónimos, na qual estiveram presentes a Administração, corpos dirigentes e funcionários daquela estação televisiva. Para além do organista António Esteireiro, que tocava na maioria das celebrações do coro, esta contou também com a participação da violinista Viviana Toupikova.
sábado, 20 de fevereiro de 2010
Quaresma
Em matéria de reportório, os arquivos musicais estão cheios, e os portugueses não fogem à regra, de muito e boa música para a liturgia da Quaresma. Quando comparamos com a música escrita para o Tempo Pascal, por exemplo, vemos que há muito mais reportório para a Quaresma. A ordem de importância dos tempos que constituem o Ciclo da Páscoa é: 1º o Tríduo Pascal, 2º o Tempo pascal (os 50 dias até ao Pentecostes) e por fim a Quaresma. Mas esta, que está no início do ciclo, inspirou sempre muitíssimo os compositores de todos os tempos, e as celebrações a que eram chamados a intervir, compondo e executando, sempre foram muitas e variadas, desde a liturgia propriamente dita aos exercícios de piedade, como a Via Sacra.
Ora um desafio de quem tem de escolher reportório e dar o seu contributo para uma prática musical litúrgica (com critérios…) é enorme e interessantíssimo. O Coro de Santa Maria de Belém e o Serviço de Música Sacra no qual a sua actividade na liturgia estava enquadrada, sempre reforçaram os sinais adequados ao tempo de preparação para a Páscoa que constitui a Quaresma:
1. O silêncio, sem o qual não se consegue ouvir música, não se consegue ouvir o nosso interior e não se consegue ouvir Deus. Na Quaresma, usávamos o silêncio, por contraste, onde nos outros tempos costumavamos ter música instrumental, como no ofertório e na saída.
2. A ausência dos sinais exteriores de alegria, como a ausência do canto do glória e do aleluia, de acordo com os livros litúrgicos, a que era contraposta a escolha de reportório que só se fazia neste tempo e a uma atitude geral conforme a este sinal.
3. A ausência de música instrumental, como forma de criar um espaço para o seu resurgimento na Páscoa, deixava este tempo confiado ao órgão, sobretudo na sua função de acompanhamento, diminuindo e adequando as intervenções solísticas.
4. A preferência pelas formas litânicas cantadas, valorizando o tempo de diálogo que é a Quaresma, expressa sobretudo em 3 momentos: o Kyrie, a Oração Universal e o Cordeiro de Deus.
Estes critérios foram bebidos dos documentos da Igreja e sobretudo dos trabalhos de um Encontro Nacional de Liturgia, realizado em 1984, com destaque para a conferência do Pe. Agostinho Pedroso, que os enunciou numa linha de pensamento que sintetizou nestes pontos:
O Místério pascal é o centro da Liturgia; Canto e música são um gesto vivo antes de ser um código; Participam da dimensão sacramental da liturgia; Não se justapõem simplesmente à celebração mas requrem um trabalho aturado sobre as formas, as funções e os actores da celebração; Devem possuir também uma verdade expressiva e uma autenticidade partindo das bases antropológicas concretas e do universo cultural dos fiéis; Os reportórios do passado e do presente não são bens culturais para orgulhosamente mostrar a categoria duma instituição, mas são possibilidades simbólicas para ajudar uma assembleia a participar, a celebrar.
Foi neste espírito que, na sua última Quaresma, o Coro de Santa Maria de Belém deixou duas marcas fortes neste plano simbólico que veio seguindo e consolidando: o canto do salmo responsorial na versão primitiva do canto gregoriano, usando as formas disponíveis no Graduale Simplex, que são de uma beleza e de uma simplicidade inultrapassáveis, e, um segundo elemento, que foi o assinalar cada domingo com uma peça do reportório da polifonia histórica, exactamente escrita para aquele domingo da Quaresma, e por vezes até no próprio momento ritual em que está prevista, como aconteceu por exemplo com o Oculi mei de Morago, usado como introito do III Domingo.
sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010
Pelos bastidores
segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010
Caldara nos Mártires
Ficaram na memória a ambiência fantástica da igreja e do seu bonito órgão, bem como a eficácia da localização dos músicos no coro alto. Não sendo vistos, não constituem qualquer factor de distracção dos fiéis, além de que a música, produzida sobre uma caixa de ressonância de madeira num plano elevado, se projecta sobre a assembleia com impacto e de forma completamente natural, sem necessidade de recurso a quaisquer meios de amplificação artificial. Há hoje em dia um escrúpulo extemporâneo em relação a este tipo de localização do coro, sob o argumento de que este não parece fazer parte da assembleia, quando, pelo contrário, este proporciona assim à assembleia, como parte dela mas também como grupo especializado com uma função distinta e específica, aquele tipo de participação que também é activa, consciente e frutuosa, mas que apela em primeiro lugar à dimensão interior, antes de se esgotar na dimensão exterior.
