domingo, 25 de abril de 2010

Ghislaine Morgan em Belém


Conheci Ghislaine Morgan em 2005, quando participei no Corso Internazionale per Direttori di Coro e Coristi Cittá di Rimini que anualmente tem lugar em Itália. Entre outras personalidades, esse curso é marcado pela presença de Peter Phillips, que já conhecia das Jornadas do Eborae Musica, e o papel de Ghislaine é fundamentalmente o de preparadora vocal do curso.
Desde esse encontro que não descansei enquanto não foi possível ao Coro de Santa Maria de Belém convidá-la para orientar um workshop sobre técnica vocal para coros, o que veio a acontecer de 25 a 27 de Abril de 2008, e depois, de novo, em Maio no ano seguinte. Queria sobretudo provocar um encontro de trabalho com o coro e abrir essa oportunidade a outras pessoas ligadas aos coros, em especial aos coros de igrejas. Participaram no workshop também pessoas vindas de outros países da Europa e dos Estados Unidos.
Ghislaine é uma comunicadora nata. A sua boa disposição é contagiante e a empatia que cria à sua volta acontece em poucos minutos, com a máxima naturalidade. Mas não seria por isso que valeria a pena convidá-la. O que é verdadeiramente único no seu trabalho, falando para o contexto da música coral em Portugal, é a afirmação de que existe uma técnica vocal própria para coros. Não chega, portanto, a distinção entre vozes preparadas e não preparadas, quando o que está em causa é conseguir uma voz potenciada mas que funda no conjunto. E isso é tão válido para simples coralistas de um coro amador como para os elementos de um coro profissional.
Os seus exercícios de ‘ginástica mental’ são interessantíssimos, numa perspectiva de acordar todos os elementos de que precisamos para cantar e cantar em conjunto. E depois todos os exercícios de respiração e de treino de uma emissão vocal ao mesmo tempo presente e agradável fazem do tempo em que estamos consigo um tempo precioso.
Ghislaine organiza ela própria um curso em Portugal, no verão, em Sintra, mas encontrou no Coro de Santa Maria de Belém um contexto em que se sentia bem. Voltou no ano seguinte, chegando a colaborar num ensaio de preparação para um concerto com os Chandos Anthems de Handel. E já depois do coro acabar não deixou de fazer sugestões para projectos futuros, perplexa sobre o modo abrupto como se perdera toda uma dinâmica.
Quando a conheci, fiquei a perceber porque cantam como cantam muitos coros ingleses de que sou profundamente admirador. E fiquei feliz de poder ter partilhado este tesouro com o coro.
Um coro é bem mais do que um grupo de pessoas que se juntam para cantar. E mesmo os que se lhes associam pontualmente não podem ficar à parte do tempo e do trabalho que se gasta a moldar uma identidade vocal. E quem trabalha para uma identidade vocal, trabalha, mesmo que não pense nisso, para uma identidade de grupo cujo sentimento de pertença vai muito para além da sua existência institucional, quando conquistada uma harmonia que já ninguém pode destruir.

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