domingo, 9 de maio de 2010

Deus libertou-nos


A 9 de Maio de 2004 teve lugar o encerramento dos I Cursos Livres de Música Sacra, com umas Vésperas na Capela Mor dos Jerónimos. Estávamos no V Domingo de Páscoa e esta celebração procurou não apenas ser representativa das várias áreas que integraram estes cursos mas também ensaiar uma proposta celebrativa eclética, juntando linguagens diferentes. Para além da clássica alternância entre polifonia e gregoriano, no Dixit Dominus e no Magnificat, a música sacra histórica conviveu lado a lado com canto monódico em português, que é a solução mais usual no canto da Liturgia das Horas em Portugal, e ainda com um inédito composto precisamente para esta celebração, pelo Maestro Eugénio Amorim.
A ideia da ‘encomenda’ era a de uma escrita fora dos tons salmódicos que pudesse enfatizar o próprio texto, inclusivé através do órgão, à semelhança do que acontece no lied com o papel do piano, e resultado foi muito interessante. Depois da antífona – Deus libertou-nos do poder das trevas… – lá veio o salmo 113A com toda a sua vivacidade, ao qual a música se moldou e emprestou vigor: «Os montes saltaram como carneiros, como cordeiros as colinas».
A colaboração de Eugénio Amorim com o Coro de Santa Maria de Belém estendeu-se a outros trabalhos de composição, de forma completamente gratuita e desinteressada, a nosso pedido, para ocasiões especiais e em torno de materiais pre-existentes:
Aquando do programa Natais Populares da Tradição Europeia fez dois arranjos para coro, órgão, quinteto de metais e percursão sobre o «Alegrem-se os céus e a terra» e o «Natal da Índia Portuguesa» (este incorporando uma harmonização de Manuel Faria). Mais tarde adaptou estes trabalhos para coro e órgão em função do primeiro CD do coro.
Pouco tempo depois fez um arranjo sobre um hino eucarístico do Tempo Pascal do Pe. Ferreira dos Santos «O Teu corpo é a nossa salvação, aleluia».
Como se tornou hábito ter uma pequena orquestra na Missa do Galo e na Missa de Domingo de Páscoa, E. Amorim fez-nos também um introduções e harmonizações dos salmos responsoriais para essas orquestras, em função do orgânico que a missa barroca ou clássica executada nessas ocasiões. Foi o que aconteceu com «Hoje nasceu o nosso Salvador» do Pe. Manuel Luís e «Eis o Dia que fez o Senhor» de Ferreira dos Santos.
Finalmente, quando se fez em concerto a Missa de S. Jerónimo de Michael Haydn, procurando reconstituir um pouco uma celebração na Catedral de Salsburg, com recurso a um ofertório do mesmo compositor para a mesma ocasião (a Festa de Todos os Santos), E. Amorim fez também uma reorquestração de uma sonata da Epístola de Mozart para o orgânico peculiar da Missa de S. Jerónimo, uma orquestra de oboés, fagotes, trombones e com as cordas reduzidas a 3 contrabaixos… Estas sonatas foram muito tocadas em Belém e a possibilidade de integrar uma neste programa, reconfigurada, foi uma solução muito especial.
Por toda esta colaboração e pelo empenho posto nos cursos livres, a par de outras colaborações não directamente ligadas com o coro, mas com o contexto da música nos Jerónimos, o nosso renovado obrigado.

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