
A liturgia era a razão de ser de todo este trabalho, pelo que a estas iniciativas se aplicava bem aquele lema beneditino - Ora et labora.
Este blogue é uma leitura, entre outras possíveis, sobre a história do Coro de Santa Maria de Belém, que existiu entre 1990 e 2009, e que aqui é partilhada, no decurso do ano 2010, ao ritmo do calendário.
No dia 24 de Fevereiro de 1995, o coro deu um concerto na Igreja de S. Romão, em Carnaxide, no âmbito da campanha de angariação de fundos para a construção da nova igreja paroquial, hoje já a funcionar na zona do Centro Cívico. Este foi um dos primeiros concertos do coro, que dedicou os seus primeiros anos a consolidar a participação na liturgia, tendo apresentado canto gregoriano e peças de Palestrina, Pitoni, Arcadelt, Lotti, Praetorius, Witt e Mozart.
Para a memória do acontecimento, ficou a breve deslocação para Carnaxide, cada um pelos seus meios. Ainda sem roupas uniformizadas de concerto, as senhoras vestiram mais a rigor, e duas que se deslocaram de táxi tiveram tratamento VIP, pois estavam de tal forma chiques que o taxista não hesitou em sair do carro para lhes abrir a porta com grande vénia. À Alzira Madeira e à Maria Luísa Lopes, que cantam já na Jerusalém do Céu, a nossa gratidão e saudade por tudo o que deram ao coro.
Ficaram na memória a ambiência fantástica da igreja e do seu bonito órgão, bem como a eficácia da localização dos músicos no coro alto. Não sendo vistos, não constituem qualquer factor de distracção dos fiéis, além de que a música, produzida sobre uma caixa de ressonância de madeira num plano elevado, se projecta sobre a assembleia com impacto e de forma completamente natural, sem necessidade de recurso a quaisquer meios de amplificação artificial. Há hoje em dia um escrúpulo extemporâneo em relação a este tipo de localização do coro, sob o argumento de que este não parece fazer parte da assembleia, quando, pelo contrário, este proporciona assim à assembleia, como parte dela mas também como grupo especializado com uma função distinta e específica, aquele tipo de participação que também é activa, consciente e frutuosa, mas que apela em primeiro lugar à dimensão interior, antes de se esgotar na dimensão exterior.
Tanto quanto sei, nem o coro da basílica nem estas iniciativas estão já de pé.