terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Fernando Pinto


Este blog, em que se foi narrando ao ritmo do calendário aquela que foi a actividade de quase 19 anos do Coro de Santa Maria de Belém, foi uma iniciativa de Fernando Pinto, director do coro durante toda a sua existência, iniciativa essa que partilhou com Emília Alves da Silva e Miguel Farinha.

Além da divulgação das muitas actividades (celebrações litúrgicas, concertos, digressões, cursos diversos e outros projectos), o blog serviu também para lembrar aqueles que tiveram particular destaque na vida do CSMB. Deste modo, chegados ao final do ano e depois de, ao longo dele, termos percorrido os momentos mais marcantes na vida do coro, achámos que este era o momento adequado para lembrar aquele que foi a alma e o motor da actividade do coro durante toda a sua vida – Fernando Pinto (e com isto, tornar este verdadeiramente o penúltimo post neste blog).

Dotado de uma enorme capacidade de trabalho e um espírito de iniciativa capaz de fazer inveja a muita gente, aliados a uma grande frontalidade (para muitos, mais partidários de “falinhas mansas” e “intrigas de corredor”, porventura incómoda), o Fernando dedicava já a quase totalidade dos seus tempos livres à causa da música da igreja nos Jerónimos (organista, condutor de assembleia, responsável pelo coro da missa vespertina das 19h e director do Serviço de Música Sacra) quando, em 1990, lançou mãos à obra na criação de um coro para a missa solene das 12h. Era então seu objectivo principal criar um coro com capacidade musical digna do espaço excepcional que é a Igreja dos Jerónimos.

O trabalho do Fernando com o CSMB sempre teve por base duas grandes convicções:

1) a de que, em Portugal, em Lisboa e no caso concreto dos Jerónimos, era possível fazer música de qualidade. A exemplo do que em todo o mundo ocidental se passa, nas igrejas maiores e nas catedrais, era possível ter um coro capaz de pôr efectivamente em prática as directivas dos documentos da Igreja em matéria de música – canto gregoriano, polifonia clássica, sem esquecer a música coral de qualidade composta em vernáculo (foi sempre essa a inspiração mesmo quando o coro era ainda muito modesto nos seus primórdios); nunca cedeu a facilitismos ou a músicas de gosto fácil e qualidade duvidosa para agradar a este ou àquele a tudo sobrepondo a qualidade da música e do texto...

2) a de que um trabalho de qualidade, cujo fim último é a “glória de Deus e santificação dos fiéis”, só pode ser feito com um espírito de compromisso (tão pouco habitual nos nossos dias). Daí a sua grande exigência em questões como a pontualidade e a assiduidade dos coralistas – ser voluntário não implica apenas que não há qualquer recompensa material mas tem que implicar entrega à causa (contrariamente ao espírito do voluntário que, por sê-lo, só está quando lhe causa pouco ou nenhum transtorno, com isso deixando para Deus, e neste caso para a música da igreja, apenas o que sobra...).


O trabalho com voluntários e amadores, muitos dos quais sem qualquer preparação musical, foi sempre um dos grandes desafios – uma das maiores limitações mas talvez uma das maiores vantagens (pela sua entrega). E o Fernando soube sempre ser o maior exemplo dessa entrega e dedicação e, com esse exemplo, conseguiu levar longe este projecto excepcional que foi o CSMB, nunca abdicando dos seus princípios...

Dessa forma, raramente lhe faltaram a força e a coragem para impulsionar de forma determinante o desenvolvimento musical do CSMB, elevando sempre o nível das suas intervenções musicais e da sua actividade em geral – repertório exigente para a liturgia, programas de concerto diversificados (muitas vezes apresentando obras esquecidas e de enorme qualidade – por exemplo o Membra Jesu Nostri de D.Buxtehude ou a Missa de S.Jerónimo de M.Haydn cujo efectivo instrumental era uma orquestra de oboés e fagotes...), oportunidades de formação (que começaram por ser sobretudo internas, como os dias de preparação vocal com o Paulo Antunes, mas que com o tempo passaram a ser abertas ao exterior, como nos workshops de polifonia com Owen Rees, de técnica vocal com Ghislaine Morgan ou de canto gregoriano com Mª Helena Pires de Matos), entre inúmeras actividades que idealizou e concretizou com o apoio e empenho de muitos...

Tudo o que estas palavras evocam é apenas uma pálida sombra daquilo que o Fernando deu efectivamente de si próprio no CSMB e fica aqui como um agradecimento que é antes de mais nosso, mas sem dúvida partilhado por muitos que tiveram a oportunidade de com ele trabalhar e assim conhecer o seu enorme entusiasmo e as suas qualidades humanas.

Emília Alves da Silva e Miguel Farinha

1 comentário:

  1. Subscrevendo tudo o que aqui foi dito, também hoje quero deixar aqui expressa a minha gratidão ao Fernando por tudo o que nos deu dele, por ter colocado ao nosso serviço os muitos dons que recebeu.
    Servir a nossa Igreja, durante 28 anos, de uma forma tão dedicada, tão bela, tão exigente e absolutamente gratuita, é modelo para todos nós.
    Trabalhar com ele, durante cerca de 23 anos, foi uma experiência maravilhosa que muito me enriqueceu.
    Bem hajas, Fernando, porque me desafiaste para este teu projecto.
    Que Deus te abençoe!

    Conceição Serejo (São)

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