domingo, 5 de setembro de 2010

Rentrée


Todos os anos, era com grande entusiasmo que o coro regressava às actividades depois das férias de Verão. Desde logo, porque, com esta interrupção, as pessoas sentiam a falta umas das outras, e, obviamente, também, porque este regresso correspondia ao reinicio dos ensaios e das actuações, ou seja, ao regresso à música.
Habitualmente os ensaios eram retomados a meio de Setembro e as missas já mais no final do mês (em regra, fazíamos 3 ensaios antes da primeira missa), para dar tempo de recuperar a dinâmica do coro de uma forma gradual, desde os horários à postura vocal. As actuações em concertos eram raras em Setembro, e o coro declinava os convites que lhe eram feitos para este mês, até porque alguns chegavam já em pleno Verão, com o grupo disperso em férias. Havia também sempre alguém da direcção que assegurava o expediente e reenviava os recados inadiáveis, mas procurava-se, pelo menos em Agosto, ficar mesmo em stand by.
Para os responsáveis do coro, porém, a rentrée começava mais cedo, com contactos que não podiam deixar de ser feitos, e que incluíam o chamar das hostes corais por carta, com uma palavra de entusiasmo pelo recomeço das actividades.
Foi na rentrée de Setembro que se implementaram medidas importantes, como a de deixar de usar microfones na missa, ou a de passar a ensaiar ao domingo na sacristia em vez de ensaiar no salão paroquial, onde tinham lugar os ensaios semanais, e outras de carácter organizativo relacionadas com pastas, partituras, aviso e justificação de faltas etc.
Pessoalmente, confesso que nunca consegui, na verdade, fazer férias do coro. Não tinha ensaios para preparar e orientar, nem missas para dirigir, nem tinha, de facto, contacto com as pessoas (o que era bom para elas e para mim, na perspectiva de um reencontro mais desejado) mas o meu pensamento vagueava quase diariamente pelo coro, sempre em perspectiva, apontando melhorias e metas. Isso acontecia-me sobretudo nas viagens de Verão, que eram ocasiões precisosas para pesquisa e aquisição de partituras (sobretudo antes da generalização das compras pela net), e ocasiões para estar em importantes igrejas e beber de toda a sua vida cultual e cultural.
Algumas ideias, registava-as em pequenos caderninhos com que costumava aparecer nas primeiras reuniões da direcção. No do ano passado, encontrei esta nota, escrita numa escala em Munique, a caminho de Berlim: «Fazer concerto com CSMB em 2010 com reportório da Evensong + Wesley + Carrapatoso. Aproveitar novo órgão e reforços de Inglaterra. Cantar em vários pontos da igreja.»
Ficou no papel, pois a rentrée de 2009 foi a que trouxe mais novidade. No último dia do mês inaugurava-se finalmente um órgão de tubos nos Jerónimos, não aquele que queriamos no lugar onde queriamos um órgão de coro, mas, sem dúvida um órgão fiável, porque construido por um excelente organeiro. Mas havia outra novidade, inesperada, que era a alteração do espaço litúrgico e a obrigatoriedade do coro encontrar outro local na igreja para cantar que não a capela mór. Face aos termos em que estas condições me foram transmitidas, acabei por apresentar a minha demissão no dia a seguir à inauguração do órgão e um mês e pouco depois a assembleia geral do coro decidiu a sua extinção.

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