domingo, 28 de fevereiro de 2010

Ora et labora


Já aqui foram referidos várias vezes os Cursos Livres de Música Sacra, promovidos pelo coro no âmbito da área Estudos de Música. A 28 de Fevereiro de 2004, teve lugar o 2º fim de semana dos I cursos livres, com a participação dos professores António Esteireiro, Mª Helena Pires de Matos, Eugénio Amorim e José Paulo Antunes. Este fim de semana incluiu uma visita ao Órgão da Sé de Lisboa, com mini-concerto a cargo dos professores, e uma conferência intitulada «Canto Gregoriano hoje» pela Profª. Maria Helena Pires de Matos A particularidade desta 1ª edição foi haver um curso autónomo de Gregoriano, que já não integrou a 2ª e a 3º edições mas teve depois em 2009 um workshop específico.

A liturgia era a razão de ser de todo este trabalho, pelo que a estas iniciativas se aplicava bem aquele lema beneditino - Ora et labora.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Carnaxide


No dia 24 de Fevereiro de 1995, o coro deu um concerto na Igreja de S. Romão, em Carnaxide, no âmbito da campanha de angariação de fundos para a construção da nova igreja paroquial, hoje já a funcionar na zona do Centro Cívico. Este foi um dos primeiros concertos do coro, que dedicou os seus primeiros anos a consolidar a participação na liturgia, tendo apresentado canto gregoriano e peças de Palestrina, Pitoni, Arcadelt, Lotti, Praetorius, Witt e Mozart.

Para a memória do acontecimento, ficou a breve deslocação para Carnaxide, cada um pelos seus meios. Ainda sem roupas uniformizadas de concerto, as senhoras vestiram mais a rigor, e duas que se deslocaram de táxi tiveram tratamento VIP, pois estavam de tal forma chiques que o taxista não hesitou em sair do carro para lhes abrir a porta com grande vénia. À Alzira Madeira e à Maria Luísa Lopes, que cantam já na Jerusalém do Céu, a nossa gratidão e saudade por tudo o que deram ao coro.


terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Em directo


No dia 23 de Fevereiro de 2003, VII Domingo do Tempo Comum, o coro cantou, como habitualmente, na missa solene dos Jerónimos, às 12h. Destaque nesta data para o X Aniversário da TVI, que transmitiu a missa em directo dos Jerónimos, na qual estiveram presentes a Administração, corpos dirigentes e funcionários daquela estação televisiva. Para além do organista António Esteireiro, que tocava na maioria das celebrações do coro, esta contou também com a participação da violinista Viviana Toupikova.

