segunda-feira, 12 de julho de 2010

A última missa

Nos primeiros anos o coro não fazia férias. A partir de meados de Julho entrava ‘em vigor’ uma escala construida a partir das disponibilidades dos coralistas e em cada domingo ficava um pequeno grupo de 4 a 6 pessoas a assegurar o canto na missa solene. Ainda me lembro de uma pessoa que se candidatou ao coro quando, regressada da Alemanha, encontrou num desses modestos domingos de Verão um ‘padrão’ que correspondia aos seus hábitos e às suas expectativas.
Mas depressa este modelo foi substituido por outro mais simples e mais seguro. À semelhança das outras missas dominicais sem coro, celebradas ao longo do ano, também a missa solene foi confiada, no Verão, a um solista, que substituia, nesse tempo o coro. A escala passou a ser de pessoas individuais (2 a 3 pessoas com vozes preparadas) em vez de grupos. A diferença, relativamente às outras missas, estaria sobretudo no reportório, já que na missa solene se mantinha o ordinário gregoriano que seria cantado pelo coro, se estivesse presente, e havia pequenas peças solísticas no lugar onde o coro cantaria a cappella.
Mas porque fazia o coro férias? Para Deus não há férias, diriam os mais devotos. Pois não. E os coralistas saberiam disso, onde quer que estivessem. Mas a verdade é que os coralistas e as suas famílias tinham férias. A mobilidade era intensa no periodo de Verão. E, para além de tudo, às vezes precisamos de não ter algo para avaliar da sua importância.
Em termos de dinâmica de grupo, passou a ser avaliado como oportuna esta pausa. O regresso em Setembro seria identificado como um período de renovação e investimento numa nova etápa.
Por isso passámos a interromper a presença do coro na missa solene sesivelmente entre 15 de Julho e 15 de Setembro, que era o período onde a maioria dos cantores tinha as suas férias laborais / com a família. A primeira quinzena de Julho já era problemática (aliás, a partir do Pentecostes e dos Santos Populares alguma dispersão era inevitável) e o mesmo acontecia com a ultima quinzena de Setembro e 1ª semana de Outubro, para mais com o feriado do 5 de Outubro. Mas faziam-se todos os esforços para que o coro estivesse consistente na ultima missa antes das férias e na primeira da rentrée.
Foi nesse espírito que, a 12 de Julho de 2009, o coro cantou na missa solene, naquela que viria a ser a sua última missa nos Jerónimos. Excepcionalmente, esse ano seria mais longo, devido à digressão a Inglaterra, mas as coisas foram feitas de forma a aliviar a 2ª quinzena de Julho, interrompendo as missas e alguns ensaios, para que, no fim do mês, uma nova aceleração nos levasse a um dos maiores desafios de sempre, que foi essa digressão.
Ninguém poderia imaginar que fosse a nossa última missa. Pessoalmente, estava longe de ser confrontado com o que fui em Setembro e longe de me demitir do coro. Este, estaria longe de que isso alguma vez pudesse acontecer e do contexto insólito em que tudo aconteceu.
Entusiasmados com Inglaterra (embora preocupados com o surto da Gripe A…), cantámos nesta última missa o Exultate Iusti de Viadana e terminámos com o Sicut cervus de Palestrina. Apesar de tudo, foi o nosso cântico de Simeão.


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