quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Inauguração do novo órgão


No dia 30 de Setembro de 2009 o coro cantou no concerto de inauguração do novo órgão Mathis da Igreja dos Jerónimos.
O concerto era fundamentalmente um concerto de órgão, onde o papel do coro foi sobretudo o de fornecer os materiais para a improvisação, já que o organista convidado, o Prof. Wolfgang Seifen, é um dos mais proeminentes improvisadores e se optou, neste 1º concerto, por não tocar literatura organística.
O programa foi desenhado a partir da estrutura musical de uma missa, cabendo ao coro o intróito, o aleluia e a comunhão gregorianos da Festa de S. Jerónimo, que se celebra precisamente a 30 de Setembro, bem como alguns trechos polifónicos. O órgão, por sua vez, assegurou as grandes intervenções solísticas e alguns apontamentos no stile alternatum (versos do Kyrie e da comunhão, por exemplo).
Só ouvi o novo órgão dos Jerónimos neste dia. Não conta uma missa de Outubro a que fui e em que não notei, no sítio onde estava, qualquer diferença entre o órgão de tubos e o electrónico que estava antes. Mas no dia 30, efectivamente, a escolha do organista não podia ter sido melhor, pois o instrumento, de pequenas dimensões face à escala da Igreja, afirmou a sua presença de forma determinada, com um som poderoso e confiante, conquistando de júbilo todo o espaço à sua volta.
Para mim foi um dia de grande emoção. Não só porque ouvia pela primeira vez, depois de tantos anos de sonho com um órgão de tubos na igreja em cresci, um órgão a sério, ainda por cima de grande qualidade (apesar da dimensão reduzida), mas porque sabia que era o último dia com o coro. Não o ultimo dia com o grupo, com quem falei calmamente no dia seguinte, mas o ultimo dia com aquele instrumento musical fantástico, feito de pessoas dedicadas e empenhadas.
Foi o cálice que decidi beber, dirigindo as ultimas peças, de frente para aquela moldura humana, de pedra, de cores e de cheiros, que era o conjunto do coro com as suas vestes ao fundo da capela mor, onde experienciámos tantos dias de oração e de fruição estética e de onde procurámos proporcionar aos outros os mesmos sentimentos de interioridade ou de alegria.
Depois dos últimos acordes, da ultima frase, da última suspensão, mesmo com o órgão em festa e com as palmas finais da assistência, mergulhei no silêncio do fundo do mar, no qual o protocolo dos parabéns e os votos de felicidades me pareceram já um filme, só com imagem, no qual as pessoas mexiam a boca sem que eu as pudesse ouvir.
Tanto quanto soube, o organista gostou da prestação do coro, e o próprio organeiro me escreveu nos dias seguintes dizendo:
We returned well to Switzerland and we are still impressed and elated of the consecration ceremony in your church.
Mr. Seifen introduced our “latest child” excellent and it was a pleasure to hear the choir singing. I was overwhelmed of the chanting of the chorus, free flowing, musical, but for all that still accurate on the transitions and endings.
Unfortunately I couldn’t find you anymore after the ceremony. You were my first contact in Portugal. You’ve been always very friendly and helpful. Much to my regret, I couldn’t thank you personally, that’s why I do it this way.
E continuava, oferecendo-se para organizar um concerto com o coro, na Suíça, se pensássemos futuramente numa viagem aquele país...
Apesar de tudo, fiquei feliz pela minha última actuação com o coro, pois foi representativa da dignidade, da correcção e da sobriedade com que o coro sempre se apresentou, mesmo quando as condições lhe eram desfavoráveis.
Aparentemente sem nada a ver um com o outro, associaram-se neste dia o nascimento do órgão e a morte do coro.

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