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Quaresma


I Domingo da Quaresma: Para quem dirige um coro litúrgico aqui começa um itinerário muito sugestivo. Aqui não, mas semanas antes, na preparação próxima, e até meses antes, na preparação remota, onde o reportório trabalhado nos anos anteriores se vai ampliando e diversificando.
Em matéria de reportório, os arquivos musicais estão cheios, e os portugueses não fogem à regra, de muito e boa música para a liturgia da Quaresma. Quando comparamos com a música escrita para o Tempo Pascal, por exemplo, vemos que há muito mais reportório para a Quaresma. A ordem de importância dos tempos que constituem o Ciclo da Páscoa é: 1º o Tríduo Pascal, 2º o Tempo pascal (os 50 dias até ao Pentecostes) e por fim a Quaresma. Mas esta, que está no início do ciclo, inspirou sempre muitíssimo os compositores de todos os tempos, e as celebrações a que eram chamados a intervir, compondo e executando, sempre foram muitas e variadas, desde a liturgia propriamente dita aos exercícios de piedade, como a Via Sacra.
Ora um desafio de quem tem de escolher reportório e dar o seu contributo para uma prática musical litúrgica (com critérios…) é enorme e interessantíssimo. O Coro de Santa Maria de Belém e o Serviço de Música Sacra no qual a sua actividade na liturgia estava enquadrada, sempre reforçaram os sinais adequados ao tempo de preparação para a Páscoa que constitui a Quaresma:
1. O silêncio, sem o qual não se consegue ouvir música, não se consegue ouvir o nosso interior e não se consegue ouvir Deus. Na Quaresma, usávamos o silêncio, por contraste, onde nos outros tempos costumavamos ter música instrumental, como no ofertório e na saída.
2. A ausência dos sinais exteriores de alegria, como a ausência do canto do glória e do aleluia, de acordo com os livros litúrgicos, a que era contraposta a escolha de reportório que só se fazia neste tempo e a uma atitude geral conforme a este sinal.
3. A ausência de música instrumental, como forma de criar um espaço para o seu resurgimento na Páscoa, deixava este tempo confiado ao órgão, sobretudo na sua função de acompanhamento, diminuindo e adequando as intervenções solísticas.
4. A preferência pelas formas litânicas cantadas, valorizando o tempo de diálogo que é a Quaresma, expressa sobretudo em 3 momentos: o Kyrie, a Oração Universal e o Cordeiro de Deus.
Estes critérios foram bebidos dos documentos da Igreja e sobretudo dos trabalhos de um Encontro Nacional de Liturgia, realizado em 1984, com destaque para a conferência do Pe. Agostinho Pedroso, que os enunciou numa linha de pensamento que sintetizou nestes pontos:
O Místério pascal é o centro da Liturgia; Canto e música são um gesto vivo antes de ser um código; Participam da dimensão sacramental da liturgia; Não se justapõem simplesmente à celebração mas requrem um trabalho aturado sobre as formas, as funções e os actores da celebração; Devem possuir também uma verdade expressiva e uma autenticidade partindo das bases antropológicas concretas e do universo cultural dos fiéis; Os reportórios do passado e do presente não são bens culturais para orgulhosamente mostrar a categoria duma instituição, mas são possibilidades simbólicas para ajudar uma assembleia a participar, a celebrar.
Foi neste espírito que, na sua última Quaresma, o Coro de Santa Maria de Belém deixou duas marcas fortes neste plano simbólico que veio seguindo e consolidando: o canto do salmo responsorial na versão primitiva do canto gregoriano, usando as formas disponíveis no Graduale Simplex, que são de uma beleza e de uma simplicidade inultrapassáveis, e, um segundo elemento, que foi o assinalar cada domingo com uma peça do reportório da polifonia histórica, exactamente escrita para aquele domingo da Quaresma, e por vezes até no próprio momento ritual em que está prevista, como aconteceu por exemplo com o Oculi mei de Morago, usado como introito do III Domingo.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Pelos bastidores


A 18 e 19 de Fevereiro de 2006, teve início a 3ª edição dos cursos livres, com o 1º fim de semana de actividades. A organização foi-se afinando nestes encontros, mas a logística nunca deixou de ter a sua escala e a sua complexidade.

Era preciso tirar a maioria das cadeiras do salão, para permitir um espaço mais acolhedor e adaptado à actividade. Essa operação implicava uma limpeza geral, a cargo da Paróquia, depois completada, com o trabalho dos coralistas que varriam, aspiravam, reforçavam nas casas de banho o papel e os desinfectantes, subiam a escadotes para verificar os arrancadores das lâmpadas (para não fazerem ruído), levavam cadeiras para cima e para baixo, montavam a zona do café, arranjavam máquinas e chaleiras, traziam bolos, compravam águas... Verificavam também quadros, marcadores, e estantes, preparavam pastas com materiais (as partituras eram previamente adquiridas, postas on line com uma password só para os participantes e depois organizadas em conjuntos). Fazia-se a identificação das salas, as folhas de presença, os recibos, os certificados...

Os instrumentos eram outra componente importante, passando pelo pedido de empréstimo de um órgão electrónico de uma empresa de Braga até à utilização, com regras e condições previamente acordadas, de órgãos como o das igrejas de Nª Srª de Fátima, S. Luís dos Franceses e Evangélica Alemã. Isto sem esquecer os pianos do secretariado, sempre afinados nestas ocasiões, a clavinova e o órgão da igreja.

Havia depois os responsáveis pela secretaria dos cursos, com entrega de pastas, recibos, certificados e apoio aos participantes. Havia também quem circulasse entre os espaços, em Belém e nas igrejas onde decorriam as sessões de órgão, para ver se estava tudo a correr bem, entregar fotocópias ou fazer a reportagem fotográfica.

