segunda-feira, 10 de maio de 2010

O último concerto



A 10 de Maio de 2009 o coro deu o seu último concerto nos Jerónimos, sem contar com a participação no concerto inaugural do órgão Mathis uns meses depois, a 30 de Setembro. Foi o último no sentido em que foi, de facto, o último promovido, organizado e cantado pelo coro, como foram tantos outros com a marca CSMB, em 19 anos, com particular destaque para os concertos de reis.
O modelo do Concerto de Páscoa nunca foi, no entanto, tão estável como o do Concerto de Reis.
Durante vários anos, o Concerto de Páscoa teve lugar na tarde de Domingo de Ramos, e ultimamente tinha recuado mesmo para o V Domingo da Quaresma. As peças escolhidas andaram muito em torno dos temas da Paixão (Stabat Mater, Via Crucis, Polifonia da Semana Santa) pelo que era, na verdade, um concerto quaresmal. Mas em 2009 quisemos fazer um Concerto de Páscoa, não no Dia de Páscoa nem no domingo seguinte mas a meio do Tempo Pascal, para valorizar aquela ideia de que a Páscoa não se confina ao 1º domingo, mas é todo o tempo que vai até ao Pentecostes, «pois os cinquenta dias que se prolongam desde o domingo da Ressurreição até ao domingo do Pentecostes celebram-se na alegria e na exultação, como um único dia de festa, mais, como um grande domingo.» (Cal. Romano 22. E assim se cumpria um objectivo sempre presente nos concertos do coro, o de assinalar a vivência dos tempos litúrgicos.
Os obstáculos não foram poucos, ao nível da conciliação de agendas dos intervenientes e da disponibilidade da própria Paróquia quanto a datas e a logística. O modelo de concerto, e as suas implicações ao nível da logística, implicou decisões comparáveis às do Concerto de Reis, e por tudo isso, a sua concretização não foi fácil. E arrojámos fazer o concerto num domingo à noite, o que foi uma verdadeira ousadia, pois Belém á noite fica deserta, e a cidade no geral, começa a preparar-se para a semana de trabalho.
Mas valeu a pena. E a igreja encheu-se uma vez mais.
Num ano que abriu com o Messias de Handel, para assinalar os 250 anos sobre a sua morte, queríamos também celebrar Purcell, passando 350 anos sobre o seu nascimento. Cantar a Páscoa, mais de um mês depois da Semana Santa, e na companhia destes compositores, mostrou-se um desafio irresistível.
Os contactos para a formação de uma orquestra barroca e mobilização de solistas, começaram logo após o Concerto de Reis, e chegou-se a um elenco de grande qualidade, uma vez mais com a colaboração preciosa de Miguel Jaloto.
O programa integrou dois anthems de Handel, da colecção dos Chandos Anthems, e dois de Purcell. De Handel cantou-se «My song shall be alway», a partir do salmo 90 (Cantarei eternamente as misericórdias do Senhor) e «O praise the Lord», sobre excertos dos salmos 116, 134 e 148, todos muito exultativos. Estas duas peças, que eram as mais complexas, foram antecedidas, em cada metade do programa, por dois de Purcell, «O sing unto the Lord», sobre o salmo 95 (Cantai ao Senhor um cântico novo) e «Rejoice in the Lord alway», sobre uma exortação da Carta aos Filipenses (Filip. 4, 4-7) (Alegrai-vos sempre no Senhor).
Foi um concerto extraordinário, e sabendo agora que foi o último, ganha um brilho ainda mais especial na memória. No contexto da sua preparação surgiu o tema do Concerto de Reis de 2010, que não veio a realizar-se, mas que seria ainda com peças de Handel (Four coronation anthems), Purcell e outros compositores, num programa em torno da reconstituição de uma coroação.
Mas a exortação mantém-se: Alegrai-vos sempre no Senhor.

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