terça-feira, 27 de julho de 2010

Canto e Música

Em 2004 falei no Encontro de Nacional de Pastoral Litúrgica sobre O Ministério do Canto e da Música. Já estava a faltar ao encontro há alguns anos, porque manifestamente sentia que a interacção entre o encontro e eu tinha parado. Na área da música, que era a que me dizia respeito, já não ouvia nada de novo, e, por outro lado, havia tudo aquilo com o que entretanto pude tomar contacto em viagens e, tudo um pouco relacionado, a experiência de Belém. Ir falar pela 1ª vez ao encontro, revestiu-se, por isso, de uma responsabilidade enorme. E assim tentei, com humildade mas com assertividade dizer o que pensava do estado das coisas, porque efectivamente me habituei a reflectir sobre elas. Congratulo-me de ter citado várias vezes o eminente teólogo Ratzinger, numa altura em que o seu nome causava ainda algum desconforto em muitos meios eclesiais, um ano antes, portanto, da sua eleição como Papa:
«Deixou-se de lado a grande música de Igreja em nome da 'participação activa', mas essa 'participação' não pode, talvez, significar também o perceber com o espírito, com os sentidos? (...) Não existe nada de 'activo' no intuir, no perceber, no comover-se? Não há aqui um diminuir o homem, reduzindo-o apenas à expressão oral,exactamente quando sabemos que aquilo que existe em nós de racionalmente consciente e que emerge à superfície é apenas a ponta de um iceberg, com relação ao que é a nossa totalidade? (...) Questionar tudo isso não significa, evidentemente, opor-se ao esforço para fazer cantar todo o povo, opor-se à 'música utilitária'. Significa opor-se a um exclusivismo (somente tal música), não justificado nem pelo Concílio nem pelas necessidades pastorais. (...) A única, a verdadeira apologia do cristianismo pode reduzir-se a dois argumentos: os santos que a Igreja produziu e a arte que germinou no seu seio. O Senhor torna-se crível pela magnificência da santidade e da arte, que explodem dentro da comunidade crente. » Card. Joseph Ratzinger, in Diálogos sobre a Fé.
E algumas das minhas recomendações:
1) É necessária uma tomada de consciência e um grande investimento na educação musical e estética dos responsáveis pela música litúrgica;
2) Culto e Cultura são a grande aposta no serviço do desenvolvimento integral do homem;
3) A formação do clero deve promover-se na linha de preparação técnica e estética
continuada, de uma pastoral mais esclarecida, para descobrir talentos musicais na comunidade, distinguir o que tem qualidade e contribuir para o equilíbrio entre os dons e as necessidades;
4) A formação dos outros ministros do canto e da música é fundamental. Sem este investimento nas pessoas não poderemos esperar grandes obras (ao menos um órgão e um bom coro em cada catedral);
5) O papel dos serviços nacionais, diocesanos e paroquiais de música deve ser dinâmico e mobilizador, através de publicações, preparação de tempos litúrgicos e escolas de música;
6) É preciso repensar a participação activa da assembleia;
7) É preciso repensar o lugar da estética na liturgia;
8) É preciso repensar a diversidade dos lugares;
9) É preciso reaproximar a Igreja e os artistas;
10) É preciso devolver à Igreja a defesa e a promoção do património musical sacro.
Tanto quanto sei, foi a primeira vez que um leigo falou sobre música naquele encontro, e, visto a esta distância, penso que fiz um diagnóstico e apontei um programa. Sobre a capacidade de realização, a experiência de Belém fala por si.
A apresentação em power point, que foi ilustrada a cada passo por exemplos musicais, pode ser consultada aqui.

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