Uma preocupação era sempre facilitar o almoço dos professores. Com o turismo em Belém era sempre um stress levar os professores a comer fora, no escasso tempo do intervalo e procurando um nível de satisfação razoável. Por essa razão, experimentou-se neste ano organizar os almoços no secretariado, mais propriamente na residência do Pároco. Mais trabalho para a organização, que confeccionou as refeições, mas o resultado foi mais rapidez, melhor qualidade da comida e oportunidade de convívio entre professores e organização.

Uma palavra é também devida a pessoas que não fazendo parte das direcções do coro ou mesmo do próprio coro, se disponibilizaram para abrir uma porta, assegurar o acolhimento, orientar uma visita guiada à igreja e aos claustros, fazer uma sopa, ou pegar numa vassoura para deixar tudo arrumado no fim.

O fundamental dos cursos foi o seu conteúdo e a mais valia que constituiram para os participantes, que os avaliaram sempre de forma muito positiva. Mas toda esta dimensão organizativa, ficará sempre no imaginário de quantos mais proximamente planearam e desenvolveram estas iniciativas.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Caldara nos Mártires


É difícil encontrar igrejas onde a organização da vida litúrgica e musical demonstrem ser um todo organizado e coerente, em ordem à maior convergência possível entre o Culto e a Cultura, como aconteceu durante duas décadas na Igreja dos Jerónimos. Uma experiência que apontava numa linha semelhante começou a ser desenhada na Basílica dos Mártires, com a fundação da Cappella Olisiponensis in Basilica Martyrum, e a organização regular de missas com a participação especial de grupos vocais e instrumentais convidados, com o apoio do Centro Cultural Franciscano. Foi neste contexto que o coro se apresentou naquela igreja do Chiado a 15 de Fevereiro de 2003, com a orquestra barroca Capela Real, sob a direcção de Stephen Bull, cantando a Missa em Sol M de António Caldara.

Ficaram na memória a ambiência fantástica da igreja e do seu bonito órgão, bem como a eficácia da localização dos músicos no coro alto. Não sendo vistos, não constituem qualquer factor de distracção dos fiéis, além de que a música, produzida sobre uma caixa de ressonância de madeira num plano elevado, se projecta sobre a assembleia com impacto e de forma completamente natural, sem necessidade de recurso a quaisquer meios de amplificação artificial. Há hoje em dia um escrúpulo extemporâneo em relação a este tipo de localização do coro, sob o argumento de que este não parece fazer parte da assembleia, quando, pelo contrário, este proporciona assim à assembleia, como parte dela mas também como grupo especializado com uma função distinta e específica, aquele tipo de participação que também é activa, consciente e frutuosa, mas que apela em primeiro lugar à dimensão interior, antes de se esgotar na dimensão exterior.

Tanto quanto sei, nem o coro da basílica nem estas iniciativas estão já de pé.


Cristo Ontem, Cristo Hoje

No ano 2000 celebrou-se o Grande Jubileu do Nascimento de Cristo, que suscitou um leque de eventos amplo e diversificado. O coro foi convidado para participar numa sessão comemorativa do lançamento do selo do Jubileu, que teve lugar no Mosteiro de S. Vicente de Fora, no dia 15. Na sua curta intervenção, cantou os motetos O magnum mysterium, de D. Pedro de Cristo, e Alma Redemptoris Mater, de Palestrina. E cantou também, como não podia deixar de ser, o afirmativo hino do Jubileu, de Jean Paul Lécot, que viria a cantar depois tantas vezes ao longo do ano, especialmente como hino pós-comunhão – Cristo ontem, Cristo hoje, Cristo sempre meu salvador!. Em Novembro desse ano, o coro organizou nos Jerónimos o Jubileu dos Coros, com a participação de coros de toda a diocese, encerrado com uma missa a que presidiu o Sr. Patriarca.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Cursos livres


