segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Caldara nos Mártires


É difícil encontrar igrejas onde a organização da vida litúrgica e musical demonstrem ser um todo organizado e coerente, em ordem à maior convergência possível entre o Culto e a Cultura, como aconteceu durante duas décadas na Igreja dos Jerónimos. Uma experiência que apontava numa linha semelhante começou a ser desenhada na Basílica dos Mártires, com a fundação da Cappella Olisiponensis in Basilica Martyrum, e a organização regular de missas com a participação especial de grupos vocais e instrumentais convidados, com o apoio do Centro Cultural Franciscano. Foi neste contexto que o coro se apresentou naquela igreja do Chiado a 15 de Fevereiro de 2003, com a orquestra barroca Capela Real, sob a direcção de Stephen Bull, cantando a Missa em Sol M de António Caldara.

Ficaram na memória a ambiência fantástica da igreja e do seu bonito órgão, bem como a eficácia da localização dos músicos no coro alto. Não sendo vistos, não constituem qualquer factor de distracção dos fiéis, além de que a música, produzida sobre uma caixa de ressonância de madeira num plano elevado, se projecta sobre a assembleia com impacto e de forma completamente natural, sem necessidade de recurso a quaisquer meios de amplificação artificial. Há hoje em dia um escrúpulo extemporâneo em relação a este tipo de localização do coro, sob o argumento de que este não parece fazer parte da assembleia, quando, pelo contrário, este proporciona assim à assembleia, como parte dela mas também como grupo especializado com uma função distinta e específica, aquele tipo de participação que também é activa, consciente e frutuosa, mas que apela em primeiro lugar à dimensão interior, antes de se esgotar na dimensão exterior.

Tanto quanto sei, nem o coro da basílica nem estas iniciativas estão já de pé.


Sem comentários:

Enviar um comentário