Tanto quanto sei, nem o coro da basílica nem estas iniciativas estão já de pé.
Cristo Ontem, Cristo Hoje
sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010
Cursos livres
Os cursos de Órgão, Direcção Coral e Canto Litúrgico tinham os seus tempos específicos e todos participavam também em sessões de conjunto. Os participantes só podiam fazer um curso por ano. No ano seguinte poderiam optar por prosseguir no mesmo ou 'experimentar' outro. É esse o espírito de um curso 'livre'.
Na edição deste ano em referência, o Curso de órgão foi particularmente concorrido e por isso foi preciso constituir duas turmas de Órgão, cada uma com o seu professor e com a sua logística própria. A logística era aliás um ponto chave destas iniciativas, implicando uma adaptação das instalações do Secretariado Paroquial de Belém e o pedido de colaboração a outras entidades para o curso de Órgão, que desta vez contou com os órgãos da Igreja de S. Luís dos Franceses e da Igreja Evangélica Alemã, pois nos Jerónimos não havia ainda órgão de tubos e o turismo dificultaria muito as sessões na igreja.
Colaboraram nesta edição os professores António Esteireiro e António Mário (órgão), Eugénio Amorim (direcção) e José Paulo Antunes (canto litúrgico), respectivamente do Instituto Gregoriano de Lisboa, da Universidade de Aveiro, da Escola Superior de Música do Porto e da Universidade Católica Portuguesa.
Foram sempre marcantes, nestes fins de semana, as conferências do Prof. Paulo Antunes, sobre a Celebração cristã e formas musicais para a liturgia. Quando conhecemos de que modo estão estruturadas as celebrações e porquê, quando conhecemos as diversas formas musicais e a sua adequação aos diferentes ritos, percebemos melhor de qua forma o modo como fazemos música na liturgia afecta a forma como celebramos, e o proveito que todos retiramos da celebração.
domingo, 7 de fevereiro de 2010
O domingo
Não cabe aqui explicar a relevância do domingo na vida cultual e cultural da Igreja, mas, acredite quem está menos familiarizado com estas lides, que é de facto um desafio enorme, seguir domingo após domingo as temáticas das leituras, os cantos sugeridos pelo missal e as orações propostas para cada celebração; procurar reportório adequado às celebrações mas também à capacidade do coro e à natureza do espaço (acústica, histórico-cultural etc.); ensaia-lo e executá-lo com arte e com alma...
Ao longo do ano esta é verdadeiramente uma tarefa ao mesmo tempo apaixonante e extenuante, só viável para quem estiver tecnicamente apetrechado, fôr conhecedor das regras litúrgicas e acreditar efectivamente naquilo que celebra.
Em Belém, muitos domingos, mesmo os do Tempo Comum, eram tão festivos como os dias de festa.
As mesmas fontes musicais não eram tão abundantes em hinos de comunhão, mas o reportório para este momento ritual era também vasto e completado com motetos da música sacra histórica.
Também a aclamação antes do Evangelho foi sempre alvo de uma intervenção festiva, primeiro com codas polifónicas ao aleluia, depois com os júbilos melismáticos dos aleluias do Graduale Triplex.
Por fim, e era aí que estávamos agora, os ordinários gregorianos presentes durante todo o ano, como base acessível até na ausência do coro no período de férias, estavam gradualmente a ser substituídos por missas polifónicas.
O domingo era de tal forma importante que um cantor tinha de avisar com a antecedência de um mês se precisasse de se ausentar (quando lhe bastava avisar com uma semana a ausência a um ensaio). Mas, apesar de todas as justificações, havia sempre imprevistos e avisos de última hora de quem não podia comparecer, o que aumentava a tensão, pois os programas eram sempre exigentes e à hora da missa já estavam reproduzidas as folhas com que a assembleia seguia todo o reportório, com os refrães musicados das partes que lhe competia cantar e as letras do que o coro cantava (incluindo traduções dos textos latinos). Não havia portanto qualquer margem para mudanças de última hora.
Tantas vezes, uma antífona de entrada que demorara dias a ensaiar, se cantava sob o ruído da retirada dos turistas e face à ausência da assembleia retida à procura de estacionamento, à porta da igreja ou na esperança de que a missa começasse uma vez mais atrasada.
Era este o contexto. Mas, no fim da missa, quando o coro atravessava com as suas vestes corais o altar e integrava o cortejo de saída, quando chegava à sacristia e saudava a cruz juntamente com os outros ministros, quando era esperado pelos seus familiares, amigos e admiradores, sentia-se no focus da sua missão. Porque era domingo!