12 e 13 de Fevereiro de 2005 foram dias de Cursos Livres de Música Sacra. Estes cursos tiveram 3 edições e cada uma delas estava estruturada em torno de 3 fins de semana ao longo do ano, entre os quais os participantes prosseguiam o estudo individual.
Os cursos de Órgão, Direcção Coral e Canto Litúrgico tinham os seus tempos específicos e todos participavam também em sessões de conjunto. Os participantes só podiam fazer um curso por ano. No ano seguinte poderiam optar por prosseguir no mesmo ou 'experimentar' outro. É esse o espírito de um curso 'livre'.
Na edição deste ano em referência, o Curso de órgão foi particularmente concorrido e por isso foi preciso constituir duas turmas de Órgão, cada uma com o seu professor e com a sua logística própria. A logística era aliás um ponto chave destas iniciativas, implicando uma adaptação das instalações do Secretariado Paroquial de Belém e o pedido de colaboração a outras entidades para o curso de Órgão, que desta vez contou com os órgãos da Igreja de S. Luís dos Franceses e da Igreja Evangélica Alemã, pois nos Jerónimos não havia ainda órgão de tubos e o turismo dificultaria muito as sessões na igreja.
Colaboraram nesta edição os professores António Esteireiro e António Mário (órgão), Eugénio Amorim (direcção) e José Paulo Antunes (canto litúrgico), respectivamente do Instituto Gregoriano de Lisboa, da Universidade de Aveiro, da Escola Superior de Música do Porto e da Universidade Católica Portuguesa.
Foram sempre marcantes, nestes fins de semana, as conferências do Prof. Paulo Antunes, sobre a Celebração cristã e formas musicais para a liturgia. Quando conhecemos de que modo estão estruturadas as celebrações e porquê, quando conhecemos as diversas formas musicais e a sua adequação aos diferentes ritos, percebemos melhor de qua forma o modo como fazemos música na liturgia afecta a forma como celebramos, e o proveito que todos retiramos da celebração.

domingo, 7 de fevereiro de 2010

O domingo


O domingo teve sempre uma importância fundamental para o coro, ou não tivesse sido fundado para a liturgia.
Não cabe aqui explicar a relevância do domingo na vida cultual e cultural da Igreja, mas, acredite quem está menos familiarizado com estas lides, que é de facto um desafio enorme, seguir domingo após domingo as temáticas das leituras, os cantos sugeridos pelo missal e as orações propostas para cada celebração; procurar reportório adequado às celebrações mas também à capacidade do coro e à natureza do espaço (acústica, histórico-cultural etc.); ensaia-lo e executá-lo com arte e com alma...
Ao longo do ano esta é verdadeiramente uma tarefa ao mesmo tempo apaixonante e extenuante, só viável para quem estiver tecnicamente apetrechado, fôr conhecedor das regras litúrgicas e acreditar efectivamente naquilo que celebra.
Em Belém, muitos domingos, mesmo os do Tempo Comum, eram tão festivos como os dias de festa.
Começou por se investir muito nos hinos de entrada em tríptico, com uma antífona a 4 vozes, para coro, um refrão em uníssono para a assembleia e estrofes a vozes para pequeno coro. Com músicas de Ferreira dos Santos, Fernando Lapa e Fernando Valente, na sua maioria, quase todos os intróitos do ano estavam assegurados.
As mesmas fontes musicais não eram tão abundantes em hinos de comunhão, mas o reportório para este momento ritual era também vasto e completado com motetos da música sacra histórica.
Também a aclamação antes do Evangelho foi sempre alvo de uma intervenção festiva, primeiro com codas polifónicas ao aleluia, depois com os júbilos melismáticos dos aleluias do Graduale Triplex.
Por fim, e era aí que estávamos agora, os ordinários gregorianos presentes durante todo o ano, como base acessível até na ausência do coro no período de férias, estavam gradualmente a ser substituídos por missas polifónicas.
O domingo era de tal forma importante que um cantor tinha de avisar com a antecedência de um mês se precisasse de se ausentar (quando lhe bastava avisar com uma semana a ausência a um ensaio). Mas, apesar de todas as justificações, havia sempre imprevistos e avisos de última hora de quem não podia comparecer, o que aumentava a tensão, pois os programas eram sempre exigentes e à hora da missa já estavam reproduzidas as folhas com que a assembleia seguia todo o reportório, com os refrães musicados das partes que lhe competia cantar e as letras do que o coro cantava (incluindo traduções dos textos latinos). Não havia portanto qualquer margem para mudanças de última hora.
Chegar aos Jerónimos na manhã de domingo era outra aventura. Havia quase sempre maratonas, paradas militares, feiras, festas e turistas, milhares de turistas fora e dentro da igreja. Entre o fim da missa das 10h30 e o início da das 12h a igreja enchia-se de grupos de visitantes, com os seus guias a falar alto, e mesmo durante a missa continuavam sempre a circular no sub-coro, marcando presença por uma cadência regular de flashes fotográficos.
Tantas vezes, uma antífona de entrada que demorara dias a ensaiar, se cantava sob o ruído da retirada dos turistas e face à ausência da assembleia retida à procura de estacionamento, à porta da igreja ou na esperança de que a missa começasse uma vez mais atrasada.
Era este o contexto. Mas, no fim da missa, quando o coro atravessava com as suas vestes corais o altar e integrava o cortejo de saída, quando chegava à sacristia e saudava a cruz juntamente com os outros ministros, quando era esperado pelos seus familiares, amigos e admiradores, sentia-se no focus da sua missão. Porque era domingo!

