quinta-feira, 1 de abril de 2010

Membra Jesu nostri

No dia 1 de Abril de 2007, o coro deu um dos seus concertos mais memoráveis apresentando, nos Jerónimos, a obra Membra Jesu Nostri de Dietrich Buxtehude, no âmbito da comemoração do tricentenário da sua morte.
Memorável por várias razões.
Primeiro porque com a organização deste concerto se deu início a uma colaboração com o cravista Miguel Jalôto, a qual levou à convergência de instrumentistas e cantores preparados para interpretações historicamente informadas. E o conjunto vocal-instrumental conseguido foi de grande qualidade.
Pela mão de Jalôto, conheci a Isabel Nogueira, e não mais me quis ver longe da sua voz e da sua pessoa. Pela primeira vez colaboraram também connosco a fantástica Mónica Santos, discreta mas altamente empenhada e colaborante, e o Manuel Rebelo, que também não mais se afastaria do coro até ao fim. Com o Miguel Farinha, troféu do coro, e a Catarina Saraiva, colaboradora já de longa data, conseguiu-se um quinteto vocal muito equilibrado e integrado. Tão integrado que cantou integrado no próprio coro, do qual saía e entrava, com uma cenografia cuidada, para assegurar as árias, duetos, trios e de novo os tuttis corais.
Em segundo lugar, porque a própria obra é notável.
Tinha de Buxtehude a ideia da solidez da sua obra de órgão, característica do Norte de Alemanha, e que o próprio Bach admirara a ponto de fazer a conhecida jornada a pé para o ouvir na tribuna da Marienkirche de Lübeck. Mas desconhecia, muito sinceramente, este lado afectuoso que emprestou ao poema base desta cantata-concerto, de remotas ressonâncias medievais, sobre os santos membros do corpo de Cristo sofredor. E a descoberta desta obra foi fascinante.
Finalmente, o concerto foi memorável pela forma como o coro se envolveu na sua preparação, organização, e fruiu, do lado do ‘palco’, o prazer de cantar uma obra destas, com estes recursos. À semelhança do que acontecia com os Reis, foi a vivência de todos os dias antes do concerto, inclusivé com a improvisada comemoração do aniversário da Isabel Nogueira, com os dotes culinários da Emília, que o tornaram tão especial.
O coro ficou numa disposição pouco comum, em semi-circulo, à frente do altar, envolvendo os instrumentistas. O resultado, que hoje ainda registamos em cd a partir de uma captação realizada ao vivo, permitiu prolongar estas memórias e os laços que muitos de nós criámos e perpetuámos para além da existência temporal do coro.

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