terça-feira, 9 de março de 2010

Música em Diálogo

No ano de 2008, o coro deslocou-se a Roma para uma 'peregrinação coral', que decidiu dedicar às conexões que, ao longo dos séculos, Portugal e a Cidade Eterna foram mantendo, na área da Música Sacra. Estas conexões referem-se, primeiro, à influência de Palestrina nos polifonistas portugueses, depois aos bolseiros que D. João V enviou a Roma e aos músicos italianos que contratou para Lisboa, entre os quais Domenico Scarlatti e, por fim, à influência do 'estilo romano' em sacerdotes portugueses que na 2ª metade do século XX foram estudar para o Pontifício Instituto Superior de Música Sacra de Roma.
Como forma de preparar a digressão, dedicaram-se os vários encontros de formação e os concertos o 1º semestre a esta temática, sob o título genérico de «Música em Diálogo».
No dia 9 de Março, realizou-se um concerto na Igreja dos Jerónimos que tomou literalmente este título. Participaram o Quarteto Arabesco e o Coro de Santa Maria de Belém que, em vez de ocuparem o 'palco' central à frente do público e actuarem em conjunto, ocuparam cada um o seu estrado, situado frente a frente dos dois lados da Nave Central. E foi assim que, em modalidade antifonal, se alternaram peças vocais e instrumentais dos compositores portugueses e romanos referidos.
Em plena Quaresma, o público teve a oportunidade de escutar ora do seu lado esquerdo ora do seu lado direito, um conjunto de peças adequadas à preparação para a Páscoa, com o retábulo da capela mor como fundo e uma cruz a pontificar todo o espaço.
Habituados a olhar hoje em dia para estas grandes igrejas como auditórios que nunca foram, nem estão acusticamente preparadas para o ser, pouco exploramos as potencialidades espaciais que nos oferecem, o efeito cenográfico de novidade, de movimento e de surpresa com que podemos mais eficazmente nelas comunicar.
Esta foi sem dúvida uma experiência singular e muito gratificante, tanto para os interpretes como para o público.

1 comentário:

  1. As palavras, embora ricas de conteúdo não chegam para transmitir os ambientes criados. A concentração do coro, a beleza dos timbres,a simplicidade e intensidade da interpretação, a magnificência dos lugares e uma organização sempre pormenorizada e exemplar construíram momentos para mim inesquecíveis. A música portuguesa marcou bem fundo a sua presença, pela sua beleza pela interioridade com que o nosso maestro a fez soar. Palavras de apreço ditas por ingleses, que ainda pediram mais música portuguesa, fazem-nos pensar...
    Que portugueses somos nós que não damos o devido valor aos nossos valores? Música excelente tão pouco cantada. Bons intérpretes facilmente deixados cair. Bem hajam todos os que contribuíram. A memória fica viva.

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