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Na livraria


Como já aqui foi dito, raras foram as vezes em que o coro actuou fora de igrejas. Uma dessas excepções foi o concerto que deu, a 1 de Fevereiro de 2003, na Livraria Barata. Mais do que uma livraria, a Barata é um espaço de referência cultural na Av de Roma e foi precisamente numa das sessões culturais promovidas pela livraria que o coro participou, com um programa a cappella de temática mariana.

O primeiro lugar


O programa dos Estudos de Música incluia sempre uma celebração na Igreja dos Jerónimos, a cargo dos participantes e professores. Os cursos livres, por exemplo, terminavam cada fim de semana com uma missa ou umas vésperas na tarde de domigo.
A partir de 2006, os participantes dos workshops passaram a assegurar a missa solene, ao domingo às 12h, onde apresentavam a peça principal ou conjunto de peças mais relevante que trabalhavam durante o fim de semana.
Há um ano, a 1 de Fevereiro de 2009, a missa do meio dia contou assim com o coro dos participantes do 1º workshop de Iniciação ao Canto gregoriano, com a direcção da Prof. Maria Helena Pires de Matos, que apresentaram o próprio da missa desse domingo do Tempo Comum e a Missa XI.
Ao contrário do que fiz nos outros workshops, em que colaborava no coro, desta vez fui para a assembleia e fiquei a uma distância razoável (quase ao pé da porta lateral) do altar. Algumas pessoas costumavam dizer que o coro se ouvia muito ‘ao longe’ e eu não tinha oportunidade de dirigir o coro e ir para o meio da assembleia ver como soava. Também tinha algum receio, confesso, que a linha de reportório que seguia, onde abundava o canto gregoriano e a polifonia clássica (como aliás recomendam os documentos da Igreja) não interessasse às pessoas e estas não se envolvessem ou pudessem aborrecer-se.
Fiquei agradavelmente surpreendido por perceber que se ouvia bem. Ouvia-se de facto ‘ao longe’ porque a igreja é enorme, mas o que se ouvia conquistava o espaço e soava autêntico. Mas ainda fiquei mais agradado por perceber que as pessoas estavam atentas ao que se passava, procuravam seguir os textos (à minha frente uma criança com a avó partilhavam atentamente a folha com as traduções) e expressavam efectivamente uma participação activa, consciente e frutuosa.
Perto de mim estava um senhor que cantava muito baixinho durante as partes que não se destinavam à assembleia, como o introito e a comunhão. São peças muito elaboradas que, obviamente, ninguém consegue cantar da assembleia, em tempo real, com o coro. Mas aquela espécie de 'nota pedal' que o senhor murmurava transmitia espiritualidade e envolvimento.
Sim, era possível apostar nessa participação que não se pode confundir com activismo, e que não exclui naturalmente outro tipo de participação por gestos, palavras e cantos em que a assembleia não deve ser substituida por ninguém.
Outro ponto positivo foi ter-se cantado nessa missa um salmo do Graduale Simplex. Ao contrário dos elaborados graduais mais tardios, estas melodias primitivas respiram ainda daquela pureza das fontes e a sua cadência orante é acessível a qualquer um. Por isso propusemos e foi aceite que, a partir da Quaresma, se usassem estes salmos na missa solene, uma vez que tinham também um refrão, por sinal bem mais fácil que os dos habituais salmos em português.
Quanto ao papel do gregoriano numa igreja como os Jerónimos, não será demais dizer que é provavelmente a única música que resulta naquele espaço à primeira, pela sua dimensão, pela sua acústica e até pela sua história. Não será por isso demais conferir-lhe, em igualdade de circunstâncias e como estabelece o Concílio Vaticano II, o primeiro lugar.