quinta-feira, 15 de abril de 2010

O Aleluia Pascal


Na Vigília Pascal de 1995, a 15 de Abril, o coro cantou pela primeira vez o tríplice aleluia gregoriano que antecede o Evangelho, uma melodia belíssima que foi recuperada na nova edição do Missal de altar que acabara de ser publicada no ano anterior.
Mas havia uma dificuldade, que perdurou, e que tinha a ver com o ‘como fazer’ este aleluia, uma vez que o missal apenas tem a melodia do aleluia e não sabiamos com que música cantar as estrofes do salmo 117 que está previsto cantar nesse momento.
O Novo Cantemos Todos, que foi um livro do Secretariado Nacional de Liturgia publicado no final dos anos 80 e que seguimos sempre de perto para a organização da música nos tempos litúrgicos (em especial a da assembleia), não tinha ainda este aleluia, mas aquele muito simples, que se usa como aclamação antes do evangelho e que as pessoas costumam chamar de Aleluia Pascal. Na verdade, esse aleluia mais simples é originalmente a antífona de comunhão da Vigília Pascal , aparecendo também como antífona de Laudes do domingo de Páscoa.
Interrogámos músicos , liturgistas, colegas de outros coros, e ninguém tinha propriamente uma solução clara para a questão. À falta de melhor, cantavam primeiro o triplice aleluia e depois seguiam com o aleluia mais simples as estrofes do salmo 117. Essa solução nunca nos convenceu, até pela diferença de modos em que estão escritos, o primeiro aleluia no VIII modo e o mais simples no VI. Por isso criámos uma solução em Belém que foi aplicar ao tríplice aleluia a salmodia do VIII modo para se cantar o salmo. E, porque a Vigília é uma celebração muito importante, usámos a salmodia solene como a que se usa nos introitos (no do Pentecostes, por exemplo) que tem um final belíssimo.
Este aleluia da vigilia é proposto pelo presidente e não pelo coro. É proposto 3 vezes, em tons cada vez mais agudos, do mesmo modo como é cantado o convite à adoração da cruz em Sexta Feira Santa (Eis o madeiro da cruz… vinde adoremos) e as invocações da Liturgia Lucernar mesmo no início da vigilia Pascal (A luz de Cristo… Graças a Deus). E, de facto, todo o crescendo da liturgia lucernar e da Liturgia da Palavra encontrava no canto do aleluia assim feito um ponto alto, não tanto um sinal exterior de festa, que era, mas uma interpelação à festa que brota primeiramente da convicção interior da Ressurreição de Cristo.
Mais tarde, encontrei um aleluia polifónico composto sobre estre triplice aleluia, também com 3 intervenções, cada uma delas um tom subido em relação à anterior. Foi a partir desta composição de G.B.Martini que organizamos este momento ritual de uma forma muito completa, iniciando com o canto do presidente, seguindo depois das 3 invocações gregorianas com a versão polifónica e finalmente o salmo 117, tendo sempre como refrão o aleluia gregoriano, e intervenções solísticas muito festivas por parte do órgão. Foi assim que se fez durante vários anos, como por exemplo em 2006, em que a Vigília Pascal voltou a calhar a 15 de Abril.
Em 2009 retomou-se o esquema do Graduale Triplex, cantando apenas o triplice aleluia seguido do 1º verso do salmo em versão elaborada (Confitemini Domino). Foi assim que vi fazer, há poucos dias, na Catedral de Westminster, em Londres, onde um padre se dirigiu ao Arcebispo e lhe disse antes do aleluia: «Reverendíssimo Padre: trago-lhe uma mensagem de grande alegria – Cristo ressuscitou».

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